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Igor Lugris

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Novas melodias com velhas letras

Igor Lugris - Publicado: Quinta, 03 Setembro 2015 00:37

Há um tema musical com relativo sucesso nos últimos messes, e que se repete praticamente a todas horas nas rádios e televisões, e do que não param de falar nos jornais e em centos de páginas e blogues, de twitters e facebooks, e que tem uma letra realmente insultante, fortemente agressiva e descaradamente machista.




Não sei dizer qual é o seu título, porque o certo é que há mais de meia dúzia de versões (todas com muita difusão) que sempre mantêm a mesma melodia original, mas que mudam parcialmente a letra: umas vezes empregando sinónimos para intentar diferenciar-se, e outras vezes variando a ordem das estrofes, para intentar aparentar diferencias.



A melodia que todas partilham trata-se duma "adaptação", para não dizermos descarado plágio, dum tema tradicional do folclore espanhol mais antigo, e que qualquer pessoa poderia tararar mesmo não sabendo reconhecer a autoria da mesma nem sendo capaz de memorizar toda a letra. Mas é uma melodia "pegadiza", "fácil", e "sem complicações", como diria um tertuliano da rádio-fórmula. A única novidade é que agora se intentou atualizar, botando mão de ritmos mais na na moda, com vistas a atrair mais público e, por tanto, ampliar o mercado. E isto, em verdade, parece ser que estão a consegui-lo, porque há quem antes não se achegava a estas músicas e agora gosta tanto delas que as escuta e repete a todas as horas e sempre que pode.



A letra (insisto que com ligeiras variantes), vem insistindo na típica mensagem machista e agressiva de amante ofendido: não te podes ir porque és minha; aonde vás ir, se sem mim não és nada; não te deixo marchar, não tens direito; com todo o que eu tenho feito por ti, e agora me pagas assim; lembra o felizes que éramos antes; levamos muitos anos juntos para que agora te queiras ir; como te vaias não penses em voltar; fica comigo, prometo mudar o meu comportamento, todo será diferente, vás ver; se te vás, dir-lhe-ei a todo o mundo que és uma mentirosa, uma traidora, uma puta; ninguém te vai querer como eu te quero; já me encarregarei eu de que não podas falar com ninguém; não vás ter dinheiro para viver; ver-te-ás na rua, só, abandoada e sem amizades; etc... As versões mais explícitas incluem ameaças de agressão física (vou-te zurrar até que mudes de opinião; romper-te-ei todos os ossos do corpo para que não te podas ir;...) e mesmo poder chegar a fazer menção a maus tratos em épocas anteriores (lembra que já há anos quiseste marchar, e me vi na obriga de te romper as pernas para evitá-lo).



Indignante, não é? Como podemos comprovar, são letras com um alto conteúdo de apologia da violência, e nas que as ameaças de todo tipo não se dissimulam, antes disso, fazem-se explícitas.
 


É necessário prestarmos muita atenção e trabalharmos para evitar na expansão destas músicas, porque se bem é certo que nunca desapareceram por completo do panorama e sempre conservaram uma presencia mais ou menos destacada, dum tempo a esta parte estão a conhecer um importante ressurgimento das mesmas, sendo aceites, as mais das vezes acriticamente, por numerosos setores da sociedade.



E o mais perigoso, contra o que se poda pensar, não é o seu sucesso entre pre-adolescentes, adolescentes e post-adolescentes. O preocupante é a grande quantidade de pessoas adultas, algumas delas tidas por progressistas, radicais e/ou ruturistas, que se deixam apanhar por estas músicas, sem refletir o mais mínimo sobre o seu verdadeiro significado.



Por pôr um exemplo recente e bem conhecido, uma das últimas pessoas a quem escutei cantar publicamente uma destas canções, foi a todo um ex-presidente do governo espanhol, que se atrevia a publicar a canção num jornal espanhol, com grande destaque, e falando da Catalunya.

Ponferrada, O Bierzo, Galiza
Setembro 2015


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