Porque foi um 21 de fevereiro de 1848, que o Manifesto do Partido Comunista via a luz na sua primeira ediçom. Esta obra, concebida polos filósofos Karl Marx e Friedrich Engels, é a primeira e mais completa crítica ao capitalismo e à sociedade de classes, a partir de umha interpretaçom dialética da história. É também o primeiro programa comunista, pois condensa o ideário da Liga dos Comunistas (que tivera o seu primeiro congresso um ano antes). O Manifesto do Partido Comunista, em posteriores ediçons já conhecido simplesmente como Manifesto Comunista, nasce num ano de insurreiçons urbanas em toda a Europa, reclamando umha maior justiça social; entre essas insurreiçons está a Comuna de Paris, que Marx qualifica como primeira grande batalha entre proletariado e burguesia.
O resto da história, nom a vou repassar neste artigo, mas evidentemente vem marcada por esse feito da ediçom em 1848 do grande clássico. Marx e Engels fundam o socialismo científico ou comunismo, marcando umha diferença com as escolas de socialismo anteriores ao manifesto, que nom partem de umha crítica radical, mas da idealizaçom utópica e da intençom filantrópica.
Nem a Internacional de 1888 nem as posteriores, nem a Revoluçom russa de 1917, nem todo o movimento operário anterior, nem naturalmente, a Revoluçom chinesa ou a cubana, ou movimentos de libertaçom nacional em África, na Ásia ou na América se podem entender sem esse guia, sem esse referente. É impressionante pensar na quantia de trabalhadores e trabalhadoras de diversas geraçons, desde aquele longínquo 1848 até hoje, em diferentes lugares do mundo e em diferentes idiomas, com referentes culturais diferentes, e pertencendo a diferentes raças, que abraçárom o ideal comunista escuitando e discutindo o manifesto.
Porque o manifesto, sendo um livro basilar no pensamento filosófico e político moderno, é um livro compreensível. O seu maior mérito é conseguir fazer compreender a pessoas de todo o mundo, às vezes sem instruçom, que a maior injustiça que padecem é a exploraçom e que a sua comunidade essencial é a classe. Que sem a libertaçom da classe, nom há felicidade real possível, nom há um mundo melhor.
É bonito ler o manifesto e imaginar as trabalhadoras das conserveiras do Sul da Galiza, a começos do Século XX, ou as operárias do téxtil catalám no Século XIX, ou os trabalhadores do mar no porto de Havana nos anos 50 do Século passado, ou os jornaleiros do açúcar na Indonésia nos anos 60, ou aos trabalhadores do naval em Ferrol nos anos 70, compreendendo de umha maneira diferente o mundo e as suas vidas enquanto escuitavam essas palavras numha assembleia. Imaginar o nascimento de novas consciências revolucionárias.
Mas, como sempre digo, o melhor do Manifesto do Partido Comunista, conhecido também como Manifesto Comunista, é saber que nom perdeu vigência e poder compreender graças a ele o que acontece no mundo atual. Quando já estavam vitoreando-se os apologetas do fim da história, os que predicam que já nom há classes, fai apariçom a crise global capitalista, desaparecem as classes médias e evidencia-se que, com efeito, há um "acima" e um "abaixo" na estrutura social. O crédito, esse doping da economia de livre mercado, é-lhes negado aos de "baixo". E as desigualdades soterradas retornam à superfície.
Porque compreendemos a nossa realidade com a perspetiva crítica do Manifesto, combinamos a nossa condiçom de independentistas de prática com a de marxistas. De facto, fai-se difícil imaginar que pudesse haver independentismo galego tal como hoje o entendemos, e com a composiçom de classe que tem nas suas fileiras, se nom visse nunca a luz o Manifesto Comunista, o clássico entre os clássicos. Umha obra que foi refletida em galego na mente do Piloto, de Henriqueta Outeiro, ou de Foucelhas.
Hoje, na Galiza, saúdo o aniversário do Manifesto Comunista, esse clássico entre os clássicos, que ainda fai arder umha constelaçom de revoluçons no Planeta, que foi e é escuitado em tantos idiomas, refletido em tantos idiomas, e que nos fai compreender que um outro mundo sobre a base do socialismo científico (ou comunismo) é possível.
Fonte: Primeira Linha.