O protesto do dia 13 afirmava ser em defesa da Petrobras, contra a política de ajuste fiscal anti-povo, pela reforma política e contra o golpismo. Qualquer pessoa que foi na manifestação observou que ela era também - talvez principalmente - um ato de defesa do governo Dilma. Tínhamos, inclusive, pessoas distribuindo camisas, adesivos, bonés, etc. com o rosto de Dilma.
Qual a resposta do governo para os protestos do dia 13? A presidenta declarou ontem, em coletiva de imprensa, que os ajustes são necessários. Reafirmou a certeza em sua linha política, chamou a responsabilidade da política para si e deixou claro que não existe qualquer possibilidade de revisão. Sobre a Petrobras a resposta é pior. A empresa anuncia a venda de um pacote com distribuidoras, postos [de gasolina] e termoelétricas. A Petrobras Distribuidora, dona da marca BR, também entrará nessa privatização. A coisa é ainda mais grotesca. O Bradesco BBI - o mesmo Bradesco do Joaquim Levy - foi escolhido para "cuidar" da venda dos ativos da Petrobras Distribuidora. Semana passada foram vendidos 13 bilhões em ativos da Petrobras e agora isso. É o início do fim do que resta de público na empresa. E sobre a reforma política não precisa nem falar. O Governo Federal finge que é surdo e não toca efetivamente a pauta.
Contudo, nos protestos do dia 15, o Governo Federal foi rápido em dar uma resposta. O Ministro da Justiça, o mesmo que sempre fica calado com chacinas policiais e mortes na UPPs, já declarou que o governo prepara um pacote de leis anti-corrupção. Dilma, na coletiva de imprensa de ontem, afirmou que as manifestações são legítimas, chegando ao ponto de até levemente elogiá-las. É lógico que ela não falou sobre os pedidos de intervenção militar, volta da ditadura ou intervenção dos Estados Unidos. Aliás, a Dilma que falou essas palavras das manifestações do dia 15, é a mesma que criminalizou todos os protestos de 2013 e grande parte dos de 2014, com até hoje lutadores sociais respondendo a processos penais como presos políticos.
Para além do número de pessoas, fica claro que o protesto do dia 13 foi ignorado e o do dia 15 foi ouvindo e já obteve resposta. Para quem tinha dúvidas, agora fica claro: o governo Federal não escuta a esquerda governista por saber que ela não está disposta a ir até o fim na hora de pressionar o governo, Dilma sabe que tocando a política que for a CUT e o PT não vão romper com ela. PSTU, PCB e PSOL estavam certos de não terem ido ao ato do dia 13, mas erram ao não fazer nada juntos, de forma unitária e nacional. PCB, PSTU e PSOL - principalmente o último que tem uma base social imensa no Rio de Janeiro, estado com maior número de trabalhadores da Petrobras - também são culpados pela tragédia que se abate na nossa mais importante empresa pública.
De resto, mais uma vez fica claro que o Governo Federal não atende os movimentos sociais, não escuta a esquerda, que só lembra-se da esquerda na época das eleições. Também é evidente que o Governo Federal faz tudo que é necessário para privatizar a Petrobras e que para defender a empresa é necessário atacar seus inimigos, e o governo Dilma é um deles. A esquerda governista erra por permanecer num governismo acrítico que só tem levado a derrotas e a esquerda socialista por seu sectarismo, falta de unidade e fé no espontaneísmo - nessa burra esperança de que o povo vai à rua naturalmente e quando isso acontecer vamos disputar a direção do negócio. Junho de 2013 já passou e alguns ainda não perceberam!