Os monopólios de mídia divulgam mais notícias bizarras sobre a Coréia do Norte. Agora Kim Jong-un teria mandado envenenar a sua tia e matado seu general com bateria antiaérea por dormir numa reunião. As notícias foram divulgadas pelo Jornal O Globo e todos os principais monopólios de mídia do país, que citam a CNN como fonte para o primeiro caso e a agência de inteligência sul-coreana para o segundo. Em ambas as notícias não temos qualquer prova concreta [1].
A primeira coisa que deve ser esclarecida é de onde vem às notícias sobre a Coréia do Norte. A imensa maioria delas é produzida na Coréia do Sul que, ao contrário do que fala os monopólios de mídia, é uma ditadura ferrenha e sem liberdades mínimas. Na Coréia do Sul existe uma Lei de Segurança Nacional - semelhante a que existia durante a ditadura militar brasileira - que proibi qualquer pessoa (professor, jornalistas, escritor, etc.) de elogiar a Coréia do Norte. Qualquer informação considerada elogio é passível de prisão (como um rapaz que foi preso por causa de um post no twitter e foi condenado a um ano de prisão [2]). Pouco tempo atrás uma professora dos EUA foi expulsa da Coréia do Sul porque numa aula fez comentários considerados positivos sobre a Coréia do Norte [3]. Um grande partido de esquerda também foi posto na ilegalidade acusado de defender o socialismo e a Coréia do Norte [4]. Não precisa nem dizer que militantes, jornalistas e professores universitários de esquerda são extremamente perseguidos no país.
Logo, além da tendenciosidade clássica dos monopólios de mídia e de sua necessidade de ataque sistêmico à Coréia do Norte por ser um país que controla nacionalmente suas riquezas e é um símbolo da luta antiimperialista na Ásia, temos a questão de que a fonte das notícias serem de péssima qualidade (para dizer o mínimo). Notícias como a de que Kim Jong-un teria matado seu tio, namorada e mandado todos do país cortar o cabelo igual ao seu surgiram na Coréia do Sul.
Ainda sobre essas notícias bizarras, outra coisa chama atenção. Elas são divulgadas e pouco tempo depois desmentidas. A notícia falsa recebe ampla e irrestrita divulgação e a notícia verdadeira não recebe nem ¼ da divulgação. A notícia de que Kim Jung-um teria mandado matar um general com bateria antiaérea, por exemplo, já foi comprovada como falsa. O sujeito apareceu vivo em evento oficial do governo. O Globo de maneira cretina diz “que a notícia não está confirmada” [5], depois de divulgar como se fosse uma verdade inquestionável.
Mas por que falar de racismo nesse caso? Historicamente, quando o imperialismo europeu dominou a Ásia, a ideologia dominante usou um discurso de que os asiáticos eram seres bárbaros, sem civilidade, sem ética, sem sentimentos, atrozes. Praticamente não-humanos. Usavam essa ideologia para justificar as brutais invasões imperialistas e todas as barbáries decorrentes. Essa “natureza subumana” dos asiáticos era mostrada como algo de caráter racial. As notícias sobre a Coréia do Norte têm o mesmo fundo e forma histórica, embora, na atualidade, o caráter racial não seja explícito. Mas notícias que falam de canibalismo em massa, pessoas sem cérebro hiper-controladas, comportamento sádico e lunático dos líderes, assassinatos bizarros e macabros, etc. tem o mesmo objetivo que o imperialismo do século XIX e XX: mostrar os asiáticos, nesse caso especifico os coreanos, como serem sem civilidade, subumanos. Se você reproduz essas notícias, você está sendo racista, mesmo sem saber.
Notas: