A primeira, fundamental para nós, situa-se na importáncia da soberania nacional e na falácia da obsolescência dos estados na etapa imperialista que vivemos. Mais ainda: nem sequer chega com ter um Estado para garantir o exercício da soberania nacional, quando importantes mecanismos de poder dessa soberania fôrom entregues ao grande capital financeirizado europeu, por sua vez subsidiário do norte-americano.
Já quase ninguém discute que a situaçom da Grécia responde em boa medida à sua situaçom de total subordinaçom em relaçom a esse grande capital, que através do sistema da dívida e da cooptaçom da sua burguesia submete o povo grego a umha humilhante extorsom económica e política.
Assim sendo, que na Galiza, naçom sem Estado dependente do subsidiário Reino de Espanha, haja setores da esquerda institucional a vender-nos o caráter secundário da luita soberanista e que esses setores tenham umha significativa e crescente “quota de mercado eleitoral” dá ideia da importante desvertebraçom do nosso povo e do avançado estado do processo desnacionalizador de que historicamente e até hoje temos sido objeto.
Contra as acusaçons habituais por parte da corrente maioritária do nosso nacionalismo, nom cremos que a renúncia nacional protagonizada por Beiras, Abalo e companhia seja responsável pola crescente espanholizaçom da política galega. Achamos antes que esses setores som a expressom de umha tendência de fundo para a qual, de facto, também contribuírom os erros do próprio BNG durante anos.
Umha segunda liçom do caso grego indica-nos a irreleváncia que pode chegar a ter o que um povo vota, dando plena vigência à velha distinçom leninista-gramsciana entre poder e governo.
Talvez o da Syriza nom seja o melhor exemplo, pois o seu caráter reformista era patente muito antes de ganhar as eleiçons gregas, mas é um facto que nengum programa de rutura poderia ser aplicado sem um sustento popular massivo e ativo. Nem sequer as mornas medidas renegociadoras da dívida, contra a austeridade e antimemorandos tenhem espaço já frente à linha dura do grande capital.
Acabamos de assistir ao fim de um sonho, o social-democrata, que a prática totalidade da esquerda institucional europeia ainda abraça –e nom me refiro aos ditos “partidos socialistas”, há muito situados do lado do grande capital. É a suposta “esquerda alternativa” ou “radical” a que hoje defende programas de volta ao Estado de bem-estar, umha oferta fraudulenta assumida pola própria Syriza e polo seu amplo coro, institucionalmente agrupado no Partido da Esquerda Europeia (PEE), ao qual se adscrevem IU e Podemos no Estado espanhol. E nom só.
Em definitivo, o exemplo grego confirma a necessidade de umha esquerda que assuma e defenda um programa de verdadeira rutura, que só poderá ser sustentado e aplicado em duas vertentes: umha prévia, extraparlamentar (isto é, fora dos parlamentos), que dê forma a um poder popular confrontado ao hegemónico poder igualmente extraparlamentar do grande capital; e, a partir daí, umha segunda vertente, subsidiária da primeira, de caráter institucional. Só assim poderemos chegar, por via eleitoral e/ou insurrecional, a um governo do povo organizado, sustentado no verdadeiro poder popular.
As atuais esquerdas “alternativas” ou “cidadanistas” tenhem atuado em sentido contrário: proponhem um retórico “assalto ao parlamento”... que só serve para desativar o descontentamento e a mobilizaçom popular. Isso representa a alternativa de Podemos a nível espanhol em relaçom ao 15M, mas também a esquerda institucional galega, coerente com a velha tese do “muro de contençom” formulada nos anos 90 por Xosé Manuel Beiras. O mesmo Beiras que na altura era porta-voz do Bloque e hoje é alma mater da “nova política” na Galiza.
Algumhas forças da esquerda europeia começam a assumir a saída do euro e da Uniom Europeia como medidas imprescindíveis de um programa ruturista, nomeadamente na Grécia e Portugal. Outras forças e países irám fazê-lo proximamente. Na Galiza, onde a maior parte do nosso nacionalismo tem sido crítica com a CEE, com Maastricht e com o euro desde o minuto um, a reclamaçom do Estado galego soberano deverá incorporar-se ao programa da única esquerda capaz de sair da crise: A que nos leve a umha clara rutura com Espanha e com o capital.
Certamente, um programa assim nom terá imediato apoio eleitoral maioritário. A participaçom eleitoral que tanto obsessiona a esquerda institucional deve ceder protagonismo à construçom de força social pola independência e o socialismo. Temos no nosso país umha longa tradiçom de mobilizaçom e luita popular, hegemonizada por forças soberanistas, que deveria ser recuperada num processo de unificaçom de forças, até se converter no principal terreno de confrontaçom do programa galego e ruturista com o continuísmo espanhol-capitalista.
Propostas utópicas? Utópico foi atribuir um papel transformador a Tsipras, como antes a Lula ou mesmo a Tony Blair! Os mesmos representantes, com nomes e apelidos, da nossa esquerda institucional já figérom todo isso nas últimas duas décadas!
As condiçons sociais nom vam deixar de deteriorar-se no contexto da crise estrutural do capitalismo na Europa. Umha estratégia de mobilizaçom, construçom e luita de massas pode armar a contestaçom galega e popular à crescente miséria que Espanha e o decadente sistema capitalista nos imponhem. A afirmaçom soberanista galega, explicitamente independentista, deve ser parte substancial da verdadeira unidade popular que situe o socialismo como horizonte possível.
Em lugar disso, até agora a política galega parece existir só em torno de cada novo processo eleitoral e num eterno debate entre o cidadanismo pró-espanhol e um soberanismo com escassa definiçom de classe. Umha ciranda eleitoral em que já todos governárom, sem que nada de substancial tenha mudado, porque o poder extraparlamentar se mantém nas mesmas maos.
A Grécia mostra-nos agora os claros limites dessa ciranda eleitoral que gira e gira sem umha força de massas que sustente a verdadeira alternativa. Syriza, como proposta de “esquerda radical” exclusivamente eleitoral, foi incapaz de alterar a correlaçom de forças –concedendo-lhe que realmente aspirasse a isso. Tampouco o faria a sua 'plataforma de esquerda', que agora vai romper com Tsipras para se apresentar às novas eleiçons. Ninguém o fará limitando-se ao jogo estéril da alternáncia institucional burguesa que a esquerda vem praticando há décadas, também na Galiza, como expressom da sua derrota histórica.
Sem desprezarmos o papel das eleiçons e evitando cair no voluntarismo esquerdista, é necessário que deixemos de reproduzir a ciranda inútil de um jogo de cartas marcadas. Que tal iniciarmos umha nova partida em que a construçom de força social permita impor as regras da maioria?