Venho há muito elogiando a Política Externa do governo do PT. Apesar de alguns erros e de falhas significativas (relacionadas ao Sri Lanka, Sudão e etc) e de algumas propostas discutíveis - a idéia de não condenar Estados criminosos e preferir o diálogo -, a política externa tem sido não só soberana e independente, mas também tem sido uma política invejável, de potência.
Se o sonho do Conselho de Segurança não se concretizou ou mesmo não se concretizará, o fato é que a política externa deixou uma marca. O Brasil teve papel preponderante na crise de Honduras, praticamente salvou a vida do presidente deposto. O acordo Brasil-Irã-Turquia é um marco. E a tentativa de mediação no conflito Israelo-Palestino é uma forma de trazer fato novo e buscar destravar as conversações.
O Brasil, hoje, tem credibilidade internacional, mais que isto, é ator preponderante, respeitado e até mesmo convidado para todas as rodadas importantes.
Mas o Plínio acredita que o Brasil deva abandonar todas estas posições.
Deve adotar posição "defensiva", menos prepotente até. Não tem razão em mediar crise em Honduras, conflito com o Irã e etc....
Desculpe, Plínio, mas discordo frontalmente.
Não precisamos ou devemos nos esquecer da vizinhança, ou mesmo dos nossos problemas internos, mas nada disto justifica ter uma política externa pequena, tímida, envergonhada. O Brasil não está "se metendo" no jogo dos grandes, não passa vergonha ou parece a criança puxando a saia da mãe querendo brincar no jogo dos adultos.
O Brasil é grande em sua política externa e ao longo de sua história teve posições preponderantes.
O Brasil, como potência regional, apenas exige seu lugar no hall dos que decidem os destinos do mundo.
O Brasil deve sim ter papel preponderante, deve sim se colocar como ator no cenário internacional, como ator relevante, atuante e ser conhecido como mediador internacional. O Brasil hoje é respeitado. Com FHC e Celso Lafer, éramos piada. Nosso ministro tirava os sapatos nos EUA e o Brasil abaixava as calças.
Antes de Lula éramos piada internacional. Nem a Argentina nos respeitava. Nossos vizinhos nos consideravam inimigos, desdenhavam. Praticávamos a pior espécie de imperialismo contra o Paraguai, Bolívia.
Não que, hoje, não tenhamos nossa faceta subimperialista, como potência regional somos preponderantes. Mas não mais exploramos de maneira descarada nossos vizinhos, respeitamos e somos respeitados. Criamos alianças e não inimizades.
No mundo, não mais aceitamos calados os desígnios dos EUA. Na verdade somos considerados parceiros, mesmo desafiando seus interesses em muitos casos. Antes, éramos meros capachos.
Vamos apenas contrapor a ALCA à UNASUR e teremos uma idéia de nossa atual política externa.
Mas, claro, nem tudo é negativo.
Mesmo se opondo ao papel do Brasil como mediador da crise com o Irã, por exemplo, Plínio não discorda da relação diplomática entre o Brasil e o Irã. E vai além, defende que nenhum país tenha armas nucleares, mas não aceita que, se um tem, porque os outros não podem ter?
Plínio, consciente, defende o direito do Irã de ter armas nucleares. É o ideal? Não. Mas é coerente.
E, melhor ainda, se posiciona de forma clara contra os EUA. Se nós temos relações com um dos países (um ou o) que mais comete crimes contra a humanidade e contra a democracia, porque não teríamos com qualquer outro? É a velha hipocrisia da direita. Só podemos conversar com os EUA e seus aliados, o resto não presta.
Discordo da leitura tímida do papel que o Brasil deve ter no mundo, mas não posso deixar de admirar a coerência de Plínio e do PSOL ao nomear claramente quem é o inimigo e denunciar a hipocrisia que grassa.
Nosso inimigo não é o Irã.