O esquerdoso bem visto, conhece a discografia inteira de algumha banda de rock ou pop de culto, naturalmente lê filosofia e literatura fantástica, vê cinema existencialista francês, e falando de qualquer desses temas pode quebrar com um monólogo de quarenta e cinco minutos e quatro frases lapidárias, coroado tudo com algumha cita recitada entre dentes e com o meio sorriso próprio do derradeiro disparo ao inimigo, a qualquer oponhente dialético. Isso sim, nom milita. Nom combate. Nom se vincula. Está por cima, vai mais aló. E sempre achará material para criticar a uns e a outros.
Pode que vejas a esse tipo de esquerdoso em festas universitárias ou em festivais solidários com algumha causa (preferentemente remota e exótica) pode que o encontres inclusso disertando ou botando broncas na algumha assembleia de algum centro social...onde nunca o verás é numha greve ou em qualquer mobilizaçom que tenha a ver com o mundo do trabalho.
Esse esquerdoso cool com freqüência poderá criticar a gajos como o Andrés Bódalo, ou até pode que se solidarice com ele, mas nunca estará ao seu lado em qualquer desses embates onde Andrés Bódalo demostra porquê lhe é incómodo ao sistema.
Nom; o operário mal vestido, às vezes sujo, pobre, com poucos recursos culturais, nada refinado nas suas formas e muito menos na sua linguagem, nom é um personagem agradável que poida seduzir ao esquerdismo cool-urbanita-estiloso. Mas a Andrés Bódalo nom o meterom no cárcere por falar mal, vestir com mau gosto, ou nom ter a ediçom deluxe daquele CD de algumha banda de pop británico dos anos 90. Andrés Bódalo nom é cool, mas o problema nom é esse, porque a base da direita também nom é cool e a maioria da populaçom, trabalhadora ou nom, também nom o é.
Ao Andrés Bódalo meterom-no preso porque nom retrocedia perante a oligarquia e os seus esbirros. Porque se um polícia lhe dava umha pancada, ele nom ficava com a pancada e a devolvia. Porque se os nazis entravam a rebentar um ato de solidariedade internacionalista, leia-se a apresentaçom de um livro de Sabino Cuadra na cidade andaluza de Jaén, ele nom ficava tremendo à espera de que os nazis começaram com o seu circo de proclamas e golpes e dava ele o primeiro golpe como tem que ser (porque o nazi tem que levar sempre o primeiro golpe, o segundo e o terceiro antes de que ele intente nada sequer) porque pune com os seus punhos a provocaçom do senhorito (leia-se vereador do PSOE, por exemplo) Por isso metem preso ao Bódalo. Porque eles querem um operário submisso, temeroso, vítima, perdedor. O operário orgulhoso que dá o último golpe, esse vai receber a repressom classista com todo o seu rigor e crueldade.
Os que nunca sofrirám a repressom, som os que refugiam os seus pretensos ideais transformadores trás o fume de umha infusom de frutas ou um capuccino. Os que acalmam o seu ardor revolucionário em cerveja ou licor-café. Os que tenhem por todo horizonte dialético demostrar a sua superioridade cool perante outros aspirantes ao olimpo dos cool.
Andrés Bódalo é difícil de assomir para a progressia pré-fabricada que tem o seu minarete ideológico em La Sexta, porque o Andrés Bódalo é um jornaleiro, para eles bruto e cateto, pailám, que nom dá jogo intercambiando piadinhas com El Gran Wyoming, nem visitando um supermercado com Thais Villas (sobre tudo porque no segundo caso, o nosso ánti-modelo poderia ser encontrado assaltando o mesmo supermercado no que outros líderes políticos estiverom encenando o ridículo paripé com a reporteira de El Intermedio) nem animando galinheiros de seudo-debate em qualquer plató de televisom. Representa um rosto da realidade que a esquerda cool na sua maioria quer apagar do seu imaginário. Por isso preferem burlar-se dele, e celebrar que o ponham entre barrotes. Mas como tenho dito, acredita o mercenário que nunca conhecerá as situaçons que ele mesmo critica; ruidosas mobilizaçons de trabalhadores, altercados com as forças de segurança e o patronato...muitos som os que até que o vivem, nom acreditam que vaiam ser protagonistas de estampas desse tipo. De facto, a maioria da populaçom asalariada, acha que isso será sempre alheio a ela. Mas onde há umha relaçom entre trabalhador e empresa, estas cousas algum dia acontecem. Que os que fixerom escárnio desde a sua palestra mediática do Andrés Bódalo, nom descartem de tudo que entre eles surja algúm Andrés Bódalo (ainda que já sabemos que no caso do chefe nom será assim, já que Wyoming é em si patronato) Isto é o capitalismo, e o capitalismo é tudo menos estável...