Fazia frio quando o avião da British Airways pousou na capital grega, poucas horas antes do comício desta noite. Após deixar as bagagens no hotel, me dirigi até a Praça Omomnia para me somar às delegações internacionais que acompanham a epopeia de Syriza e ouvir o principal orador da noite: Alexis Tsipras. Lá me somei ao companheiro Thiago Aguiar, militante da juventude do PSOL que representa a Fundação Lauro Campos nesta viagem e compõe junto comigo nossa pequena delegação de solidariedade.
Cheguei a uma Praça Omomnia abarrotada, com milhares de pessoas em silêncio, ouvindo as palavras de Tsipras. O clima lembrava os comícios que aconteciam no Brasil antes do apelo às duplas sertanejas – felizmente proibidas pela legislação eleitoral – ou público pago, trazido às custas de quentinhas e "ajudas-de-custo". Ao chegar à Omomnia, nos deparamos com um autêntico comício de esquerda, uma multidão com bandeiras vermelhas que ouvia atenta seu líder. O clima era de um otimismo e uma esperança que há muito não via. Não era pra menos. Os milhares de gregos que tomaram a Omomnia nessa noite fria foram movidos pelas propostas radicais em defesa dos direitos, da soberania grega e da justiça social de Syriza, propostas que se propõem a colocar as pessoas em primeiro lugar, diferente do que fizeram todas as forças políticas que governaram a Grécia desde o início da crise financeira de 2008. Além disso, reforça a expectativa de vitória do Syriza os últimos resultados das pesquisas eleitorais, que apontam uma vantagem capaz de permitir ao partido a composição de um governo sem a participação dos velhos partidos. Ou seja, um governo 100% novo, livre dos compromissos do passado, como afirmou Alexis Tsipras recentemente.
Aliás, era ele que a maioria das pessoas ali esperavam. Ocupando sozinho a tribuna, Tsipras encontrou uma praça cheia de jovens, idosos, desempregados, profissionais liberais, novos e antigos lutadores sociais. Disse com voz firme, mas serena, sabendo que o mundo estava olhando naquele momento para ele, que a vitória do Syriza representava uma vitória de todo o povo europeu e marcava o início de uma nova era para os povos do continente. A dimensão internacional de seu discurso, aliás, foi uma marca do início ao fim dessa campanha. Além disso, Tsipras lembrou os crimes cometidos pelos governos que se sucederam desde 2008 e esboçou em linhas gerais os compromissos do Syriza para reverter o desmonte da máquina pública, promovido sob ordens expressas do FMI. Uma fala longa, implacável com os adversários, mas cheia de sonhos e esperanças. No final do comício, um “bônus”: Pablo Iglesias, líder do novo partido espanhol Podemos, subiu à tribuna e, em grego, fez uma pequena mas entusiasmada saudação ao povo grego.
Após o comício, nos somamos às demais delegações internacionais para um jantar. Lá, tivemos a oportunidade de encontrarmos com Alexis Tsipras e trocar algumas ideias com Pablo Iglesias sobre a situação no Brasil e na Espanha. Mas este já é tema para outro relato. Nossa presença no berço da democracia não poderia ter começado melhor: com o povo nas ruas clamando pela mudança. Amanhã, continuaremos nossa jornada pelas terras gregas.