Foi no corredor de uma multinacional cheia de homens engravatados. Um deles, de sotaque madrileno, explica em castelhano aos colegas que a sua adaptação a Lisboa não está a ser fácil por causa do idioma. Nem fala nem entende. “Si fuese gallego sería más fácil”. Lamenta-se o espanhol. Os portugueses assentem. “Ninguém é perfeito”, brinca com engenho um alfacinha. Todos riem, incluído quem escreve estas linhas que é a primeira vez que ouve um alto executivo de Madrid a desejar ser galego.
No mundo das empresas, da concorrência, dos curriculum vitae, é fundamental tirar proveito das nossas qualidades. O homem de negócios madrileno sabe-o bem e em Lisboa é consciente da grande riqueza, da vantagem competitiva com que contamos os galegos e as galegas: o nosso idioma.
Este engraçado episódio não deixa de ser a prova palpável de que as palavras escritas há mais de meio século por Castelão, intelectual galeguista e símbolo de união do povo galego, fazem sentido: “o galego é um idioma extenso e útil, porque –com pequenas variantes- fala-se no Brasil, em Portugal e nas colónias portuguesas”.
Hoje, felizmente, já não há colónias portuguesas mas a nossa língua continua a ser falada com diferentes aromas e sabores na maior cidade do continente americano, São Paulo; no exótico território chinês de Macau, na emergente Angola ou na distante Oceania, num dos mais novos estados do planeta, Timor Leste.
O que foi vice-reitor da Universidade de Santiago de Compostela, Elias Feijó, formulou uma imagem muito eloquente: “Cunqueiro podia ter escrito um conto sobre como se comportariam os galegos sentados sobre um imenso tesouro, a dialogarem sobre o seu futuro, sem saberem o valor desse tesouro”.
Será que vale a pena renunciarmos a uma ferramenta mundial, um idioma extenso e útil, um tesouro como o idioma galego?
Aprender uma lingua não é fácil. Porém, no nosso caso é só decorarmos essa frase de Castelão: o galego é extenso e útil. Porque o galego é a quinta língua mais falada no mundo. O galego não só nos dá identidade senão que nos dá bem-estar, abre-nos as portas da felicidade polo simples privilégio de sermos galegos, pois, voltando a Castelão, “se ainda somos galegos é por obra e graça do idioma”.
Na nossa terra o galego está a deixar de ser a língua de comunicação da gente nova. Mas, que ganhamos com isso? Precisamos de mais galego para vivermos melhor, porque o galego é uma oportunidade. Vamos renunciar a ela?
Este artigo foi apresentado à XI edição do prémio a artigos jornalísticos normalizadores da Câmara Municipal de Carvalho que foi ganho polo artigo Etiquetaxe de Luz Cures.