Um, Álvaro Garcia Linera, professor universitário, militante político, preso e torturado por isso, grande intelectual revolucionário, que articula fina capacidade de elaboração teórica com a prática política. Tornou-se o maior intelectual latino-americano contemporâneo. O outro, Eduardo Galeano, de que conhecemos a insuperável capacidade de captar a realidade nas suas expressões mais cotidianas, ao lado dos grandes e cruéis fenômenos globais, a partir da sua visão humanista e solidária. O melhor escritor latino-americano contemporâneo.
Os dois correspondem, de distintas maneiras, ao que se chama de intelligentsia - intelectuais críticos, que abordam os temas mais relevantes, e linguagem acessível, defendendo aos mais oprimidos, humilhados, ofendidos. Uma categoria – intelectual da esfera pública – que está em processo de extinção.
A vida acadêmica condiciona a prática dos intelectuais de forma a que tendem a ser absorvidos por demandas burocráticas, a escrever conforme os cânones das instituições, a aderir a especializações cada vez maiores. E, como consequência de tudo isso, a despolitizar-se, a distanciar-se dos grandes problemas contemporâneos das nossas sociedades.
Nunca como hoje a América Latina necessitou tanto de intelectuais que coloquem sua capacidade de reflexão e de formulação de propostas alternativas a serviço do enfrentamento dos grandes desafios que se colocam para as nossas sociedades. Mas – é preciso dizer – poucas vezes, mais ainda em períodos históricos tão transcendentais como este, a intelectualidade latino-americana esteve tão ausente da participação ativa nos processos políticos e de elaborações teóricas vinculadas aos grandes desafios que enfrentamos. Há muitas exceções, mas não correspondem a todo o potencial do pensamento crítico das nossas universidades, dos nossos centros de pesquisa, das distintas formas de prática intelectuais.
Sem essa contribuição, que favorece a rearticulação entre a teoria e a prática, a reflexão intelectual se manterá intranscendente, enquanto que a prática política sentirá a falta da capacidade de criação estratégica, que necessita de um poder de elaboração teórica que capte os grandes problemas que enfrentamos e ajude a formular as alternativas para superá-los.
É verdade que entidades que antes convocavam a intelectualidade para essa participação - criavam espaços para isso, se pronunciavam sobre os grandes problemas políticos do nosso continente - agora se mostram dominadas por praticas burocráticas, despolitizadas, ausentes da esfera pública nos planos políticos e intelectual. Mesmo assim, é possível que os intelectuais se mobilizem e intervenham muito mais do que fizeram até aqui.