Mostra o preconceito dos "donos" do País contra a mulher, o que, por sua vez, se estende a todos os que nesses últimos oito anos se viram incluídos no processo político e econômico por conta de ações do governo Lula.
A presunção e a arrogância da verdade absoluta. Só disfarça o caráter perverso e escravagista das elites.
O cunho religioso que tomou conta do debate eleitoral no fundo esconde apenas busca de mais poder. De maiores privilégios. Soa chantagista, cúmplice de um modelo político que vai sendo rompido gradativamente e abrindo caminho a uma ampla e desejada participação popular no processo político e nesse caminho quebrando barreiras impostas secularmente à grande maioria dos brasileiros.
Esse debate religioso soa a falso moralismo. O maior líder religioso do Brasil nos últimos anos foi Chico Xavier. Um líder espírita (não sou espírita). Teria se transformado num dos homens mais ricos do País só com os direitos autorais de seus livros.
Vivia modestamente numa casa comum, abriu mão de todos aqueles direitos em benefício da obra religiosa e assistencial que coordenava. Sustentava-se com o básico, o indispensável.
Em tempo algum teve coleção de carros antigos, ou direitos autorais de CDs gravados por grandes multinacionais da música, muito menos programas de televisão ou aparições em shows cercados de tecnologia do embuste.
A padroeira do Brasil, que um dia teve sua imagem chutada por um tresloucado, é negra.
Chico Xavier soma-se a D. Hélder Câmara que designado arcebispo de Olinda e Recife deixou de viver no palácio episcopal e foi morar numa casa nos fundos do tal palácio, transformando-o em centro de amparo material e espiritual aos que assim o necessitavam.
Há um número expressivo de líderes religiosos com atitudes semelhantes. A imensa maioria perseguida ou ignorada pelas elites que buscam de forma desesperada recuperar o governo do Brasil e arrematar o processo de venda de todas as riquezas nacionais.
Em 1964, quando boa parte da cúpula da Igreja Católica Romana se mostrou favorável ao golpe de estado dos militares a soldo das elites e dos EUA, um cardeal, por exemplo, Carlos Vasconcelos Mota se opôs à ditadura.
E na luta contra o regime militar, bárbaro, estúpido, anti nacional, muitos sacerdotes e bispos caíram diante da tacanha e violenta "ordem" que tomou conta do Brasil durante 20 anos.
Quando havia um papa no sentido que aplicamos à palavra, ou ao título, o governo brasileiro – ditadura militar – mandou sondar Paulo VI sobre a eventual prisão do bispo Pedro Casaldáliga. A resposta foi simples – "toquem num fio de cabelo de Casaldáliga e estarão tocando em mim" –. Foi à época do assassinato do padre Burnier, vítima da ditadura.
Celso Furtado, um dos grandes vultos da História do Brasil, dizia que a maior revolução do século XX foi a "feminista". No sentido da conquista da liberdade política e econômica da mulher. Deixa de ser coadjuvante e passa a ser protagonista.
Transformou-se em bem mais que uma simples partícipe do processo de vida de uma nação como um todo. Milhões de donas de casa se viram num dado momento com os direitos revelando novas responsabilidades e a um ponto tal que são sustentáculos da própria ordem política, econômica e social.
Tirem a mulher do cenário político, econômico e social e o País desaba.
Há dias foi veiculado pela televisão um anúncio de um determinado modelo de automóvel. No filme da propaganda a mulher presenteia o marido com aquele carro, para que ele possa cumprir suas funções domésticas. Levar e buscar os filhos na escola, fazer compras no supermercado, coisas assim. O casal vizinho, na lógica de estimular o consumo, espiando de esguelha, apresenta um marido deprimido. Pede um tempo.
É uma forma de apropriação do status da mulher, parte viva do dia a dia seja de um casal, seja de um país como o nosso.
As elites não aceitam a mulher e o tosco modo de pensar de setores da extrema-direita, rude, tosco, mas deliberado, não concorda com a hipótese que o Brasil possa ser governado por uma mulher.
Na história construída desde a chegada de Cabral, entendem que lugar de mulher é na cozinha e obrigação de mulher é dirigir-se ao seu companheiro como "senhor meu marido", ou "senhor sei lá o que".
Não é uma questão cultural com o aspecto que emprestam a essa palavra.
É ignorar o papel extraordinário que a mulher exerce em cada tijolinho de todo o cotidiano de todos nós.
O modelo se apropria inclusive da própria característica revolucionária dessa participação, para tentar adequá-la às suas vontades, transformando a mulher em objeto. Em melancia, pera, etc.
Objeto sexual, objeto de exploração no trabalho. É o que o modelo vende.
Fonte: Pátria Latina.