Da direita orgânica, golpista, à direita parlamentar, mais contida por não ser do interesse tucano-pefelista entregar a chave do botim aos "próceres" do partido-sempre-no-governo, o PMDB, introduz-se um apoio social incontestável. Um apoio vindo do fragmentado senso comum - do reacionário, informado, ao imbecilizado, porque formado politicamente pela pauta diária do Jornal Nacional.
Há um crescente descontentamento generalizado, porque se viu de tudo nessas manifestações, e não apenas jovens coxinhas. Havia povo, que até pode ter votado em Dilma, mas que entra na grita por conta dos absurdos aumento nas taxas de serviço público e até na majoração de passagens.
Some-se isso à imagem dos bilhões divididos nas corrupções da "Lava Jato" e nas contas, produto de sonegação e evasão de divisas, no HSBC, simultâneos a uma péssima qualidade dos serviços públicos, sem perspectiva de melhora em curto prazo, e é fácil constatar que não há bolsa assistencial que recupere a anistia antes obtida por Lula, pioneiro da tática de se render aos de cima, a partir de uma pequena compensação à base da pirâmide social.
O que desdobro dessa constatação?
A despeito dos energúmenos que pedem o retorno da ditadura, não há clima nem conjuntura para golpe militar. Mas há um crescente caldo de cultural para algo caótico no campo institucional, que resulte em uma direitização por vias institucionais.
A GloboNews não está cobrindo o evento até agora por acaso. Ela é a porta-voz do movimento..
Esse quadro resulta em algo muito mais próximo do Fora Collor do que do golpe de 64. Até porque, na comparação com o governo João Goulart, tudo desfavorece Dilma. Goulart defendia Reformas de Base estruturais, que uniam em torno dele uma parcela fundamental da população; tinha o apoio de uma parte importante da mídia e ainda contava com forte suporte nas Forças Armadas. Até hoje há espaço de incerteza quanto ao sucesso do golpe, caso ele tivesse optado pela resistência.
Não é o caso de Dilma. Ela jogou no lixo o apoio leal que lhe seria dado caso não partisse para a rendição ao programa político e econômico daqueles que derrotou. Um movimento desastroso, por não entender que eles poucos se interessam por sua virada programática. O que sempre lhes interessou é a disputa da chave do botim. É tomar-lhe, e ao neoPT, o controle do cofre.
Ou seja; não ganhou um voto da direita e certamente perdeu boa parte dos que nela votaram no segundo turno que, mesmo se colocando contra as manobras golpistas, não encontram mote para mobilização de apoio.
Quanto às Forças Armadas, então, nem pensar. Em doze anos de governo, o "lulopragmatismo", na lógica do lulinha-paz-e-amor, não houve uma única iniciativa no sentido de mudar a política de formação doutrinária nas academias militares. Até hoje, o que hoje lá se ensina é que em 64, graças à derrubada de Jango, salvou-se a democracia.
Se intervenção específica houve, foi a ajoelhada de Lula diante do facínora Bush, ao lhe ceder tropas para o jogo sujo da ocupação militar do Haiti. Decisão que certamente não serviu a um avanço na formação de uma consciência democrática entre os militares da ativa. Pelo contrário. Serviu para reforçar a ideia de combate a populações civis na lógica da Segurança Interna operada durante a ditadura brasileira.
Não sei se há tempo de correção de rumo por parte do governo.
Não adianta, portanto, as cúpulas do neoPT e do MST insistirem na emissão de resoluções e declarações exigindo reformas que toda a esquerda assina, e simultaneamente dizer ao governo que o apóia de forma incondicional, dando-lhe sinais de que pode se manter em seu rumo equivocado. Que eles garantem. Garantem?
Cabe às esquerdas combativas encontrarem um caminho alternativo, Que mobilize contra os espíritos golpistas, mas que continue a obrigar ao governo a atender inadiáveis demandas reformistas, se é que em algum momento não queira ser lembrado por ter sido derrubado na condição de capataz corrido pelos senhores da casa grande.
Difícil, mas morrer no áspero sempre foi nossa sina.
Luta que Segue!!