Já em finais do século XIX, Rosália de Castro escreveu o poema Xan, variante familiar de João. Neste texto de Folhas Novas, João e Pedro tornam-se nomes comuns antónimos. O “Jam compreto” rosaliano é sinónimo de pau-mandado ou, como diríamos na Galiza, um minha-joia; um coitado de quem todo o mundo tira proveito. Pedro, polo contrário, seria malandro, raposeiro.
José, também vulgar entre nós, foi um viçoso pomar para a criação de vocábulos. Assim, a minha amiga e ex-aluna na UERJ, Fernanda Lacombe, informa-me que um joselito/a é uma pessoa sem noção da realidade, meio otária, e engraçada pola sua incapacidade de enxergar as cousas como elas são. Com o hipocorístico Zé o português gerou múltiplos nomes compostos: Zé-ninguém, homem insignificante; os brasileirismos zé-ruela e zé-boceta, pessoa passiva, que não consegue pensar numa solução para resolver um problema e o zé-povinho, que virou um ícone contemporâneo português da mão do pai da caricatura lusa, Rafael Bordalo Pinheiro. O zé-povinho simboliza o povo que sempre anda a reclamar mas nunca luta para melhorar a sua situação. Lembremos que na Galiza Zé palatalizou ou ensurdeceu, como testemunham o escritor Xé Freyre e a cantora Sés.
Mané (ou zé-mané), corruptela de Manuel/ Manoel, é palavra de uso geral no português brasileiro. Um mané é um parvo, um bobo, mas também um bordão usado para interpelar pessoas e que tem aqui o mesmo significado que o cara brasileiro, o meu galego e o pá português.
Um outro recurso muito produtivo na formação de novas palavras por sufixação no português americano é a terminação –ão. Sobre Ricardo surge ricardão, com o significado de amante.
Talvez o sufixo mais distintivo da língua galego-portuguesa seja inho/a. Maurício e Patrícia acrescentam este sufixo para se referirem a pessoas que nos modos e na aparência são considerados como pertencentes a uma classe social abastada. Os mauricinhos e as patricinhas vestem roupa clássica, de marca, cara, dão muita importância à estética e costumam ser populares mas também arrogantes. Em Portugal, também foi um nome, Beto, com o sufixo –inho/a a origem deste conceito. Os betinhos e betinhas de Cascais equivaleriam aos mauricinhos e patricinhas do Leblon, bairros nobres das áreas metropolitanas de Lisboa e do Rio de Janeiro.
A erosão e estagnação que sofreu o léxico galego fez com que, por vezes, não exista uma denominação vernácula para exprimir certas realidades. Um bom exemplo disto são os citados mauricinhos e patricinhas que certamente podiam suprir no galego moderno os castelhanismos pijo e pija.
Imagens: Mauricinho e figura de Zé-povinho.