A palavra estéreo [2] vem do grego e significa “sólido”. Esta correspondia à unidade de lenha que cabia no equivalente a um metro cúbico. A partir desta palavras formaram-se muitas outras palavras, entre as quais aquela que me debruço: “estereótipo”.
Estereótipos são pressupostos sólidos, portanto pouco flexíveis, sobre determinados indivíduos ou grupos, com base na aparência, condições financeiras, comportamentos, sexualidade, entre outros, geralmente depreciativos sendo que, em caso de exceção salvaguardada, há que ter o pé atrás em relação à bondade da caridosa intenção. Desculpem, não gosto no rebordo do prato, não quero que me julguem melhor pessoa por ser o que aparentemente os outros são por mim. Tomemos o caso de o estereótipo associado ao ser português. Em Angola serei depreciado por fazer parte de um povo com uma herança de colonização e racismo. Em França considerado um bom trabalhador, católico e devoto, por estar associado a trabalhadores dos anos 60. No Brasil admirar-se-ão por não ser portador de um bigode farfalhudo, como teriam os meus avós nos anos 30. Em algum lado do mundo não saberão o que é um português e partirão de outros princípios para me julgar: por ser educado numa sociedade católica. Ou por ser jovem. Ou por gostar de poesia. Ou por ser solteiro, tio, irmão, filho, formado em sociologia. Por ter muitos amigos. Ou que gosta de fotografia, que é educador, às vezes escritor um pouco escrevedor e falador. Que tem um sotaque do norte, que tem amigos para além do forte, que fala inglês, alemão e arranha o francês e pois então, apresenta-se de roupa nova ou velha ou segunda mão. Que se comporta bem ou mal conforme avalia a ocasião...
Os alemães não são frios, os italianos não são machistas, as loiras não são burras, os ciganos não são ladrões, os pretos não são burros, os portugueses não têm bigode, as mulheres não gostam menos de sexo e os árabes não são islamistas... Conquanto há homossexuais que são perversos, há americanos que são gordos e suecas sem peitos grandes. Há e são exceções e não confirmam coisíssima nenhuma. Mas quem falou em regra?
Estes pressupostos na análise científica da sociedade tanto não têm valor como simultaneamente têm um objetivo único específico: a anulação do outro, que se limita a um “tipo”, esquecendo o indivíduo como um todo plural, com vários e diferentes papéis na sociedade.
Vamos lá: começam por não querer o islamismo radical. Muito bem. Saem à rua com bandeiras, rufos e palavras de ordem. Juntam-se aqueles que também acabam por não aceitar o islão em toda a sua forma e interpretação. Vai que não vai, também o árabe, seja em cristão, judeu, é tudo igual. Pela parecença idiossincrática, passemos para os morenos, vai-se para o sul, do sul para o norte, passam o Magrebe, atravessam o Mediterrâneo, chegam à costa europeia (bem-vindo!), começam por odiar os sul-europeus (afinal, até faz sentido, também eles um dia foram árabes), começam a chegar até... ei para aí? Mas já estão em Portugal? Mas afinal estão todos incluídos? Só porque somos imigrantes?
Mas que estratégia é essa? Até onde querem chegar, quem está na origem desses grupos, que partidos, que membros, que líderes, de onde vêm?
Pois é, a lenha arde. Num metro cúbico cabe muita lenha. Com as mais modernas técnicas de prensagem desta caberá ainda mais, bem apertada, bem juntinha. Cabe mais, cabe sempre mais uma, temos tecnologia para isso, vá, mais uma acha. Segundo o Dicionário Online Português “lenha” tem como significado: ramos, troncos, achas ou quaisquer pedaços de madeira utilizados como combustível. Exatamente, lenha só serve para arder.