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Mário Maestri

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Aqui e Agora

Contubérnio Petista

Mário Maestri - Publicado: Quarta, 10 Fevereiro 2016 15:09

A notícia da recente agressão de Olívio Dutra por assaltante em lotação levou milhares de brasileiros a perguntarem-se o que fazia o ex-governador sulino em um meio de transporte público.


A resposta para a compreensível perplexidade é simples. A progressão política do ex-sindicalista jamais causou maiores modificações em sua vida pessoal. Discretamente, ele seguiu morando no mesmo apartamento, veraneando na mesma praia, usando o mesmo meio de transporte. Ao cumprir seus cargos públicos, voltava, sempre, ao mesmo trabalho, no Banrisul. 
 
O comportamento plebeu e republicano foi como uma extensão natural dos valores políticos desse fundador do PT que já se definiu, caçoando das contradições, como marxista e cristão. Não sabemos se, em 1989, ele festejou com alguns martelinhos a mais a eleição à prefeitura de Porto Alegre. Em verdade, o proposta apreço pela bebida, até há alguns anos de caráter exclusivamente popular, foi talvez a grande insídia conservadora lançada contra cidadão de vida irrepreensível. Na sua má fé, ela revelava também o desgosto pela intrusão na alta política sulina de um sindicalista plebeu, que era, entretanto, homem de cultura, de formação institucional. 
 
Em 2002, o senhor Luís Inácio Lula da Silva celebrou sua quase certa eleição, em restaurante paulista excelente, abrindo garrafa de Romanée-Conti, safra 1997. Sentava-se, assim, simbolicamente, à mesa dos mui raros endinheirados capazes de beber um dos mais desejados, prestigiados e caros vinhos franceses. Recentemente, um lote de pouco mais de cem garrafas foi adquirido por mais de seis milhões de reais! O tristemente célebre ex-governador de São Paulo, Paulo Malouf, teria a mais completa coleção desse vinho no Brasil, que certamente bebe agradecendo a todos nós! É bom lembrar que o valor do Romanée-Conti não está no seu gosto esquisito, apreciados apenas pelos paladares mais refinados, mas precisamente no exibicionismo econômico de poder bebê-lo!
 
 Como outros affaires, a discussão em torno do sítio de Atibaia lança uma dupla acusação ao ex-presidente. Em verdade, a primeira, de sentido exclusivamente ético-político, parece não se colocar para o ex-presidente e seu entourage. A indiscutível adesão desbragada a comportamentos burgueses, por parte de tantos dirigentes petistas, ainda que cause hoje preocupação, no passado foi vista como verdadeira qualidade. No caso do ex-metalúrgico, ela seria a comprovação da proposta lulista de construção de economia social de mercado no BrasilSeria já uma conquista um ex-operário ter hábitos que eram, antes, privilégio das elites! Um pouco como os pastores evangélicos que afirmam elevar seus crentes na certeza dos favores divinos, ao enricarem vendendo a pele do rebanho incauto. Vivíamos então os tempos em que se recitava a verdade revelada à Veja pelo profeta Joãozinho Trinta: ´´Quem gosta de miséria é intelectual [de esquerda]! Pobre gosta mesmo de luxo!``
 
A adesão ao consumismo em sua versão chic constituiu desqualificação dos princípios essenciais do mundo do trabalho e de sua crítica geral à miragem capitalista. Comportamento que acompanhou e sustentou o movimento de rejeição dos valores que estiveram na origem do PT e da CUT, cuja liquidação foi comanda pelos senhores Lula da Silva, José Dirceu e associados. Uma reconstrução social-liberal do PT que exigiu a marginalização de quadros como Olívio Dutra, apesar de sua posição política indiscutivelmente moderada. Porém, em defesa do ex-presidente, temos que reconhecer que ele sempre negou comungar com a ética e os valores plebeus, operários e republicanos. Reiteradas vezes, proclamou que jamais fora socialista ou, mesmo, de esquerda. Recentemente, sem mediações, teria se definido liberal.
 
Quanto à segunda acusação, dos favores cedidos pelo grande capital a Lula da Silva e tantos outros dirigentes máximos petistas, tem-se repetido, ad nauseam, que não há ilegalidade nesse verdadeiro contubérnio com mega-empreiteiros, espertos lobistas, abastados latifundiários, elegantes doleiros. Que as viagens nos jatinhos, os jantares finos, as conferências e assessorias astronomicamente remuneradas, as reformas de moradias gratuitas, os empréstimos benévolos, as doações eleitorais milionárias não ferem a legalidade. Desde que sejam, se reconhece, totalmentealtruístas. Ou seja, que não exijam dos agentes públicos qualquer compensação direta ou indireta, vinculada ou desvinculada, imediata ou deferida no tempo. 
 
        Entretanto, nesse caso, a pergunta que não quer se calar é simples: diachos, por que os mais ricos empresários do nosso país disputam-se o privilégio de entupir de recursos e favores de todo tipo os representantes destacados [e comumente seus familiares] de um partido que se define, ao menos no nome, como dos trabalhadores? Ao que sabemos, a defesa dos interesses dos trabalhadores resulta, tradicionalmente, no desemprego, na perseguição, na cadeia e, até mesmo, na morte.  Enfim, teria deixado de funcionar a máxima eterna de que ``É dando que se recebe``? Ou não haveria verdade na proposta, avançada há pouco, pelo prefeito Haddad, parafraseando o indefectível Milton Friedman que ``Não há almoço grátis``?

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