Bem-estar, via crescimento da economia, a partir da mensuração comum que é feita, olhando-se quase que exclusivamente para a expansão da renda e da riqueza, melhora sim a vida de uma minoria de pessoas no curto prazo, mas no longo prazo piora a vida de todos, face ao esgotamento dos recursos naturais e a exaustão dos chamados serviços ambientais (purificação da água e do ar, fertilidade do solo, polinização, fibras, ciclagem de nutrientes, oxigênio e outros) que o próprio crescimento econômico inequivocamente condiciona.
Diante disso, fica claro então que o crescimento, em sua forma atual, relacionado com mais produção de bens e serviços (estimulando a atividade produtiva), é simplesmente insustentável.
Mediante isso, é correto afirmar que, quanto mais se obtém crescimento, mais as localizações geográficas (cidades, estados, nações), bem como as organizações corporativas (parque industrial) que sustentam e organizam o ambiente econômico, se afastam da prática da sustentabilidade, ou seja, dito de outra forma, ficam bem longe do alcance do equilíbrio ambiental, afetando sintomaticamente a qualidade de vida de todos.
Se todas as empresas, grupos corporativos, bem como as economias mundiais desejarem crescer além daquilo que se considera ser uma taxa “normal” de expansão produtiva, o planeta então deixará de ser funcional, aprofundando ainda mais a crise ambiental (desequilíbrio das condições climáticas, exemplificada no aquecimento global) ora em curso.
Por sinal, qualquer sistema de organização econômica e política, tenha ele o nome que tiver, - economia de mercado, economia mista, capitalista ou socialista - que seja, pois, impulsionado quase que exclusivamente pelo consumo, ao extrapolar os limites existentes (fronteiras ecossistêmicas), causa terríveis danos ao meio ambiente, em decorrência da fragilidade do sistema ecológico da terra.
Assim, tomando o paradigma econômico como exemplo, se os países que hoje são considerados menos desenvolvidos, alcançassem, por uma espécie de um “santo milagre econômico” qualquer, o padrão de vida médio existente nas nações consideradas desenvolvidas, a poluição, a escassez de recursos, os tráfegos aéreos e rodoviários, os apagões (de energia) nas grandes cidades, a contaminação da água e do solo, o desflorestamento, a pesca predatória e a mudança climática global, colocadas sob uma mesma dimensão, simplesmente faria sufocar a qualidade de vida no planeta.
Por isso é tão urgente e imprescindível se pensar em modos alternativos de enfrentar essa questão (a busca pelo crescimento), uma vez que a economia “opera” dentro da biosfera, sendo completamente dependente de materiais e energias finitas.
Grupos de Apoio ao Não Crescimento
Colocando esse tema num terreno bem mais sólido, num primeiro e imediato momento, é de fundamental importância abandonar a mentalidade da economia de crescimento. Por si só, esse atual modelo – de economia linear que extrai, usa e descarta -já se mostra totalmente esgotado.
Essa é a razão pela qual, cada vez mais, está tomando lugar a opinião difundida por grupos de pensadores que identificam a necessidade de se discutir, de maneira ampla, formas de diminuir (e de estancar) o crescimento, tanto de empresas quanto de economias mundiais.
Um deles é o Slow Growth Group (Grupo do Crescimento Lento) que vem ganhando notoriedade ao afirmar que, em escala global, há muitos fatores em curso prenunciando uma queda acentuada nos principais fundamentos macroeconômicos do crescimento das economias globais, bem como na expansão da maioria das empresas, mesmo numa condição em que não haja intervenção pública (para o caso das economias globais) ou privada (para o caso dos grupos corporativos).
Outro grupo de relativo destaque é o Sane Consumption Group (Grupo do Consumo Sensato), que defende maior intervenção governamental para frear, imediatamente, o impulso do consumismo em economias que já estão em estágio de avançada saturação ecológica.
Um terceiro e influente grupo, ligado à corrente dos economistas-ecológicos, é o Steady-State Growth Group (Grupo da Economia de Estado Estacionário), que sustenta que as pessoas ficarão em melhor condição de vida se abandonarem definitivamente a prática do consumo suntuoso, limitando-se ao mínimo indispensável para viver, praticando, pois, o que os especialistas dessa corrente, liderada por Herman Daly, chamam de “economia estável”.
Ou seja, é aquela condição em que o PIB total permanece mais ou menos constante, bem como a taxa de natalidade passa a ser equivalente à de mortalidade, e os índices de produção econômica, por sua vez, ficariam equiparados aos de depreciação.
Assim, seriam respeitados os limites da capacidade biótica da Terra, algo difícil de ser entendido pelos economistas tradicionais, ligados à Escola Neoclássica.
O respeito a esses limites, por sua vez, proporcionaria bem-estar aos cidadãos, longe, portanto, da insensatez hodierna do consumismo desenfreado que vem dilapidando os recursos da natureza para “alimentar” exclusivamente a máquina de produção global.
É bom destacar que, na atualidade, não são poucas as economias que já apresentam vários sinais de que o crescimento, medido pelo padrão atual, está entrando numa rota de declínio: 1) envelhecimento populacional em várias nações; 2) estagnação em setores fundamentais da economia, mediante a seríssima crise econômica e de confiança pela qual passa o capitalismo de mercado; 3) níveis elevados de endividamento público e privado em várias praças econômicas; 4) elevadíssimos custos para cuidar da saúde das pessoas e para provisionar energia suficientes à produção econômica; 5) pressões advindas do âmbito da globalização em diversos setores e, a seguir, talvez o pior de todos os indicativos, 6) o crescente e o sufocante nível de desigualdade de renda per capita em várias economias.
Diante disso, cada vez mais fica a certeza de que o crescimento econômico, antes de provocar o “bem” que muitos julgam dele decorrente, tem provocado – e tende a provocar mais ainda - o “mal” que ninguém, de fato, anseia angariar.