Sob intensa pressão do poder económico e financeiro, o radicalíssimo diácono da esquerda helénica esforça-se agora em apaziguar os mercados que saqueiam o seu país: "nós nunca fomos comunistas" juram à imprensa estado-unidense; "só queremos salvaguardar a estabilidade da zona euro" imploram aos agiotas europeus; "somos a melhor garantia de estabilidade financeira" adiantam ao capitalismo.
Sendo claras as diferenças entre o SYRIZA e os partidos da direita grega, subsistem imensas dúvidas sobre o futuro da Grécia e da UE. É verdade que não há Revolução de Outubro sem Fevereiro, mas Tsipras não encabeça nenhuma. O homem que em tempos defendeu o default unilateral grego e a saída incondicional da Zona Euro fica-se agora por verbos como "aliviar" e "reconfortar" e adjectivos como "sustentável" e "credível". Para lá da hollandização de Tsipras, moram no SYRIZA contradições importantes e imprevisíveis, nas quais não nos devemos apressar a apostar nem a escamotear. Existe, contudo, um partido grego que não corre o risco de desiludir o povo grego. Ao contrário do SYRIZA, todos reconhecem que esse partido, apesar de eventuais diferenças ideológicas ou políticas, não está à venda na praça dos banqueiros. Ao contrário do SYRIZA, esse partido não poderá vencer as eleições deste mês, mas é o único que nomeia, letra por letra, palavra por palavra, a única solução para a crise grega. É que, também ao contrário do SYRIZA, esse partido sabe que não se faz programa de tapar as rachas de um navio podre com os dedos da tripulação. Esse partido é o KKE.
Se há pouco disse que são notórias as diferenças entre a direita e o SYRIZA, o mesmo raciocínio nem tem sentido entre este partido e o KKE. O primeiro pretende gestão, o segundo pretende ruptura. O SYRIZA aposta no lobby e nos gabinetes, o KKE aposta na luta e nas ruas. O primeiro aposta na reforma, o segundo na revolução. Está claro que o KKE não quer comprar votos a qualquer preço, mas se eu fosse grego teria o meu.
Não admira que o SYRIZA já não fale em revolução, mas é injustamente que a palavra não ganha votos. Repare-se na origem etimológica da palavra: do latim revolutio, "revolução" significa girar, virar, dar uma volta. Com efeito, desde a antiguidade que o termo é usado na astronomia para descrever o movimento natural dos corpos celestes. Na esteira desta acepção, é só natural que a História, muito à semelhança dos astros, se desloque de revolução em revolução. Por isso, insustentável é acreditar que o sistema feito para estrangular o povo grego pode ser reformado ou que a miséria dos seus trabalhadores pode durar para sempre. As mudanças necessárias à Europa não serão fáceis nem autorizadas pelos seus soberanos. Mas nunca na História do mundo se acabou com a escravatura com a licença dos esclavagistas. E a Grécia está há demasiado tempo do mesmo lado do sol.
Fonte: Manifesto 74.