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Jones Manoel

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Palavras Insurgentes

A vitória de Macri e o fim das "ilusões" pós-neoliberais

Jones Manoel - Publicado: Terça, 24 Novembro 2015 01:35

A América Latina parecia um "paraíso" de avanços frente à regressão mundial de direitos sociais, econômicos e políticos das classes exploradas. O ciclo aberto pela eleição de Hugo Chávez na Venezuela e seguido pela eleição de Lula, Nestor Kirchner, Evo Morales, Rafael Correia, Daniel Ortega, etc. pareciam anunciar uma era de pós-neoliberalismo. Governos identificados com a esquerda com graus de radicalidade diferentes que prometiam reverter à devastação das décadas de 80 e 90 através de reformas estruturais profundas (Venezuela, Equador e Bolívia) ou redução da radicalidade do neoliberalismo e fortalecimento de políticas sociais, serviços públicos e geração de empregos (Brasil, Argentina, Nicarágua, Chile, etc.) criando o social-liberalismo. Durante quase uma década a formula política diferenciada, mas com traços comuns, pareceu acertada.


O plano de fundo dessa estratégia política era conjuntural. Um aumento substancial do preço dos produtos primários que os países latino-americanos tradicionalmente exportavam e uma abundância de crédito no mercado mundial criou as condições para que sem superar a dependência e o subdesenvolvimento esses países pudessem promover - com particularidades próprias - ciclos de amplo crescimento econômico com grande redução das desigualdades socioeconômicas (Venezuela e Bolívia) ou redução significativa do pauperismo relativo e absoluto sem redução das desigualdades (Nicarágua, Brasil, Chile, etc.); no plano político os principais partidos do bloco burguês não tinham condições de operacionalizar a continuidade da gestão da ordem burguesa e surgiram crises de legitimidade política ou até da ordem do capital. Certo nível de compromisso das classes burguesas era um imperativo momentâneo de acordo com a conjuntura concreta de cada país. Os partidos políticos de origem proletária que aceitaram operacionalizar a hegemonia burguesa aplicando o social-liberalismo, como o PT, acabaram como consequência se enfraquecendo, enfraquecendo sua base social, perdendo espaço no conjunto da sociedade.

Quando a base material desses projetos esgotou-se - materializado principalmente na redução do preço dos produtos primários e nos limites do ciclo econômico de crescimento que para continuar necessita de reformas profundas contra o padrão neoliberal de reprodução do capital - e a burguesia conseguiu recuperar o terreno político perdido, os projetos social-liberais (Argentina e Brasil) e nacional-reformistas (Equador e Venezuela) entraram em crise ou estão em processo aberto de falência. A derrota do candidato kirchnerista na Argentina, a política agressiva de privatizações, retirada de direitos e apoio ao conservadorismo do PT, a crise e ruptura entre movimentos sociais e Rafael Correia no Equador, a participação do Chile nas negociações do Tratado Transpacífico, a crise do bolivarianismo na Venezuela e a vitória da ala conservadora da Frente Ampla no Uruguai anunciam a crise do paradigma dominante na esquerda latino-americana. A ideia geral de um projeto pós-neoliberal de reformas profundas, mas não anticapitalistas ou de uma política neodesenvolvimentista que não romper com as reformas estruturais do neoliberalismo, mas pretende atenuá-lo em nível de política econômica, está em crise; respira com aparelhos depois da vitória eleitoral de Macri na Argentina e pode ter morte terminal na eleição do dia 6 de dezembro na Venezuela. Curiosamente o único país da onda "pós-neoliberal" que não vê seu projeto em crise é a Bolívia, onde o MAS (partido de Evo e linera) demonstra uma vitalidade impressionante. Tempos difíceis nos aguardam!


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