Gosta Vicente Ansola de definir-se como ladrom de instantes. Com a sua cámara, rouba-lhe instantes ao esquecimento. Reivindicar a cultura material de umha comunidade humana. E os seus rostos. Esses rostos que sobrevivem trás o manto de névoa. Essa é a teima.
O Vicente um dia decidiu capturar esses instantes, essas formas, e fazer delas um chamado. O quê acontece, se a derradeira vida de Bogo, de Vilaeimil, de Vilarxurvím se extingue...sem contar por derradeira vez aquele conto, sem cantar-nos a última copla, sem tocar essa peça que tocavam sempre nas festas? Seremos menos nós...esmoreceremos um bocado mais...
O tempo passa, e cobra a sua factura. As políticas humanas deslocam a gente dos seus lugares de origem, e a natureza reserva para todo ser vivo um final. As comunidades humanas extinguem-se porque as lógicas sócio-económicas som crueis, e nom respeitam formas de entender a vida, o trabalho, o méio, que elas próprias nom imponham.
O chamado no meio da penumbra do Vicente Ansola, obtivo resposta. Naquele Domingo puidemos conhecer o fruto material em forma de produto artístico dos desvelos do “Retratista de Vilaeimil”. “Aldeas sen voz”, é um livro de fotografia acompanhada de textos, no que eu próprio tenho o honor de participar modestamente com um poema. Há também poemas de vários dos meus companheiros e companheiras d'A Porta Verde do Sétimo Andar. Um projeto artístico de reivindicaçom, de denúncia, de alerta.
Com tudo, o maior logro do Vicente Ansola e a sua teima de capturar instantes para lhos roubar ao tempo inexorável e impiedoso, nom é o livro, apesar de que sem dúvida editar um livro nom é umha tarefa liviá. O maior logro é que no seu remexer na memória destas aldeias que pareciam enmudecidas para sempre, conseguiu que o seu projeto artístico fosse revulsivo para que gentes da zona se movilizassem na teima de salvar Vilarxuvím das ruínas. E o primeiro fito já foi a restauraçom da velha escola.
Nesse Domingo em Vilarxuvím, puidem contemplar a emoçom nos rostos da gente. As pessoas de mais idade, estavam impressionadas polo trabalho feito na recuperaçom da escola. As mais jovens, maravilhadas pola impressionante mobilizaçom de vontades humanas que reunira à sua volta o “Aldeas sen voz”. E a pluralidade do pessoal assistente, surpreendeu-se a si próprio fazendo um ato de auto-afirmaçom coletiva. Libertando-se da resignaçom, do auto-ódio e de qualquer eiva paralizante. Será o começo de algumha cousa grande?
Será sem dúvida, pois comentava-me a minha amiga Maria José que está na vontade que um grupo de pessoas da zona se constitua em associaçom, para recuperar a aldeia de Vilarxuvím. Evidentemente, esse é um labor que vai muito mais aló de restaurar edificaçons em ruínas. Trata-se, obviamente, de revalorizar; que essas geraçons que virám detrás e já nom vivirám igual que os últimos resistentes dessas aldeias, conheçam como se viveu nesse assentamento rural e noutras aldeias da comarca até há realmente pouco. Que conheçam o sentido, a utilidade, de cada elemento de arquitetura popular que lá se conserva. Dar-lhe utilidade, que a gente implicada lhe tire proveito, para que esse ato de salvar Vilarxurvím da desapariçom tenha continuidade real.
Quando acontecem cousas como esta, dou-me conta da sorte que tenho de que alguns e algumhas achem que sou um poeta, cousa esta que duvido bastante, e que contem comigo para reivindicar o valor do nosso, por exemplo em projetos como ao que me acabo de referir. A arte é intervençom, oxalá houvesse mais artistas que o entendessem assim. E oxalá houvesse mais gente como Pablo Quintana, da editora Canela, que apostassem por projetos como “Aldeas sen voz”. A arte pode transformar a realidade. E nom é só idealismo...