Basicamente, a trama gira em torno da falência de um lar chefiado autoritariamente por Hugo. Como tradicional patriarca da pequena família, ele atua como consultor financeiro, mas faz jogadas desastradas no mercado.
Para manter as aparências, Hugo torra as economias, incluindo a "poupança das crianças". Acumula dívidas e calotes. Inclusive, os trabalhistas, junto a seus empregados domésticos, a quem trata com a cortesia de quem parece lamentar o fim da escravidão.
No entanto, talvez seja exagero considerar a família retratada como exemplo da verdadeira Casa Grande brasileira. É verdade que possuir uma casa com 1.400 m2 de área construída fica bem acima do padrão residencial nacional.
Mas uma das causas da derrocada financeira da família é, por exemplo, o investimento em uma empresa de Eike Baptista. Este sim, legítimo representante daqueles para quem luxuosas mansões não passam de uma pequena parte de um patrimônio muito maior.
Os novos senhores de escravos assalariados controlam fábricas, fazendas, bancos, importantes participações acionárias e grandes e rentáveis lotes da dívida pública brasileira. Não estão sujeitos aos humores do mercado, como o infeliz sinhozinho da Barra da Tijuca.
Mas é este setor social, com suas frágeis posses e ideias idem, que costuma ladrar contra políticas econômicas redistributivas. São seus membros que rosnam ao ouvir falar de políticas de cotas e só abanam o rabo quando olham com inveja para a racista e desigual sociedade estadunidense.
Enfim, são estes os quadrúpedes que correm, de língua de fora, quando os verdadeiros proprietários das Casas Grandes gritam por eles: "Aqui, classe média!".