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Guillermo Almeyra

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China vs Estados Unidos ou China com Estados Unidos?

Guillermo Almeyra - Publicado: Domingo, 23 Janeiro 2011 01:00

Guillermo Almeyra

Dois dias antes de viajar aos Estados Unidos para encontrar o abatido Barack Obama, o presidente chinês, Hu Jintao, tinha declarado que a proeminência do dólar era coisa do passado e tinha condenado indiretamente sua desvalorização para promover as exportações estadunidenses.


E inclusive, desde faz tempo os chineses consideram com desprezo isso que chamam sempre "nota verde" para sublinharem que o dólar é puro papel pintado. Além do mais, e dado que têm um bilião (um milhão de milhões) de dólares em reservas e 700 mil milhões em títulos do Tesouro dos Estados Unidos e em títulos de investimento estadunidenses, e "só" 300 mil milhões em outras divisas, se decidissem vender seus dólares e colocar suas reservas em outros títulos e moedas, a economia dos Estados Unidos poderia sofrer um duríssimo golpe.

Como as reservas da China aumentam mensalmente com 18 mil milhões de dólares, e já que se calcula que no final desta década -dentro de escassos nove anos- o bilião atual se converteria em dois biliões, não faltou, portanto, quem, levado por uma análise superficial do aspecto monetário do problema, falou da iminência da mudança chinesa a outro padrão monetário, e viam como possíveis candidatos o euro (apesar de que já se via vir a crise européia) e inclusive ao rublo e uma série de moedas dos chamados países emergentes. Não estavam reparando, ao excluírem o político, sem o qual o econômico não existiria, em que, por trás do dólar e da imposição ao mundo de uma moeda que o governo de Washington pode imprimir e depreciar à vontade, a garantia principal era e são, como sempre foram na história de todas as potências, as armas e as tropas do "complexo militar-industrial" que governa os Estados Unidos.

Este país, efetivamente, não é um "tigre de papel", como dizia Mao Zedong, mas sim é um tigre velho, doente, cheio de feridas, ainda que apesar disso continue sendo o animal mais potente da selva capitalista mundial. E, além da hegemonia militar indiscutida (possui mais armas que todos seus possíveis adversários juntos e tem um orçamento militar declarado ou escondido que mais que duplica o de todos eles), possui também a hegemonia cultural. Não será que a China e os chamados "países emergentes" não imitem o modelo produtivo e de consumo dos Estados Unidos, e o capitalismo que está desenvolvendo o Partido Comunista chinês no poder é "decalque e cópia" do ianque?

Isto último não é para nada secundário: no tormentoso passado chinês, todas as invasões que chegavam a dominar o país caíam perante sua cultura e adaptavam-se a ela, porque era superior e assimilava os bárbaros, pois estes eram militarmente mais fortes, mas inferiores na batalha das idéias, dos costumes e as técnicas. Agora, em troca, a China está sendo conquistada pela americanização, sem necessidade de invasão, e a colonização e macdonalização de sua velha cultura é questão gravíssima para a nação asiática, onde nasceu a civilização, e para o mundo todo.

Ora bem: a crise atual é sistémica, do capitalismo, da qual não se sai com mais capitalismo, a não ser mediante uma terrível redução do nível de rendimento e da qualidade de vida dos habitantes do planeta, especialmente dos oprimidos de todo tipo e dos trabalhadores, dizimando a população atual e causando um imenso desastre ambiental ou, então, mediante uma alternativa ao capitalismo apoiada em rebeliões e mobilizações populares em todas as partes.

A China e os Estados Unidos optam pela mesma via capitalista. Os países com muitas reservas, como a China, mas também os emirados árabes do Golfo, julgam com efeito poderem contornar a crise comprando e explorando grande quantidade de terras e grande quantidade de produtos em África ou na América Latina. Isso, além de os converter em colonialistas desses países (que foram colônias até a metade do século passado), leva-os a chocar com os interesses dos Estados Unidos e doutras potências médias, como as européias, ou a trabalharem como agentes de Washington nessas regiões. Além disso, fomenta e consolida o nacionalismo dominador e excludente entre suas respetivas populações e o nacionalismo anticolonial, hoje anti-ianque, depois antichinês, nos países onde compram terras e bens, piorando a vida de seus habitantes.

A China, aliás, sustenta o dólar com suas aquisições de empresas (Hu Jintao fará compras nos Estados Unidos por um valor de 42 mais mil milhões) e sustenta o governo estadunidense, que não pode resolver o problema de seus 47 milhões de pobres, dos 15 milhões de desocupados, dos imigrantes orientais e latinos que se transformam em pretexto para uma nova explosão do racismo e da violência sempre presentes no american way of live, que é excludente, racista, imperialista.

A China, que precisa tempo e dinheiro para desenvolver seu mercado interno e o converter em fator principal de sua economia, que está baseada na exportação, não vai a revalorizar sua moeda porque lho peça Obama (faz isso só a 3 por cento anual), mas vai precisar manter grandes importações de alimentos se quebrar sua estrutura agrária atual aumentando a produtividade no campo e modernizando-o. Isso significa que o custo interno da alimentação será mais caro, que se apresentará um problema maior que o atual com a emigração camponesa à procura de emprego, que o mesmo custo da mão de obra industrial chinesa aumentará. Ou seja, em poucos anos, a China será diferente enquanto os Estados Unidos terão muitos mais problemas que agora. O plano de cooperação a 30 anos oferecido por Obama a Hu Jintao soa demasiado irrealista em perspectiva, ainda que no imediato, a China e os Estados Unidos estejam unidos pela mesma corda capitalista abafante.

Fonte: La Jornada.

Tradução: Diário Liberdade.


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