O depoimento mostra que os 25 anos de estrada não atenuaram nem cansaram a trajetória radical e combativa do artista. O compromisso com a luta continua o mesmo e mais forte. Um trecho demonstra isso muito bem:
O falar do escravizado era um falar entupido de condicionantes. Sob pena de castigos ultra severos a sua fala era medida no volume e no tom da voz, na velocidade da resposta, na escolha certa das palavras e na postura corporal. A vontade era de mandar geral se fuder, mas o desejo era contido pela noção do perigo que isso representava. Mas nos momentos em que o escravizado não estava sob a vigilância de seus superiores hierárquicos, toda essa angústia, todo esse ódio reprimido era extravazado através da música e da dança. Os momentos de celebração do escravizado era um momento de catarse. Isso significa que a música afrobrasileira é na sua origem, na sua gênese uma música de protesto, de luta, uma válvula de escape pra todo sofrimento, toda angústia sofrida, e expressão de todo anseio de liberdade dos meus antepassados. Taí a capoeira que não me deixa mentir. É dança e música que ao mesmo tempo é luta corporal, fruto do mesmo contexto ao qual me refiro. O que eu faço desde 1991 nada mais é do que ser fiel às minhas origens e à origem da música da diáspora africana no Brasil!
A entrevista toda merece ser lida. Até porque a mensagem final é clara: Revolução Socialista!