Tudo seguindo o guião, tal como a Dona Alemanha nos dita pela telefonia. Ai os gregos, malditos, vejo-me grego para os entender, nem sequer sabem que NAI soa a não e, por exclusão das partes, OXI a sim. Mas não é ao contrário? Vamos gregos, assim é que ninguém se entende.
Se hoje olho para a Europa, continente a descumprir a sua história, incapaz de se desenvecilhar das amarras com que atou os seus povos, sinto que será precisa muita solidariedade, vestida de luta, resistência e criatividade para sair deste modelo neo-liberal. É que vejo estados, igualmente reféns da situação financeira, que, ao contrário de estarem de braços dados com Grécia estão a querer distanciar-se dela, esperando que esta se afunde. E o meu estado não me representa. Infelizmente até tenho vergonha que o estado seja, amiúde, confundido com a minha nação. E que a nação, subserviente aos tentáculos do estado, nas suas mais diversas formas, ande perdida à deriva num mar de dívidas que não sabe onde desencantou. Quanto ao estado, esse sim, sabe e até elaborou o plano.
Restem-me as manifestações populares, cá em Berlim, onde dizem ser o centro da merkelândia ou em qualquer outra cidade da Europa, onde as pessoas através de movimentos políticos, associativos, despertam. Quando vejo essa solidariedade, dá-me vontade de desdizer tudo. Tudo. Até de riscar o primeiro parágrafo. Cresce-me um quê de esperança nos dedos e faz-me dedicar todas estas linhas ao povo grego que diz OXI, que quer dizer não – prometo, não me irei confundir mais: é a culpa do vento.
O vento confunde-me nas respostas às minhas perguntas, sobre notícias do meu país. O vento só me traz propaganda dos larápios que, juro, me obrigaram a fugir daquele país encalhado junto à costa. Enfim, o vento – coitado, espero que não tenha sido privatizado – bem filtrado e com um ar límpido e amaciador, nada me diz sobre o povo que ousa construir a diferença, a solidariedade e, mais que tudo, ousa construir uma Europa gritante a passar pelas ruas. Se o escuto, teima em trazer-me desgraças, dessa Quimera vestida de instituições financeiras, de recibos de dívidas, de saídas do Euro, de inflação, de perda de competitividade, apavorando e, perversamente, já temperando a última ceia, recheada de todos os rebanhos que, coitados, apenas têm no seu pequeno léxico “més” estridentes ao seu carrasco.
No entanto, quer a sorte, ou melhor, quer a vontade firme das mulheres e dos homens que ousam defender a liberdade que o vento, apesar de tudo, traga em seus ares, sementes e canções contaminadas de esperança na Grécia e em Portugal, por contágio. Eu, estando em Berlim, que possa também contribuir para essa resistência: são muitas, cada vez mais, as ovelhas que tiram a pele e são lobos prontos a resistir: são vídeos no Youtube, são posts nos Twitter, no Facebook, são fotos no Instantgram, e, acima de tudo, somos pessoas na rua que mostram a resistência e berram OXIs claros, sem necessidade de tradutores(!) numa Europa que tem, algum dia, de ser nossa. E por isso, em Berlim também se diz OXI, como quem quer dizer NEIN.