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Fidel Castro

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Reflexões do companheiro Fidel

O discurso de Obama no Arizona

Fidel Castro - Publicado: Terça, 18 Janeiro 2011 08:38

Fidel Castro

Ontem o escutei quando falou na Universidade de Tucson, onde se rendia homenagem às seis pessoas assassinadas e às14 feridas na matança do Arizona, de modo especial à congressista democrata por esse Estado, gravemente ferida por um disparo na cabeça.


O fato foi obra de uma pessoa desequilibrada, intoxicada pela pregação de ódio que reina na sociedade norte-americana, onde o grupo fascista do Tea Party impôs seu extremismo ao Partido Republicano que, sob a égide de George W. Bush, conduziu o mundo aonde hoje se encontra, à beira do abismo.

Ao desastre das guerras se somou a maior crise econômica na história dos Estados Unidos e uma dívida do governo, que já equivale a 100% do Produto Interno Bruto, o que se une a um déficite mensal que supera os 80 bilhões de dólares e novamente o incremento do número de casas que se perdem por dívidas hipotecárias. O preço do petróleo, dos metais, e dos alimentos se eleva progressivamente. A desconfiança no papel-moeda aumenta as compras de ouro, e não poucos preveem que em finais do ano o preço deste metal precioso se elevará a 2 mil dólares a onça. Alguns creem que inclusive chegará a 2,5 mil.

Os fenômenos climáticos se agudizaram, com perdas consideráveis nas colheitas da Federação Russa, Europa, China, Austrália, América do Norte e do Sul e outras áreas, fazendo perigar o abastecimento de alimentos a mais de 80 países do Terceiro Mundo, criando instabilidade política em um número crescente deles.

O mundo enfrenta tantos problemas de caráter político, militar, energético, alimentar e ambientais, que nenhum país deseja o regresso dos Estados Unidos a posições extremistas que aumentariam os riscos de uma guerra nuclear.

Foi quase unânime a condenação internacional ao crime do Arizona, no qual se via uma expressão desse extremismo. Não se esperava do presidente dos Estados Unidos um discurso exaltado nem de confrontação, que não corresponderia ao seu estilo nem às circunstâncias internas e ao clima de ódio irracional que está prevalecendo nos Estados Unidos.

As vítimas do atentado foram inquestionavelmente valentes, com méritos individuais, e no geral cidadãos humildes; do contrário não teriam estado ali, defendendo o direito à assistência médica de todos os norte-americanos, e opondo-se às leis contra os imigrantes.

A mãe da menina de 9 anos, que nasceu em 11 de setembro, tinha declarado valentemente que ódio desatado no mundo devia cessar. Não abrigo, de minha parte, a menor dúvida de que as vítimas eram credoras do reconhecimento do presidente dos Estados Unidos, assim como dos cidadãos de Tucson, os estudantes da Universidade e os médicos, que como sempre quando ocorrem fatos dessa natureza expressam sem reservas a solidariedade que os seres humanos trazem dentro de si. A congressista gravemente ferida, Gabrielle Giffords, é merecedora do reconhecimento nacional e internacional que a ela foi tributado. A equipe médica continuava hoje dando noticias positivas sobre sua evolução.

Contudo, faltou ao discurso de Obama a condenação moral da política que inspirou semelhante ação.

Eu tratava de imaginar como teriam reagido homens como Franklin Delano Roosevelt diante de um fato semelhante, para não mencionar Lincoln, que não vacilou em pronunciar seu famoso discurso en Gettysburg. Que outro momento espera o presidente dos Estados Unidos para expressar o critério que, estou seguro, a maioria do povo dos Estados Unidos compartilha?

Não se trata de que falte uma personalidade excepcional à frente do governo dos Estados Unidos. O que converte em histórico um presidente que foi capaz de chegar por seus méritos a esse cargo não é a pessoa, mas a necessidade dele em um momento determinado da história de seu país.

Quando começou ontem seu discurso se observava que estava tenso e muito dependente das páginas escritas. Logo recobrou a serenidade, o domínio habitual do cenário e a palavra precisa para expressar suas ideias. O que não disse foi porque não quis dizer.

Como peça literária e elogio justo aos que o mereciam, pode-se outorgar-lhe um prêmio.

Como discurso político deixou muito a desejar.

Fidel Castro Ruz

13 de janeiro de 2011


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