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Fidel Castro

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Reflexões do companheiro Fidel

Sem violência e sem drogas

Fidel Castro - Publicado: Sexta, 14 Janeiro 2011 20:46

Fidel Castro

Ontem, analisei o atroz ato de violência contra a congressista norte-americana Gabrielle Giffords, no qual 18 pessoas foram atingidas pelas balas; seis morreram e outras 12 foram feridas, várias delas de muita gravidade, entre elas a congressista, que levou um tiro na cabeça, colocando o time médico sem outra alternativa do que tentar preservar-lhe vida e evitar, no possível, as seqüelas da criminosa ação.

 


A menina de nove anos que morreu tinha nascido no mesmo dia em que as torres do World Trade Center foram destruídas, e era destacada em sua escola. A mãe declarou que era preciso pôr termo a tanto ódio.

Lembrei uma dolorosa realidade que, com certeza, faria preocupar a muitos norte-americanos honestos que ainda não foram envenenados pela mentira e o ódio. Quantos deles sabem que a América Latina é a região do mundo com maior desigualdade na distribuição das riquezas? Quantos conhecem dos indicadores de mortalidade infantil e materna, perspectivas de vida, atendimento médico, trabalho infantil, educação e pobreza que prevalecem nos outros países do hemisfério?

Apenas me limitarei a assinalar o indicador da violência, a partir do fato detestável que aconteceu ontem no Arizona.

Já sublinhei que, cada ano, milhares de emigrantes latino-americanos e caribenhos, que se deslocam para os Estados Unidos, perseguidos pelo subdesenvolvimento e a pobreza, são presos e muitas vezes separados, inclusive, de familiares próximos e devolvidos aos países de origem.

O dinheiro e as mercadorias podem cruzar livremente as fronteiras, repito; os seres humanos, não. Contudo, as drogas e as armas cruzam sem cessar em uma e outra direção. Estados Unidos é o maior consumidor de drogas no mundo e, por sua vez, o maior fornecedor de armas, simbolizadas na mira publicada no site de Sarah Palin, ou no fuzil M-16, exibido nos cartazes eleitorais do ex-fuzileiro Jesse Kelly, com a mensagem subliminal de disparar o carregador completo.

Será que a opinião pública dos Estados Unidos conhece os níveis de violência na América Latina, ligada à desigualdade e à pobreza?

Por que não se divulgam os dados pertinentes?

Em um artigo do jornalista e escritor espanhol Xavier Caño Tamayo, publicado no site ALAI, se publicam dados que os norte-americanos deveriam conhecer.

Embora seu autor seja céptico, quanto aos métodos utilizados até hoje para vencer o poder acumulado pelos grandes narcotraficantes, o artigo fornece dados de um valor indubitável, que tentarei sintetizar em poucas linhas.

"…Os 27% das mortes violentas do mundo acontecem na América Latina, ainda que sua população não chegue a 9% do total do planeta. Nos últimos dez anos, 1,2 milhão de pessoas morreu violentamente na região.

"Violentas favelas ocupadas pela polícia militar; chacinas no México; desaparecidos forçosos; assassinatos e massacres na Colômbia […] A maior taxa de assassinatos do mundo ocorre na América Latina."

"Como explicar essa realidade tão terrível?"

"A resposta é fornecida por um estudo recente da Fundação Latino-americana das Ciências Sociais. O relatório mostra que a pobreza, a desigualdade e a falta de oportunidades são os fundamentos principais da violência, ainda que o narcotráfico e o tráfico de armas ligeiras ajam como aceleradores da criminalidade assassina."

"Segundo a Organização Ibero-americana da Juventude, metade dos mais de 100 milhões de jovens latino-americanos, de 15 a 24 anos, não tem trabalho nem possibilidades de ter. […] segundo a Comissão Econômica para a América Latina e o Caribe (CEPAL), a região tem um dos mais altos indicadores de emprego informal em jovens, além de que um em cada quatro jovens latino-americanos não trabalha nem estuda."

"Segundo a CEPAL, nos últimos anos, a pobreza e a pobreza extrema, na América Latina, afetaram e está afetando 35% da população. Quase 190 milhões de latino-americanos. E, segundo a OCDE, uns 40 milhões mais de cidadãos caíram ou cairão na pobreza na América Latina, antes de acabar este ano 2010."

"Segundo as Nações Unidas, existe pobreza quando as pessoas não podem satisfazer, para viver com dignidade, necessidades básicas: alimentação suficiente, água potável, viver debaixo de um teto digno, atendimento sanitário essencial, educação básica... O Banco Mundial quantifica essa pobreza acrescentando que é pobre extremo aquele que mal vive, com menos de um dólar e um quarto por dia."

"Conforme o Relatório sobre a riqueza mundial 2010, publicado por Capgemini e Merrill Lynch, as fortunas dos latino-americanos ricos […] cresceram 15% em 2009. […] nos últimos dois anos, as fortunas dos latino-americanos ricos cresceram mais do que as de qualquer região do mundo. São 500.000 ricos, segundo o relatório de Capgemini e Merrill Lynch. Meio milhão contra 190 milhões. […] se poucos entesouram muito, muitos carecem de tudo."

"…existem outras razões para explicar a violência na América Latina […] pobreza e desigualdade sempre têm a ver com a morte e a dor. […] por acaso é uma casualidade que […] 64% das oito milhões de mortes por câncer no mundo aconteça nas regiões de rendas mais baixas, nas quais, aliás, só se dedica 5% do dinheiro à luta contra o câncer?

"Falando com o coração e fitando-nos aos olhos, você acha que poderia viver com um dólar e um quarto por dia?", conclui Xavier Caño sua análise.

As notícias sobre a chacina do Arizona ocupam hoje as manchetes principais da mídia norte-americana.

Os especialistas do Centro Médico da Universidade do Arizona, em Tucson, mostram-se cautamente otimistas. Elogiavam o trabalho do pessoal de socorro, que permitiu auxiliar a congressista 38 minutos depois do disparo. Tais dados eram conhecidos através da internet, entre as 18h e as 19h de hoje.

Segundo eles, "a bala penetrou pela parte frontal, bem próxima à massa encefálica, pelo lado esquerdo da cabeça."

"Pode seguir instruções simples, mas sabemos que a inflamação cerebral provocaria um giro desfavorável", afirmaram.

Explicam os detalhes de cada um dos passos dados para controlar a respiração e diminuir a tensão no cérebro. Acrescentam que a recuperação poderia levar semanas ou meses. Os neurocirurgiões, em geral, e as especialidades ligadas a esta disciplina, acompanharão com interesse as informações que emanem dessa equipe.

Os cubanos acompanham de perto tudo o que se relaciona com a saúde; soem estar bem informados e ficarão contentes também com o sucesso desses médicos.

Do outro lado da fronteira, sabemos os extremos a que chegou a violência nos Estados mexicanos próximos, onde também há excelentes médicos. Porém, não são poucas as ocasiões em que a máfia do narcotráfico, equipada com as armas mais sofisticadas da indústria bélica dos Estados Unidos, penetra nos salões de operações para rematar.

A mortalidade infantil de Cuba é menos de 5 em cada mil nascidos vivos; e as mortes por atos de violência, menos de 5 em cada cem mil habitantes.

Embora ofenda nossa modéstia, constitui um amargo dever salientar que nosso país bloqueado, ameaçado e caluniado, demonstrou que os povos latino-americanos podem viver sem violência e sem droga. Inclusive, podem viver, e assim aconteceu durante mais de meio século, sem relações com os Estados Unidos. Isto último, nós não o temos demonstrado; eles é que demonstraram isso.

Fidel Castro Ruz

9 de janeiro de 2011

19h56


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