Desta vez, com um artigo extremamente crítico de José Francisco Puello-Socarrás, professor de Ciência Política da Universidade Nacional da Colômbia, publicado no portal “Rebelión”, em 27/06.O autor considera que o decreto de Francisco se inspira em uma versão alemã do neoliberalismo, contrária à ideia de que “a sociedade funcionaria harmônica e perfeitamente graças aos automatismos do mercado”. Rejeição que o Vaticano teria endossado há décadas.Desse modo, o tom crítico da bula seria apenas produto de uma visão que considera necessária alguma regulação sobre a economia, mas jamais abrindo mão da primazia do mercado. Não à toa, nota Puello-Socarrás, “na análise ecossocial de Francisco, a palavra ‘capitalismo’ brilha por sua ausência”.O texto apresenta vários elementos polêmicos para justificar suas afirmações. Mas, concorde-se ou não com eles, um aspecto levantado pelo autor faz muito sentido. Por que Francisco resolveu visitar Equador, Bolívia e Paraguai, ignorando Argentina e Brasil? Em especial, este último, considerado referência na questão ambiental?Segundo o autor, aqueles três países:
... figuram hoje como fontes paradigmáticas de complexos processos populares onde o Suma Qamaña (aimara), o Sumak Kawsay (quéchua) e o Ñandareco (guarani) –, ou seja, horizontes para o Bem Viver/Viver Bem dos povos – emergiram como matrizes civilizatórias, alternas e nativas: alternativas! Não somente contra o neoliberalismo em qualquer uma das suas versões, mas, para além, como propostas potencialmente anticapitalistas.
Aparentemente, o Papa Pop sabe onde é preciso disputar a hegemonia religiosa. Lá onde há influência de cosmologias muito menos amigáveis ao capitalismo, sistema que a doutrina vaticana sempre abençoou.