Com efeito, o aumento brutal dos preços alimentares à escala mundial fará crescer em centenas de milhões as filas dos famintos e dos que vivem à beira da miséria, reduzirá os consumos populares de alimentos de qualidade, mesmo nos países exportadores.
Esta rebaixa do poder aquisitivo levará, por sua vez, para a redução da demanda e, portanto, adiará a reorganização da produção industrial nos setores envolvidos no consumo popular, incluido o da construção civil, à vez que a especulação financeira sobre o preço dos alimentos e o petróleo criará novos e graves problemas.
Se não forem adotadas medidas estatizando a banca, estabelecendo o monopólio estatal do comércio exterior, impedindo a destrução ambiental que resulta das grandes minas a céu aberto e do extrativismo extremo de minerais fósseis, se não forem desfeitos os grandes trusts cerealeiros, se não se alargarem os mercados internos em países dependentes da exportação (como a China, a India, Argentina e o Brasil, nestes dois casos através de uma indispensável reforma agrária radical), a crise continuará e tornar-se-á mais severa.
Ora bem, os foros sociais mundiais aconselham, sobretudo, aos governos progressistas. Mas estes nem só não põem em causa os interesses do capital financeiro nem das grandes trasnacionais mineiras ou do agronegócio, mas favorecem-nas e apelam para investir mais capitais reforçando a sua atividade depredadora do ambiente e saqueadora dos recursos nacionais. Como plano anticrise apenas são propostas algumas medidas para distribuir as receitas e formas de assistência social ou, no máximo, um capitalismo de Estado, mas não alteram o que se produz, nem como, nem com que custo, nem quais consumos poderiam vir a ser suprimidos e substituidos por outros alternativos, nem são viabilizados quaisquer planos de transformação social e económica a prazo.
Esses governos gerem apenas a crise segundo as necessidades do capitalismo no seu respetivo país. Mas, como as empresas fundamentais e grande parte do capital são estrangeiros, subsidiam sobretudo a esses grandes empregadores em vez de capitalizar e transformar a economia nacional, a qual está sempre sob pressão, pois continua a depender do capital financeiro internacional, que marca o preço dos combustíveis e das commodities, além de ter sob o seu controle a banca. Os grandes capitalistas esperam benefícios do Estado e pressionam os gobiernos progressistas, mas nom os apoiam, porquanto sócios menores do capital financeiro internacional. Os governos referidos, são progressistas porque o seu nacionalismo baliza e, em parte, enfraquece a hegemonia imperialista –sem a qual tornar-se-ia impossível a exploração do capital financeiro e das trasnacionais–, e até porque para fazer isso e enfrentar aos aliados locais do imperialismo apoiam-se indiretamente nas maiorias populares. Mas, por sua vez, significa um entrave para uma alternativa não capitalista e para a organização independiente das referidas maiorias, pois tratam de as encaminhar e controlar através do armação estatal com os seus instrumentos repressivos e as servis burocracias sindicais.
Tradução de André Tabuada Casteleiro para o Diário Liberdade (andre_tabuada[arroba]hotmail.com)Fonte: La Jornada.