O nome de Canecão deve-se a que o local foi concebido originalmente como uma grande cervejaria no conhecido bairro de Botafogo. Caneca designa em galego-português um copo com asa para beber líquidos e a terminação –ão, habitual sufixo aumentativo, tem no português brasileiro uma produtividade extraordinária, bem superior à das variedades lusitana e galega da língua portuguesa.
Assim na liga de futebol brasileira, o brasileirão, jogam equipas como o fogão –Botafogo- e o mengão -Flamengo. Quem não gostar de futebol sempre pode ver O domingão do Faustão, popular programa da TV. Eu, na verdade, recomendaria o corujão, sessão em que passam filmes de madrugada.
As altas temperaturas do Rio de Janeiro fazem com que seja habitual a comida de rua: tapioca, acarajé, cuscuz doce, pamonha, curau… são algumas das iguarias típicas que podem ser consumidas em plena calçada carioca. Calçada é no Brasil qualquer passeio, daí não confundir com o calçadão pois este só é o da orla de Copacabana ou Ipanema.
Quem preferir comer hambúrguer ou cachorro quente é só ir no podrão, nome popular com que são conhecidos estes postos na rua. Para beber pode ser um latão geladão–lata grande bem fresquinha- ou um litrão -garrafa de um litro- de cerveja. Saudades de uma boa empada galega? É só enfiar numa padaria e pedir um empadão –em Portugal seriam as típicas bolas da Guarda. Quanto à sobremesa, recomendo um churrão, nome das farturas no Brasil, recheado de doce de leite com coco e coberto de açúcar com canela. Estás de dieta? vá no sacolão, comprar uma frutinha. Ora bem, almoço universitário é no bandejão, local onde servem refeições muito económicas. Calma! Arroz e feijão não há de faltar. Onde também há bandejão é no brizolão, escolas desenhadas por Oscar Niemeyer concebidas para seguirem a pedagogia de Darcy Ribeiro e que levam o nome do político que as impulsionou, o polémico Leonel Brizola. Brizola, ainda que nunca foi militante do partidão –o partido comunista- foi um político progressista que lutou contra a ditadura militar de 1964.
Para voltar a casa pode-se ir de busão. Se for a hora do pico vai ser mais desconfortável do que ir no camburão da polícia e por isso é recomendável pagar um pouquinho mais e usar o frescão, autocarro com ar condicionado e poltronas confortáveis. De resto, para veículos assustadores já temos o caveirão da BOPE.
Se for feriadão, com dias de folga pela frente, sair da cidade e fazer um mochilão para ficar um tempão na região serrana do Rio de Janeiro, é uma boa opção.
A lista seria longa de mais pois como dissemos ao princípio este sufixo virou uma rica fonte de inovações lexicais privativas do português americano. Assim o fato-macaco do português europeu vira macacão na outra beira do Atlântico, um graffiti é uma pichação, um rojão é um foguete usado nas festas ou nos protestos para fazer barulho e o lugar aonde vai parar todo o lixo da cidade é o lixão.
Noutras ocasiões as palavras respondem a realidades exclusivas do Brasil. Orelhão é a cabine telefónica no Brasil, que tem forma de orelha grande; o minhocão é um prédio-favela vertical do Rio de Janeiro; o mergulhão um túnel que há no centro da cidade e arrastão uma tática de roubo urbano que surgiu na praia de Copacabana na década de 80.
A gíria não podia ficar à margem desta terminação. Ferradão é alguém que tem problemas, doidão alguém que está sob os efeitos de drogas e chapadão alguém que fumou maconha.
É bom sublinhar que a pronúncia do –ão em português está sujeito a muita variação. Lembremos que na área metropolitana do Porto, a segunda cidade mais povoada de Portugal, é pronunciada –om/-am, tal e como era no galego-português arcaico. O famoso mercado do Bulhão é Bulhom e o estádio do Dragão, Dragom. Esta é a pronúncia típica da área originária do galego-português e a que se mantém na Galiza e no norte de Portugal.
Por último, para se despedir, a melhor saudação no Brasil é sempre um abração.
Imagens: 1. Brasileirão, o campeonato brasileiro de futebol; 2. Típico "podrão" numa kombi nas ruas do Rio de Janeiro; 3. Orelhão da Oi; 4. O Minhocão no bairro da Gávea, na cidade do rio de Janeiro.