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Laerte Braga

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Cheiro de crise – Os desafios para Dilma

Laerte Braga - Publicado: Quarta, 10 Novembro 2010 15:44

Laerte Braga

Terminada a totalização dos votos das eleições presidenciais de 2010 a primeira atitude de José Serra, passados os momentos de raiva e frustração, foi viajar para a França e participar de um seminário com a presença de lideranças de extrema-direita de várias partes do mundo, inclusive o ex-presidente colombiano Álvaro Uribe, apontado pelo Departamento antidrogas do governo dos EUA, como ligado ao tráfico internacional.


O fato em si, a participação do candidato derrotado nas eleições presidenciais brasileiras não significa nada, mesmo porque um dos presentes protestou contra as declarações de Serra, uma espécie de rosário de pragas atiradas contra o futuro governo de Dilma Rousseff.

O encontro, esse não, mostra o nível de articulação de forças de extrema-direita em todo o mundo na tentativa de formular estratégias e táticas de luta contra governos que contrariem ou desafiem a chamada nova ordem política e econômica mundial, assentada no neoliberalismo, no culto ao deus mercado e que tem como centro os Estados Unidos da América do Norte.

Se para um jornalista começa a parecer óbvio que essa nova ordem dilui e faz desaparecer o conceito básico de nação, transformando-as todas em conglomerados maiores ou menos, políticos e econômicos, uma espécie de Idade Média da tecnologia, para um cientista político um fato desse porte será visto com maior clareza.

O congresso e Serra são só detalhes.

O ex-presidente norte-americano George Walker Bush, num programa de televisão em seu país, convidado para falar sobre seus oito anos de governo e especificamente sobre sua autobiografia e a invasão e ocupação do Iraque, é outro reflexo da reação e ação dessas forças, ou da ação e reação dessas forças diante de realidades consideradas inaceitáveis para a nova ordem.

Bush reaparece em cena logo após a derrota do atual presidente Barack Obama em eleições chamadas de "meio de mandato". O primeiro presidente dito negro dos EUA perdeu a maioria na Câmara dos Representantes, vários e importantes governos estaduais e terá que governar em parceria com os republicanos indicando, à primeira vista, que é presidente de um mandato só.

Crises econômicas são como que vitaminas para o capitalismo, ainda que possam parecer o contrário. Fazem parte de uma política de eugenia destinada a eliminar entraves e obstáculos, levando em conta que seres humanos nessa lógica perversa do modelo econômico de Washington, são números, nada além de números.

Obama não foi capaz de devolver o poder de fogo aos grandes grupos empresariais de seu país, como não percebeu que o governo Bush transformou os EUA num grande conglomerado de empresas. Está aquém, pelo menos até agora, do desafio que lhe foi imposto, ou das perspectivas de prosperidade que acenou em campanha para os cidadãos norte-americanos, essencialmente os excluídos.

Hoje, nos EUA, boa parte da população vive ou na linha da pobreza ou abaixo dessa linha e a classe média é uma ilusão devastada pela nova ordem, via de regra histérica em partidas de basquete e basebol, sem saber direito o significado ou a direção da bola. Nem sempre a que cai na cesta é cesta.

"A estupidez do arsenal capaz de destruir o mundo cem vezes" sustenta o império. A frase é de Hans Blinx, inspetor da Agência Internacional de Energia Nuclear, ao comentar a decisão de Bush de invadir e ocupar o Iraque.

Negócios, apenas negócios, mais de 200 mil civis iraquianos morreram nessa barbárie. O ex-presidente Bush disse na tevê que todas as vezes que se lembra do fato, do "equívoco" de imaginar que Saddam Hussein dispusesse de armas químicas e biológicas, "sinto enjoos". Sobre desculpas nada. Seria como atribuir a culpa aos que o assessoravam e, na sua opinião, eram pessoas que desejavam garantir a segurança da "América".

América para Bush cinge-se aos EUA.

Por isso permitir técnicas como o falso afogamento para obter confissões foi uma "decisão patriótica".

A eleição de Dilma Rousseff no Brasil foi um revés para os EUA.

A perspectiva de integração latino-americana soa como se trombetas estivessem anunciando o fim dessa "América" concebida por Bush. Daí não faz a menor diferença que um político financiado e ligado ao tráfico de drogas seja aliado, caso de Uribe. Ou que na Colômbia se assassine inocentes a todos os dias para apresentá-los como guerrilheiros e receber a recompensa do Tio Sam.

É um desafio para Dilma.

A lenta, mas constante transformação do continente europeu (exceção da Rússia) numa espécie de museu cercado de bases militares norte-americanas por todos os lados (OTAN), o caos na África e os fracassos no Afeganistão, curiosamente, transformam China e EUA em duas potências que aparentemente competem, mas têm o mesmo objetivo. A supremacia nesse conglomerado de empresas que vai substituindo o que conhecemos como nações.

O terrorismo político imposto ao Oriente Médio através de Israel e de governos árabes corruptos (Egito, Arábia Saudita, Jordânia, etc), assegura mais, bem mais que o massacre genocida contra palestinos. Assegura boa parte das reservas de petróleo do mundo.

Nesse tabuleiro um piparote, um peão mexido de determinada forma, atira o Brasil num fosso difícil de sair e que, para isso, vai exigir uma extraordinária escalada, ou operação de resgate que se pode comparar a que salvou mineiros no Chile.

Somos a bola da vez na ofensiva dessa conglomerado.

A nova presidenta vai enfrentar desde desafios internos, àqueles que implicam em acomodar partidos e figuras fisiológicas em seu governo, ao de estabelecer políticas capazes de manter a fórmula de Lula "o capitalismo à brasileira", tanto quanto dar o salto indispensável através de mudanças estruturais capazes de transformar todo o conjunto de feitos sociais de Lula em parte do processo político brasileiro, hoje um País dividido segundo os interesses das oligarquias e com o controle da mídia privada.

Matar um leão por dia vai ser o problema de Dilma.

Perceber que mesmo reformas que se dão no debate intramuros de partidos e grupos políticos e econômicos, vai ser necessário criar mecanismos de participação popular, logo de confronto (as elites não estão dispostas a abrir mãos de privilégios, mostraram isso durante a campanha eleitoral), ou o governo cairá na mesmice de uma fase exitosa, mas finda (Lula), sem o passo seguinte.

Num Brasil em que a maior empresa de comunicação – GLOBO – faz questão de ressaltar que a vitória de Dilma se deveu apenas aos pobres e marcou num mapa o espectro ideológico desses pobres, incentivando o preconceito, é importante relembrar quem em 1972, em plena vigência da ditadura militar, um estudo a ONU apontava que será difícil aos brasileiros manter a integridade territorial no futuro dada a diversidade de interesses existentes nesse País de dimensões continentais.

São as garras dos conglomerados e sobre elas Al Gore já deu a pista quando disse que a Amazônia não é só responsabilidade dos brasileiros (que o diga Marina Silva, nova aliada desses interesses estrangeiros).

História não se faz num período presidencial. Mas escorregões contribuem para que o futuro não seja o desejado. O que Serra foi dizer em Paris é que mesmo perdendo, é possível retomar a agenda de extrema-direita, de políticas de conglomerados.

Uma das percepções de Dilma terá que ser a que não se governa com figuras como Eike Batista à sombra, destruindo um estado, Santa Catarina, onde as elites se imaginam parte do continente Europeu.

Isso é problema delas, não do povo catarinense e muito menos dos brasileiros.


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