Concomitante a essa situação, há o atrelamento de um sistema econômico praticado pelos países ricos que consiste numa produção desenfreada de mercadorias para atender a expansão frenética de um consumismo exacerbado, “levando” ao meio ambiente, por conta disso, toda a carga da destruição envolvida na atividade produtiva.
O quadro que se configura, portanto, é de uma crise ambiental de proporções jamais vistas, com características bem peculiares.
A evidência disso é cada vez mais sintomática: efeito estufa, destruição florestal, perda da biodiversidade biológica, poluição do ar, de rios, lagos e mares, acidificação dos oceanos e desertificação intensa.
Fora isso, segundo dados elaborados pelo Geo-5, quinto levantamento da saúde ambiental global, de 2012, que contou com a colaboração de 600 especialistas, das 90 metas e objetivos ambientais que se tornaram referência a partir da Rio 92, apenas quatro foram cumpridas.
Ainda de acordo com o Relatório citado, cerca de 20% das espécies de vertebrados estão ameaçadas. O risco de extinção aumenta rapidamente mais para os corais do que para qualquer outro grupo de organismos vivos, com a condição dos recifes de coral declinando 38% desde 1980. Retração rápida é projetada até 2050.
Os estoques de peixes diminuíram a uma taxa sem precedentes nas últimas duas décadas. A pesca mais do que quadruplicou entre os anos de 1950 e 1990, com o registro de estabilização ou diminuição até então.
Mais de 600 milhões de pessoas devem ficar sem acesso a água potável até o final desse ano, enquanto mais de 2,5 bilhões de pessoas não terão acesso a saneamento básico. Desde 2000, os reservatórios de água subterrânea se deterioraram ainda mais, enquanto o uso mundial de água triplicou nos últimos 50 anos.
A perda anual de florestas caiu de 16 milhões de hectares na década de 1990 para cerca de 13 milhões de hectares entre 2000 e 2010. É o equivalente a uma área do tamanho da Inglaterra sendo derrubada anualmente.
É oportuno então entender como essa crise se perfaz. Antonio Carlos Diegues, professor livre-docente da USP, em artigo publicado em “Economia e Meio Ambiente”, obra organizada por Gilberto Dupas, destaca seis pontos importantes que caracterizam a crise ambiental atual.
- Global: atinge todos os ecossistemas e a biosfera, como um todo, gerando os problemas ambientais hoje tidos como globais: redução da camada de ozônio, efeito estufa, perda crescente da biodiversidade na Terra;
- Acelerada e crescente: há perda acelerada das florestas tropicais, crescimento do deserto, perda de recursos hídricos e de solo e desaparecimento de espécies;
- Irreversível: muitos ecossistemas não suportam a carga de poluentes e têm sua resiliência muito reduzida, degradando-se de forma irreversível. Inúmeras espécies de animais e plantas também se tornaram extintas nas últimas décadas;
- Ameaçadora: por suas dimensões, a capacidade crescente de destruição do meio ambiente e da vida humana assume proporções nunca vistas: desde a bomba atômica, passando por Long Island, Chernobyl, Bhopal para chegar agora às mudanças climáticas e ao aquecimento global;
- Reforçadora das desigualdades sociais e entre nações: multinacionais que exportam poluição e lixo tóxico e químico, bem como industriais poluentes para os países do terceiro mundo;
- Causadora de impactos socioculturais: quem mais sofre com a degradação ambiental são as camadas mais pobres das cidades, que moram em favelas, sem serviços básicos e não têm meios para migrar para áreas menos degradadas.
Marcus Eduardo de Oliveira é economista e professor de economia
da FAC-FITO e do UNIFIEO, em São Paulo.