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Diego Bernal

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Apelidos galegos: ecos de queixume

Diego Bernal - Publicado: Segunda, 08 Março 2010 00:44



Diego Bernal

Citava no anterior artigo Carvalho Calero. No entanto, contra a inércia do movimento normalizador galego, restituía seu segundo apelido com a forma autóctone Caeiro. 


Este meu atrevido agir levou umha amável leitora a me dar, nom sem razom, umha puxom de orelhas. Advertia-me que as posturas do associacionismo cultural mais avançado respeitavam o apelido do ilustre professor.

O comentário da antedita rapariga, de nome Aldara, fijo-me cismar...   

O fenómeno migratório implicou, ocasionalmente, a adaptaçom de nomes e apelidos alóctones às características fonéticas da pertinente língua nacional.

Assim, a actriz galega Maria Casares, que tivo a honra de protagonizar Les Infants du Paradis (O Bulevard do Crime), eleito pola intelectualidade gaulesa como o melhor filme francês do século XX, aparece nos créditos grafado Maria Casarès. Os chineses emigrados no Estado espanhol costumam mudar seus nomes polo comum António, nos territórios de fala espanhola e galega, e Joseba e Jordi nos de fala basca e catalá.

Estas mudanças, embora se acentuassem significativamente nas últimas décadas devido ao elevadíssimo grau de migraçons, venhem de velho, abofé.

O apelido Juega, que tanto tem ensarilhado cérebros de onomasticistas, pode servir-nos de exemplo. Juega, parece um antropónimo castelám ou castelanizado. Eis a armadilha da onomástica. Hoje sabemos que Juega é adaptaçom feita por escrivaos espanhóis da pronúncia galega, com gheada, do apelido Wegang, de origem bretá.

Todas estas alteraçons som consentidas. Lógico. A exilada, filha de Casares Quiroga, o emigrante,  cidadao chinês, ou o aventureiro bretom procuram o mesmo: adptar-se à comunidade à que chegam. Ao adaptarem seus nomes ou apelidos, renunciam a parte da identidade familiar, mas em troca recebem doses de naturalizaçom necessárias para a integraçom no novo país.  

Ora bem, o caso galego é  bem diferente.

Ao igual que a toponímia, os nossos apelidos sofrêrom umha bárbara castelanizaçom e, decote, umha ignorante deturpaçom. Estas investidas contra a cultura galega nom cesárom até o século XX.

Celso Emílio Ferreiro sempre se queixava de que seu apelido materno Miguês era pronunciado e grafado fatigosamente Míguez.

Tinha razom Celso Emílio.

Nunca entendim nem partilhei o desleixo mostrado por grandes vultos da cultura galega, especialmente desde a entrada em vigor das leis que permitem a fácil reabilitaçom dos apelidos galegos, de nom os corrigirem pola forma legítima.

Muito mais comum é galeguizar o nome de pia. Porém, os nomes som ligeiros como penas, seguem modas temporárias e venhem e vam à vontade. 

Os apelidos procedem do fundo buraco da história. Achegam-nos às raízes do que somos. Gándara mergulha-nos de cheio no indoeuropeu e causa-nos vertigem. Outros, simplesmente, nos ensinam curiosidades. Maradona nom era italo-argentino se nom galego-argentino; e algum como Barata dam liçons a quem empobrecia a riqueza léxica galega achando cascuda a única forma própria de aquém Minho.

Nom existe justificaçom para que personagens públicas, escritores e escritoras, catedráticos e catedráticas, académicos e académicas, políticos e políticas, que se dim defensores da cultura galega, conhecedores como som da nossa história, nom reabilitem este património imaterial tam maltratado pola imposiçom cultural castelá.

Os apelidos som umha herdança nom dos nossos pais e maes, senom dos pais e maes destes e à sua vez de estoutros e assim até nos cansar. Som património nom pessoal, mas de todo um povo. Todavia, umha simples sábia e sensível mao, esta sim, individual, pode contribuir a apagar os protestos e desgostos que, lá longe, algum dos nossos familiares emitiu e sentiu quando a administraçom castelhana lhe alterou, sem o seu consentimento, o valioso tesouro que lhe deram seus pais: seus apelidos. Eu ainda ouço o eco desse queixume.


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