Num ataque hediondo em Paris foram assassinadas 12 pessoas do jornal satírico Charlie Hebdo. Além de verificarmos da forma mais hedionda que as nossas ações intelectuais podem gerar as reações mais violentas, por assassinos que com a bandeira do Islão levam os seus atos às últimas medidas, verificamos também o aproveitamento político e o escalamento do ódio ao Islão nas redes sociais digitais – estruturas sociais de partilha mediáticos peritos na partilha de informação, geralmente reduzida a meia dúzia de palavras e, quando muito, a uma imagem, que pela sua leitura fácil e apelativa, apela a emoções epidérmicas, geralmente de amor ou ódio, tornando-se não raro em sensacionalismo viral, que tendenciosamente atinge os consumidores criando mais confusão emocional e menos informação. O aproveitmento político destas tragédias não transcende as dicotomias simplistas e tradicionais e alimentam as posições extremistas e fervorosas duma carneirada que dá "likes" e, berregando, cataloga tudo em preto ou branco, pró ou contra, esquerda ou direita, islão ou semita, nacional ou migrante, populista ou académico, económico ou social, rico ou pobre, ao revés de procurar a informação mais detalhada, diferenciada e menos panfeletária que não seja embaladada em memes humorísticos ou em parcas palavras que soem a muitas.
Em última análise, os mesmos islamistas que perpetraram este massacre fazem parte do mesmo rebanho dos outros da extrema-direita francesa que odeiam o Islão e que não querem entender, nem procurarão por eles mesmos, o que veem, ouvem dizer ou alguém lhes disse-que-disse, disseminando assim o ódio a uma escala sempre mais elevada, num tempo em que os altos níveis de inteligência artificial da qual a tecnologia é dotada se esbarra com os altos níveis de estupidez natural da qual somos dotados.