Ao que Deng teria respondido: "Pois é, ambos acabamos traindo nossas classes".
Se o rico fazendeiro João Goulart fosse vivo e se encontrasse com Lula, um diálogo parecido poderia acontecer. Não tanto pelo pouco que Goulart tentou realizar e não deixaram, mas pelo que Lula jamais pensou fazer.
Afinal, o próprio ex-presidente gosta de dizer que os bancos nunca ganharam tanto quanto durante os governos petistas. Até pouco tempo, tanta boa vontade parecia ser suficiente para manter o setor financeiro silencioso em relação ao impeachment de Dilma. Recentemente, porém, Roberto Setúbal, do Itaú, declarou apoio ao afastamento da presidenta.
Outro setor extremamente favorecido pelo PT à frente do Executivo foi o agronegócio. Mesmo assim, a bancada ruralista se manifestou favoravelmente ao impeachment. Ao mesmo tempo, a grande líder dos latifundiários, a ministra Katia Abreu, diz que não sai do governo.
Nesses casos, quem estaria traindo quem? Do ponto de vista dos interesses de classe, nem Setúbal, nem Kátia. Afinal, permanecendo Dilma ou não, muito provavelmente banqueiros, ruralistas e outros setores poderosos continuarão contando com a confiança que não hesitam em trair quando preciso.
Aos petistas restaria citar os versos tornados famosos por Beth Carvalho: “Você pagou com traição, a quem sempre lhe deu a mão”.
Já os governos petistas poderiam receber de seus aliados prioritários o verso final de uma bela canção de Chico Buarque, que diz: "Te perdoo por te trair".