Nom serei tam cego como para ignorar que as contradiçons internas do campo socialista som em boa parte as que provocárom a sua queda a começos dos noventa, nom serei tam néscio como para perder de vista a realidade de que a desapariçom do bloco do leste e da URSS pugerom em causa a viabilidade da Revoluçom cubana. Nom serei tam imbecil como para nom compreender que às vezes há que traçar curvo um caminho que preferiríamos traçar recto, e que as circunstáncias obrigam a desenhar de outra maneira (a dialéctica, com efeito...) e isto significa medidas económicas que criam privilégios circunstanciais ou situaçons um tanto peculiares. Nunca direi que o socialismo cubano é perfeito, e que classe de revolucionário seria o que tal dixesse? Há que lidar com umha ordem mundial em que o capitalismo saiu triunfante da Guerra Fria, com as conseqüências que isto tem.
Mas eu estou com Cuba, e estar com Cuba de maneira coerente e sem hipocrisias, é estar com a Revoluçom, com os seus ideólogos, com os seus dirigentes, com as suas instituiçons, e isto mesmo com aas críticas que se puderem formular a partir de dentro ou de fora; como se poderia estar com a Revoluçom sem lhe conceder legitimidade e credibilidade ao governo cubano, à Assembleia Nacional, ao Partido? Muito mesquinho seria um apoio desde a negaçom daqueles que estám à cabeça da Revoluçom cubana.
Eu estou com Cuba, porque em 1959 nom havia mais saída para o povo cubano que a Revoluçom, e também porque em 2010 continua sem haver qualquer perspectiva digna para os cubanos e as cubanas que a via socialista. A hipótese do capitalismo aparece como pouco prometedora, em vista de como estám as cousas noutros países da zona.
Eu estou com Cuba, ainda que nom seja cómodo defender este posicionamento. No meio da propaganda de guerra proferida polos media, que sempre encabeçam qualquer "informaçom" sobre Cuba com o apriorismo da pretensa ilegitimidade do que eles alcunham de regime ditatorial, nom é cómodo incardinar-se com a Revoluçom.
Eu estou com Cuba, porque admiro o povo cubano, a sua heróica luita pola independência primeiro, pola Revoluçom depois, e a sua resistência hoje. A indignaçom popular que suscitam as manifestaçons das Damas de Blanco deveriam fazer pensar os que continuam instalados no esquema de que há umha ditadura e de que o povo cubano deseja acabar com o que a propaganda do sistema chama "castrismo". Se isto é assim, porque os actos públicos da vanguarda "anti-castrista" geram tanto rejeitamento? A imagem das Damas de Blanco a se manifestarem polas ruas de Havana, escoltadas pola polícia cubana e contestadas por multitudinárias contramanifestaçons inverte o esquema dessa ditadura que nom respeita a liberdade de expressom e de manifestaçom: por muito que se tentar distorcer o que se vê a todas luzes, a realidade é que as forças de segurança agem em defesa do direito das Damas de Blanco a se expressarem e manifestarem, e que o povo cubano nom vê neste grupo de mulheres precisamente a umhas paladinas da liberdade; antes vê nelas umha ameaça. Essa imagem é demolidora para os dogmas que pretende assentar a propaganda contrarrevolucionária.
Eu estou com Cuba, porque por cima desses mitos que falam de um regime onde nom existem as liberdades, existe absoluta liberdade para a participaçom política. Que cada cubano ou cubana participa como quer e quando quer, é umha realidade. Que todo cubano ou cubana pode eligir aos seus e às suas representantes nos diferentes órgaos de representaçom, é umha realidade. Que qualquer cubano ou cubana pode candidatar-se ou propór candidatos ou candidatas,é umha realidade. Que um nom é candidato se nom quiger, é umha realidade. Que todo o mundo em Cuba é livre para se abster, é umha realidade. Que Raul Castro foi eleito para Presidente da República por umha Assembleia Nacional que foi eleita livremente polos cubanos e polas cubanas, é umha realidade. Eu pergunto a mim próprio como pode haver pessoas que se consideram progressistas que ponhem em dúvida o modelo de participaçom política quando todos e todas nós sabemos que o modelo das democracias burguesas, em cada umha das suas versons, permite a corrupçom, permite a traiçom ao mandato popular e está à mercé de quem financia as campanhas dos partidos políticos, que som os empórios mediáticos, a banca e as multinacionais... o capital, numha palavra. Campanha eleitoral e debate político som conceitos que no fundo todos e todas sabemos contraditórios.
Eu estou com Cuba, porque a Revoluçom cubana leva cinco décadas conseguindo ganhar-lhe a batalha à fame, à mortandade infantil e a enfermidades que nos países da área som mortais de necessidade. O turismo sanitário é um fenómeno absolutamente tapado, os media prefirem falar do turismo sexual, que mais ou menos imagino que existe em todo o mundo de maneira mais ou menos encoberta, nom há mais que ver os reclamos sexuais indissimulados da publicidade dos destinos turísticos mais solicitados.
Eu estou com Cuba, porque a Revoluçom conseguiu há muito tempo erradicar o analfabetismo, e porque o povo cubano, graças à política educativa cubana é culto e instruído como poucos. Um cubano ou umha cubana com habilidades desportivas ou artísticas, nunca vai ter que deixar de desenvolver essas habilidades por falta de recursos económicos.
Eu estou com Cuba, porque a pesar dessas estupidezes que se dim de que é um povo sumido na miséria onde a gente morre de fame (isto segundo é umha mentira obscena, que se repete sem pudor nengum) está nos indicadores de desenvolvimento humano por cima do Brasil e outras potências emergentes.
Eu estou com Cuba, porque Cuba é umha potência desportiva sem necessidade de que as suas selecçons se nutram de desportistas de fora a golpe de cheque; é todo canteira própria. Os desportistas cubanos de elite nom som milionários, som gente normal que no seu país leva umha vida normal. Cuba conseguiu conjugar o desporto como direito popular com a criaçom de umha elite desportiva que compite dignamente a nível internacional. Nom há jogos olímpicos em que Cuba nom consiga algumha medalha.
Eu estou com Cuba, porque apesar de todos os problemas, é a prova de que o mundo se pode construir de outra maneira, de que outra sociedade, outra organizaçom económica, outra organizaçom política... som possíveis. De que um outro mundo socialista é possível.
Fonte: Primeira Linha.