As FARCs-EP (Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia – Exército Popular) e agora o ELN (Exército de Libertação Nacional) colocaram o ingrediente de negociações, um acordo de paz para por fim ao conflito que dura desde 1964.
O governo anterior, de Álvaro Uribe, recusou toda e qualquer proposta de negociação e pôs em prática uma violenta ofensiva contra a guerrilha como um todo, gerando em determinados momentos situações que extrapolaram os limites territoriais da Colômbia, como o bombardeio em território equatoriano contra um acampamento de estudantes de vários países latino-americanos onde estava Raul Reyes (então o segundo homem das FARCs-EP).
Em sua última semana de governo Uribe acusou a Venezuela de abrigar guerrilheiros em seu território e de permitir que ali funcionassem campos de treinamento.
Juan Manuel Santos, sucessor de Uribe, foi ministro da Defesa e comandante das políticas repressivas tanto contra as guerrilhas, como contra movimentos sindicais e populares. Atropelado pelo antecessor, não manifestou ainda de forma clara disposição para negociar com a guerrilha.
O Departamento antidrogas do governo dos EUA divulgou a cerca de dois anos atrás documentos que vinculam a trajetória política de Álvaro Uribe ao traficante Pablo Escobar (boliviano), desde os tempos de prefeito de uma cidade no interior do país. Isso não impediu o governo do presidente George Bush, à época, de definir a guerrilha como movimento “terrorista”.
A Organização das Nações Unidas classifica as FARCs-EP e o ELN como “movimentos insurgentes”.
Outra consequência que vai tornar o governo de Juan Manuel Santos num difícil exercício de sobrevivência foi a decisão da corte suprema da Colômbia, de considerar ilícitos os acordos firmados com os EUA para a instalação de bases militares no país. Segundo a corte suprema os acordos são nulos, pois não foram seguidos os preceitos constitucionais para que sejam validados.
Ou seja, não foram discutidos e aprovados pelo Congresso Nacional colombiano e outras instâncias de poder. Vale dizer que as bases norte-americanas na Colômbia são ilegais aos olhos da lei colombiana. Ou ainda que, na prática, significam ocupação militar de parte do território da Colômbia por uma nação estrangeira.
No governo de Belizário Betancur Quartas (agosto de 1982 a agosto de 1986) um acordo de paz foi celebrado entre a guerrilha e o governo central. Transformada em partido político, a Unión Patriótica, as forças guerrilheiras elegeram vários prefeitos, vereadores, deputados departamentais, federais e senadores. Perto de três mil dentre os eleitos e seguidores das guerrilhas transformadas em partidos foram assassinados por forças militares e paramilitares, controladoras do tráfico de drogas no país.
O acordo foi jogado fora e ressuscitadas as forças de luta popular. Controlam hoje cerca de um terço do território da Colômbia, lugar de difícil acesso (as regiões de selva) e interferem diretamente em vários departamentos do país.
A eleição de um governo não submisso a Washington, o do presidente Chávez na Venezuela, transformou a Colômbia em país chave para os interesses dos EUA na América do Sul (como Honduras na América Central, onde está a maior base militar norte-americana em toda a América Latina, escola de golpes para oficiais de forças armadas latino-americanas). Essa condição aumentou ainda com a eleição de Evo Morales na Bolívia e Rafael Corrêa no Equador.
A posição dos governos brasileiro e argentino, os dois maiores países da América do Sul, de equidistância do conflito, mas presente na busca de negociações de paz (o que contraria os EUA), torna a Colômbia, praticamente, numa grande base militar pronta a intervir em qualquer canto dessa parte do mundo se assim o fizer necessário e em função de interesses de uma nação que é, cada vez mais, um conglomerado de empresas, bancos e grupos sionistas.
Em vários momentos o governo brasileiro conseguiu intervir nos conflitos entre Colômbia e Venezuela, antecipando-se à costumeira prerrogativa de Washington de decidir qualquer assunto na América Latina. Essa intervenção serviu para frustrar tanto tentativas de golpes contra Chávez, como ações criminosas do governo Uribe.
A guerrilha não é o único problema de grande monta na Colômbia. A presença de forças paramilitares de extrema direita e ligadas ao latifúndio e ao tráfico (são os verdadeiros controladores da produção, refino e exportação de cocaína) gera perto de mil assassinatos de lideranças civis por ano e milhares ao longo de todos esses anos de luta política, de guerra civil, criando um inferno, como definido pela senadora Piedad Córdoba, uma das principais defensoras de negociações com a guerrilha e opositora das políticas de confronto direto do ex-presidente Uribe.
A não ser feitos midiáticos, ou seja, produzidos pela mídia privada em países da América Latina, a debilidade da guerrilha, anunciada em prosa e verso é uma falácia. Nos oito anos de mandato de Uribe não foi possível eliminar nem as FARCs-EP e nem o ELN, contrariando todo o “noticiário oficial” vendido pela mídia privada. Nem mesmo o assassinato de líderes dos movimentos, em operações coordenadas pela inteligência norte-americana.
A Colômbia é hoje a grande colônia dos EUA na América Latina.
A paz não interessa às elites colombianas. São elas que controlam os “negócios” num país com profundas desigualdades sociais. São elas as grandes beneficiárias do narcotráfico, são elas as donas dos grandes cartéis da droga.
Uma espécie de Chicago dos tempos de Capone multiplicada a uma potência determinada, que resulte no tamanho da Colômbia, ou da Colômbia dirigida pelo chamado governo central.
A preocupação com o narcotráfico não é a maior de norte-americanos e nem das elites colombianas.
O controle da América do Sul, o monitoramento de governos considerados hostis como os da Venezuela, Equador e Bolívia e independentes, como os do Brasil e da Argentina, esse sim, é o objetivo maior. A Colômbia é estratégica para as tentativas de transformar a Amazônia no paraíso dos EUA, ou abrir caminho para o chamado cone sul, onde se localiza o quinto maior aqüífero subterrâneo do mundo, o Guarani, além de uma das maiores colônias de imigrantes palestinos também em todo o mundo.
Se não há um isolamento efetivo da Colômbia por parte dos demais países latino-americanos, há um distanciamento das políticas totalitárias de Uribe, tanto quanto uma expectativa dos dias futuros do governo Santos.
A aposta norte-americana, por exemplo, na eleição de um candidato de direita no Brasil, José Serra, esvai-se a cada dia e torna o principal país latino-americano, hoje com ares efetivos de potência mundial, num obstáculo a esses interesses do conglomerado empresarial e terrorista EUA/ISRAEL.
Organizações de direitos humanos em todo o mundo têm feito sistemáticas denúncias contra as políticas opressoras e bárbaras das forças armadas da Colômbia e de forças policiais. Há prêmios em dinheiro estipulados pelo governo central por guerrilheiro morto e isso leva militares e policiais a assassinarem camponeses em regiões no interior do país, apresentando-os como guerrilheiros.
Há disputas entre as quadrilhas que formam os grupos de extrema-direita pelos “negócios” da droga e em torno de tudo isso, um consentimento tácito dos EUA, tanto à época de Bush, como agora com Obama, por essa situação.
O desafio de um acordo de paz efetivo na Colômbia não passa pelos Estados Unidos e muito menos pela OEA – Organização dos Estados Americanos –, controlada por Washington.
É um desafio para o povo colombiano – desejoso de paz, do fim da guerra civil – e dos povos dos países latino-americanos. Como se vê, algo difícil de se materializar em curto prazo.
O que está em jogo são os bilhões de dólares dos “negócios” da droga e esses estão encastelados no palácio do governo, nas forças armadas e forças policiais, nas elites formadas por banqueiros, latifundiários e grupos industriais, todos controlados de perto ou de longe por interesses de semelhantes nos EUA.
A proposta das FARCs-EP e agora do ELN (último movimento guerrilheiro fundado por Che Guevara), ambas, com certeza, serão desqualificadas e dificultadas pelo governo Santos, mesmo porque Juan Manuel Santos, até que consiga superar as barreiras criadas por Uribe, o poderoso chefão e de quem foi ministro, não preside a Colômbia, tem o título simbólico de presidente.
Pode a qualquer tempo e hora ser varrido do mapa, como foi Zelaya em Honduras, se contrariar os “donos”.