Enquanto isso, Lula defende a formação de uma frente de esquerda para pressionar Dilma a atender as exigências dos movimentos populares. Com isso, pretende blindar o governo pela esquerda, transformando as mobilizações em moderadas queixas vindas das ruas.
É a engenharia política lulista entrando em nova fase. Dilma morde, Lula assopra.
Apesar disso, a oposição de esquerda não pode simplesmente se negar a participar de uma frente que pretenda mobilizar a população. Seu grande desafio é se diferenciar em relação às linhas auxiliares do governo no interior dos movimentos.
Para isso seria importante exigir que sejam adotadas algumas bandeiras radicais. Por exemplo, a instalação urgente de duas auditorias. Uma, da dívida pública, a outra, das concessões de rádio e TV. Reforma Agrária imediata e extinção da Polícia Militar também precisam ter prioridade máxima nas exigências junto ao governo.
Mas há outra condição inegociável para marchar ao lado dos setores governistas. É o imediato desmonte da legislação e do aparato de exceção que caiu sobre os movimentos populares e suas manifestações desde junho de 2013. Incluindo a libertação dos presos políticos e o fim dos processos contra manifestantes.
Por fim, não há como participar de uma frente sob a liderança do principal responsável por um arranjo político que jamais ameaçou qualquer interesse dos poderosos. Lula costuma usar seus dentes não para morder, mas para lançar dóceis sorrisos aos exploradores.