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Laerte Braga

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Livre expressão

A "baranga francesa"

Laerte Braga - Publicado: Terça, 03 Novembro 2015 00:10

“Mulher não nasce mulher, nasce uma baranga francesa que não toma banho, não usa sutiã e não se depila.” “Pai Santana” foi um dos mais folclóricos massagistas do futebol brasileiro. Começou no Fluminense, queimou a mesa do vestiário com um trabalho, foi demitido e foi para o Vasco, de onde nunca mais saiu. Quando lá chegou a fase do time da cruz de malta era ruim e Santana foi claro. “Só quando acharmos a caveira de burro que enterram em São Januário.” Obteve autorização para procurar a tal caveira e diz a lenda que achou atrás de um dos gols e a partir daí as coisas mudaram.


Jorge Alberto de Oliveira Marum, promotor em Sorocaba, São Paulo, foi o autor da frase que abre esse artigo e se referia a Simone de Beuvoir, escritora francesa, líder feminista e casada com Jean Paul Sartre, o filósofo do existencialismo. Marum não tem nem idéia do que seja isso. No máximo que Clark Kent é a identidade secreta do Super Homem e de desenhos japoneses com “raios de fogo”, “raios paralisantes”. O resultado é o cérebro paralisado. É ele próprio um zumbi desse modelo educacional que entre outras coisas evita que o cidadão pense, forme espírito crítico e saiba a importância de Simone de Beuvoir.

Um governador lúcido em São Paulo, é exigir demais de Geraldo Alckmin, entende muito de corrupção e sigilo, contrataria os seguidores de “Pai Santana” e autorizaria a busca da caveira de burro no estado. A capital por enquanto a despeito da ameaça de Marta Matarazzo, Datena e outros, está a salvo com Fernando Haddad. Não é possível que um estado concentre FHC, José Serra, Aluísio Nunes, Alckmin, Paulo Skaf e outros, escape impune a um tsunami político devastador.

Tudo isso como decorrência da prova do ENEM (EXAME NACIONAL DO ENSINO MÉDIO) que, teve como tema principal a violência contra a mulher e trouxe a baila o nome da autora da A LONGA MARCHA, um dos maiores romances da história. Fico a imaginar se o tema fosse ULISSES de James Joyce. Ou Kafka e sua obra perpétua, como a de Simone Beuvoir. Daqui a dois mil anos o mundo saberá quem foi a “baranga francesa” e não fará a menor idéia de quem foi o promotor Jorge Alberto de Oliveira Marum, plagiando Luís Vianna Filho, “uma pulga na asa de Simone”.

Por trás de tudo isso um ENEM que obrigou a pensar sobre um tema de relevância em nossa sociedade, a violência contra a mulher. A prática paulista é fechar escolas, reduzir o ensino de História e nem pensar em Filosofia. Construir presídios, privatizá-los e lotar de presos para dar lucros é a menina dos olhos do governador de São Paulo. A reação do promotor, que não conseguiria êxito no exame, não pensa, foi a de um carneiro seguindo o líder da manada com o sininho à frente para orientar os “ceguinhos”.

E interpretou o ponto de vista de outras figuras dessa manada. Não teve foi condições de articular uma frase mais condizente com o status de promotor e falou a asneira que falou, carregado de ódio e absoluta ignorância no autoritarismo de um Ministério Público que precisa, com urgência, ser renovado, modificado em suas estruturas, pois daqui a pouco vão banir da História figuras imprescindíveis ao conhecimento humano.

Há uma ação deliberada, por enquanto em São Paulo e no Paraná, ambos governados por tucanos, para que a ignorância se perpetue e as elites possam tomar banho todos os dias ao contrário dos trabalhadores e até da própria classe média, lambe botas dos que estão acima. Pensar vai se tornando um ato criminoso e o saber, formar espírito crítico, o ter consciência é um desastre impensável para essa gente que adora sair nua em passeatas contra o governo. Os quinze minutos de fama na previsão correta de Andy Wahrol e a perspectiva de um michê melhor que o costumeiro.

Penso que Marum deveria receber como punição ler a GRANDE MARCHA, conhecer a história de Simone de Beuvoir, fazer uma resenha do que aprendeu, se é que consegue aprender alguma coisa, ou então, mulheres estupradas ou vítimas de violência, nos processos em que ele for o promotor, serão indiciadas como acusadas, naturalmente por terem provocado.

A mediocridade do dia de hoje é espantosa e dá razão a Nelson Rodrigues que afirmou que o que mais cresce no Brasil “é o número de idiotas”. Incluir na lista o nome do promotor Jorge Alberto de Oliveira Marum.


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