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Emir Sader

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Carta Maior

García Linera: da indignação à esperança

Emir Sader - Publicado: Segunda, 20 Julho 2015 14:58

Na sua exposicão no seminário sobre Emancipação e Desigualdade, organizado pela Secretaria da Cultura da Argentina, o vice-presidente da Bolívia, Álvaro García Linera, fez uma síntese dos caminhos pelos quais os governos progressistas latino-americanos podem superar seus problemas atuais e seguir em frente.


Em primeiro lugar, disse ele, há uma necessidades insuperável de que exista um modelo econômico que funcione. Sem isso, não há desenvolvimento econômico, não há melhoria da situação do pais, não há avanços substanciais nas condições de vida da grande massa da população.

Pode parecer uma visão demasiado simples, mas com sua intensa experiências de já quase uma década de governo e com a carga de problemas econômicos e sociais pendentes nos países do nosso continente, García Linera sabe dos desajustes, das insatisfações, das debilidades para se impor um novo modelo hegemônico, quando não há uma política econômica de sucesso, que atenda, de diferentes maneiras, a todos os setores que é preciso dirigir para se legitimar como governo. Que fortaleça e desenvolva de forma sustentável as condições materiais em que repousam nossas sociedades.

Na conversa pessoal que tivemos em seguida, ficou clara sua preocupação com os modelos econômicos de países progressistas da região, que tropeçam com problemas estruturais não resolvidos, agudizados pelo terrorismo econômico interna da posição e pelo cerco financeiro internacional sobre os países que não se resignam aos modelos do FMI. Que não se trata de uma visão economicista, está claro por todo o pensamento de García Linera e pelo próprio governo de Evo Morales. É um enfoque de construção da hegemonia pós-neoliberal.

Trata-se, ao contrário, de um elemento essencial na construção dessa hegemonia. Subestima-lo é se deixar levar pelas correntes avassaladoras da especulação financeira e do poder dos bancos que dominam o capitalismo contemporâneo. Não construir, a partir do Estado – elemento que ele valoriza de diferentes maneiras, como seus inovadores raciocínios do último período o demonstram -, esse modelo próprio, é permanecer reagindo a mecanismos recessivos, depressivos, que deixam nossas economias presas no circulo vicioso das cadeiras financeiras do neoliberalismo e que além disso se prestam ao pessimismo que a direita trata de impor sobre o ânimo das pessoas.

Mas se esse é um elemento estrutural das alternativas sustentáveis ao neoliberalismo, há mecanismos indispensáveis, destacados por García Linera, para que esses processos não apenas se mantenham vivos, mas que além disso se renovem e se estendam permanentemente na direção de camadas mais amplas e jovens das nossas sociedades.

Um é suscitar permanentemente a indignação diante das injustiças da sociedade capitalista: a exploração, a discriminação, a exclusão social, a opressão, a violência contra os mais frágeis, o machismo, os monopólios da riqueza e da palavra, entre tantas outras injustiças.

Esse é a mola permanente que permite impedir que descanse, que repouse, que se aliene a consciência das pessoas. Desenvolver esse trabalho permanente é responsabilidade de todos os militantes por um mundo melhor: de governantes a militantes de base, de sindicalistas a professores, de dirigentes de organizações sociais a dirigentes de organizações culturais, de intelectuais a jornalistas – total, de todos, como seres humanos.

Mas para que essa indigna ao seja despertada, mobilizada, tem que encontrar alternativas viáveis, reais, para vislumbrar que o outro mundo possível não só seja necessário, mas também possível. Tem que encontrar forças e lideranças capazes de encarnar essa rebeldia, essa resistência a toda resignação, a toda burocratização, a todo desalento, a todo pessimismo. Forças que proponham e personifiquem estratégias de ação ao mesmo tempo audazes e factíveis, utópicas e realistas.

Indignação e esperança – essa é a fórmula de mobilização das forças sociais, políticas, culturais, intelectuais, para a construção do mundo que supere definitivamente a sociedade construida sobre o poder do dinheiro e da violência, para uma sociedade baseada no poder dos direitos de todos, da solidariedade, no poder dos povos e dos seus valores.


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