Entre os dados que chamam a atenção está o fato do Norte ser a região brasileira com melhor expectativa em relação à melhoria da situação profissional nos próximos 12 meses. Do total de entrevistados, 46% acreditam numa provável melhoria no mercado de trabalho regional. Por meio da aplicação de 3.772 questionários presenciais, são levantadas as expectativas das famílias das cinco regiões do Brasil. O Índice de Expectativa das Famílias (IEF) relaciona a dinâmica e o crescimento econômico ao comportamento e às expectativas das famílias.
Evidentemente, isso reflete um inquestionável clima de otimismo entre a maioria da população. Mesmo com os problemas estruturais que ainda assolam nosso país, como a educação de má qualidade, a saúde precária, o desemprego e a violência; o aumento no acesso ao crédito, e conseqüentemente do consumo, gerou na maior parte das famílias brasileiras um impressionante sentimento de bem-estar que esconde ou camufla a dura realidade de milhões que vivem na miséria. Como tem dito o candidato à Presidência da República pelo PSOL, Plínio de Arruda Sampaio, existem dois países: um Brasil das aparências, que parece fadado ao crescimento, à geração de empregos e à conquista da igualdade econômica e social; e um Brasil em que os bancos alcançam lucros recordes e aprofundam a desigualdade, em que a dívida pública alcança níveis escandalosos e onde o meio ambiente segue sendo destruído em nome de um modelo de desenvolvimento insustentável, baseado no agronegócio e na exportação de bens primários.
Os dados da pesquisa divulgada pelo IPEA refletem a percepção das famílias quanto a sua capacidade de consumo em comparação com um passado recente de estagnação econômica. Mas é preciso ir além do que dizem os números: afinal, quais são as bases deste crescimento? Enquanto o governo federal fala em um "novo modelo de desenvolvimento" o que vemos é que em 2009 apenas seis produtos foram responsáveis por um terço das exportações brasileiras (32,7%): soja, minério de ferro, petróleo, açúcar, frango e farelo de soja, nesta ordem. Ao mesmo tempo, os produtos manufaturados responderam por apenas 40% das vendas externas. Um modelo que não tem nada de novo e mantém intocada a posição do Brasil na divisão internacional do trabalho.
Fotografia de um momento
O Índice de Expectativa das Famílias aponta o nível de segurança das pessoas na sua ocupação atual e se têm expectativas de alguma melhora profissional no curto prazo. Entre os aspectos medidos, consta a confiança das famílias na economia nacional, o grau de endividamento delas e as expectativas sobre o mercado de trabalho. O índice capta ainda a expectativa sobre as condições das famílias de quitarem suas dívidas e contas atrasadas.
Mas como explicar que a região mais pobre do país seja ao mesmo tempo a que possuí os mais altos índices de otimismo em relação à economia? A explicação mais natural parece ser a de que as populações das regiões historicamente menos desenvolvidas economicamente vejam na ainda tímida capacidade de crescimento da economia brasileira uma oportunidade de melhorar sua condição de vida. O fortalecimento dos setores primários da economia e o conseqüentemente aumento do emprego na região confirmam esta hipótese.
Porém, o papel imposto à Amazônia no atual modelo de desenvolvimento mantém a região afundada no atraso econômico e social. Isso se dá pelo papel reservado ao norte do país na cadeia produtiva nacional: enquanto no sul e sudeste concentram-se os principais pólos industriais e tecnológicos – com a exceção da Zona Franca de Manaus – a região norte vive da exploração mineral e das atividades predatórias voltadas ao agronegócio. Este modelo econômico, além de insustentável ambientalmente, não garante a geração de empregos no médio e longo prazo, pois se mantém dependente dos humores do mercado internacional.
Existe alternativa
Não é necessário ser um expert para notar as profundas desigualdades que marcam a região norte. Desigualdades que infelizmente não tem sido enfrentadas por nenhum dos governos daquela região, muito menos pelo governo federal. As promessas da mineração, da ação predatória e do uso indiscriminado dos recursos naturais, incluindo-se aí os recursos hídricos, são contraditórias com a noção de "sustentabilidade" tão propalada pela indústria da extração mineral e pelos grandes latifundiários em associação com os governos da região.
Infelizmente, porém, essa questão está ausente do debate eleitoral. Estamos a pouco mais de um mês de um momento decisivo para os rumos de nosso país, onde o povo escolherá, sob uma realidade encoberta pela euforia do crescimento econômico, um novo presidente que assumirá o papel de governar um país marcado pelas desigualdades que ainda caracterizam a sociedade brasileira.
Levando em conta o projeto de desenvolvimento defendido pelas principais candidaturas na corrida presidencial, podemos seguir atrelando indefinidamente a capacidade de enfrentar as desigualdades sociais à corrida do crescimento econômico, do consumo, do endividamento e da destruição dos recursos naturais. Um caminho que só poderá ser revertido por um governo comprometido com outro modelo econômico e social, identificado com os interesses nacionais e populares. Essa alternativa é Plínio de Arruda Sampaio.