Há inúmeros exemplos de empréstimos no galego-português.
Na Galiza atlântica muitos destes vocábulos aportaram nos cais para ficarem entre nós. Assim, polo porto de Vigo chegou brus, do inglês brush, que significa escova. No norte, na comarca de Trasancos, ir a filispim, full speed em inglês, é o contrário a ir devagarinho. Outro exemplo é choio, adaptação fonética da voz inglesa job, que em toda a Galiza é usada, num registo informal, com o significado de trabalho e que equivaleria no Brasil à palavra trampo.
No português brasileiro são hoje de uso comum numerosos anglicismos.
Os centros comerciais viram shoppings; a garrafa de cerveja long-neck; o congelador freezer; o projetor data show; o aparelho dos videojogos videogame; o rato do computador mouse e as equipas desportivas times. A bicicleta é comumente chamada de bike, os concertos shows e o controlo policial das estradas blitz.
No filme carioca Casa Grande (2015), o protagonista é um playboy. Um playboy é, no Brasil, um rapaz de família abastada, vai de motorista à escola, gosta de ginásio e de andar na maior gandaia, luze o corpo na praia e na boate mais chique da cidade ao fim de semana.
Também é usada no Brasil a palavra play, área de convívio dos prédios onde os moradores organizam aniversários, festinhas, etc., e fazem churrasco, dançam...
Ainda que a avalanche de galicismos na língua portuguesa já pertence ao passado ainda é identificável como de origem francesa algum léxico frequente no Brasil: bistrô, pequeno restaurante charmoso, onde servem refeições a la carte servidas por um garçom (empregado de mesa). Também é de uso quotidiano o galicismo boate em vez de discoteca, do português europeu.
Wafer, cookies, delivery, motoboy, folder, site, deletar, reprise/reprisar, valete, motor-home… A lista é longa de mais para sermos exaustivos.
É interessante sublinhar que todos estes estrangeirismos são pronunciados à brasileira. Muitos deles foram padronizados: panqueca (pancake), sinuca (snooker), bonde (bond). Outros sumiram no esquecimento: walkman.
Penas conservadoras dão o alarme polo uso do estrangeirismo. Nada de novo. A voz que adverte da ameaça e descaracterização de línguas nacionais, como as variedades brasileira e lusitana, é uma voz rouca de repetir a mesma ladainha.
Mudam os tempos e mudam as vontades e as línguas também mudam.
A luta contra os estrangeirismos é uma bandeira que, de tão velha, já é mais do que esfarrapada. Um discurso retrógrado que alimenta o preconceito linguístico baseado na inexistente pureza das línguas.
Um simples olhar ao passado é motivo de piada. Na ditadura Vargas, o Estado Novo fez um ridículo esforço por evitar o perigoso anglicismo football. O correto era dizer ludopédio. Hoje até o mais purista defensor da “ameaçada língua portuguesa” ficaria embaraçado se tivesse de dizer ludopédio no lugar de futebol.
É um preconceito linguístico supor que o que é percebido como estrangeirismo hoje permanecerá por muito tempo como elemento estranho e alheio à língua receptora. Basta com citar a engraçada mutação que no Brasil sofreu cheeseburguer até ao atual xis-queijo ou x-tudo. Cheese foi reanalisado para xis/x passando a significar qualquer sanduíche de hambúrguer, com ou sem queijo.
Quem alimenta pânicos desnecessários acredita que o estrangeirismo é um fenómeno exclusivo do momento histórico atual, uma insidiosa invasão estrangeira por meio da língua. Desconhece, no entanto, que a história das línguas é, em grande parte, uma história de empréstimos.