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Miguel Urbano Rodrigues

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Em coluna

Um Zoo humano de inimigos do povo

Miguel Urbano Rodrigues - Publicado: Sexta, 26 Dezembro 2014 02:11

O governo Passos-Portas, a fauna que preenche o "comentário político", a casta de aventureiros sem escrúpulos que a política de direita fez florescer tornam o país um microcosmos do capitalismo no seu estado mais apodrecido.


Na tentativa de impedimento do direito à greve na TAP a questão já não é apenas a ostensiva ilegalidade. É a utilização, tal como nos tempos do salazarismo, do argumento das “motivações ideológicas” da greve. Este bando fascizante torna o país irrespirável.

Diariamente, ao abrir o televisor e escutar o discurso do governo, sou sacudido pelo absurdo.

Sinto-me projetado num teatro onde os atores se comportam no palco como seres extraterrestres. Eufóricos, dizem, com convicção e arrogância, coisas nunca ouvidas.
Nem na época de Salazar gente tão insolente e corrupta se moveu nos terraços do Poder. Os ministros eram então mais cautelosos.

Um estigma doloroso turva, contudo, a alegria da atual ditadura da burguesia: não pode substituir a máscara da fachada democrática e exibir-se como fascizante porque lhe está vedado criar uma PIDE e recorrer ao exército para reprimir o povo.

Mas na prática da vida, Passos, Portas & Companhia ignoram a Constituição e as leis da República e, invocando «o interesse nacional», impõem ao País medidas brutais que o empobrecem cada vez mais.

Repetidamente o Tribunal Constitucional declarou inconstitucionais decisões governativas que violavam a Carta Magna, reduzindo os salários dos trabalhadores e desrespeitando direitos fundamentais.

Como reagiu o Executivo? Em piruetas jurídicas retomou a ofensiva contra o mundo do trabalho (cortes, despedimentos, etc) sob novo figurino para atingir o mesmo objetivo: o seu empobrecimento.

As exigências inadmissíveis da troika que tutela Portugal foram há muito ultrapassadas. O Governo, ao golpear múltiplas áreas sociais, foi mais longe do que os representantes do grande capital internacional: o FMI, a Comissão Europeia e o BCE.

A destruição do aparelho produtivo e a ofensiva contra a função pública e a classe média é devastadora. Arruinou Portugal sem atingir os objetivos. As dívidas interna e externa subiram brutalmente, excedendo muito o PIB, que caiu. O desemprego atingiu um patamar sem precedentes. Com uma peculiaridade: a «austeridade» que empobreceu o povo trabalhador contribuiu para o enriquecimento daqueles que o exploram. Aos Soares dos Santos, Amorim, Belmiro, aos banqueiros e outros magnates que são os donos de Portugal juntaram-se agora dezenas de novos cresos que exibem com despudor fortunas colossais que amontoaram em tempo mínimo.

A miséria alastra pelo país, a fome é já uma realidade em milhares de famílias; a pobreza das massas é o contraponto do inocultável enriquecimento da classe dominante. A desigualdade cresceu em espiral.

Os gestores das grandes empresas atribuem-se vencimentos superiores aos dos grandes da Alemanha e recebem gratificações suntuosas; mas as vítimas da «austeridade» auferem salários dos mais baixos da União Europeia.

O espocar dos escândalos, rotineiro, entra já pelo quotidiano. Envolvem a banca, as privatizações, as chamadas parcerias público-privadas, as escuras negociatas de políticos e empresários, as fraudes de aventureiros instalados pelo governo em postos-chave da Administração Pública.
O regabofe asfixia e humilha o País.

Passos, Portas e seus ministros são vaiados onde se apresentam para trombetear monocordicamente o discurso triunfalista. O chefe do Governo visita frequentemente Berlim, para prestar vassalagem à chanceler Merkel e corre pelo mundo proclamando que é um salvador.

Este governo encastelado no Poder é um zoológico humano de inimigos do povo.

Passos, o condutor da ménagerie, contempla-se como reformador histórico, que inova na aplicação da doutrina dos grandes mestres do neoliberalismo, de Hayek a Friedman, devoto de Thatcher e Reagan. Inculto, altaneiro, atartufado, é um expoente de ignorância enciclopédica, mas, quando fala no Parlamento, exibe a autossatisfação de um Demóstenes lusitano.

Portas é uma criatura satânica. Recolheu das cinzas um partidinho de saudosistas do fascismo e fez dele o apêndice do PSD que lhe garante a maioria no Parlamento. É um perito em chantagem política. O seu jogo nos bastidores tem toques mefistofélicos. Ascendeu a vice-primeiro-ministro mediante um jogo de ameaças e falsas renúncias. O povo vê nele um farsante perigoso que tripudia sobre a ética política, envolvido em compromissos escuros, negócios sujos (submarinos) e ligações perigosas (uma universidade fantasmática). É movido por uma ambição ilimitada.

A terceira figura do bando que desgoverna Portugal é a ministra Maria Luis Albuquerque, sucessora de Vítor Gaspar. Difere do chefe e dos colegas pela suavidade das falas. Raramente sorri, mas tem um porte distinto; anuncia e defende medidas assustadoras com voz melíflua, cativante, como se fosse mensageira de prebendas maravilhosas.

O ministro da Economia é o rosto de uma ultra direita mascarada. As suas declarações e entrevistas sobre a requisição civil imposta pelo governo para neutralizar a greve da TAP lembram as de alguns ministros de Salazar.

Montenegro, o líder da bancada parlamentar do PSD é a imagem da direita cavernícola.

A desinformação sobre este governo medonho prejudica decisivamente a luta de massas.

O sistema mediático é controlado pelo grande capital. O noticiário nos jornais de «referência» é mau, mas a reflexão sobre a política do Executivo é muito pior.

Os comentadores e politólogos - quase todos políticos reaccionários - competem na tarefa de ocultar a realidade social politica e económica.

A chusma dos formadores de opinião mais influentes simula isenção. Criticam o acessório, mas ignoram o fundamental. Falam de tudo, desde as fofocas do governo às falências e roubalheiras, passando pelo futebol, a literatura, a corrupção galopante, o BPN, a situação dos professores, o descalabro da saúde e da Justiça, a prisão de Sócrates, os gastos sumptuários dos ministros e o aquecimento global, mas não poem em causa o sistema.

A única exceção será talvez Pacheco Pereira, um intelectual e político de direita.

Nas suas intervenções, mesmo quando manifestam discordância de medidas da equipa no Poder, abstêm-se de condenar a engrenagem que as gera. A maioria trata aliás com deferência banqueiros como Ricardo Salgado e Ricciardi e outros financistas mafiosos responsáveis por fraudes de milhares de milhões de euros. O capitalismo é para eles sagrado; como funciona pessimamente, desejam apenas que seja aperfeiçoado mediante reformas que não belisquem a desigualdade social. A exploração dos trabalhadores é para essa gente tema tabu.

Na selva de corrupção e prepotência em que o país, arruinado, vegeta - o discurso triunfalista do governo atinge o povo como um pesadelo.

Nessa cantoria repulsiva, Passos, Portas & Companhia cultivam um refrão indecoroso: “os portugueses aprovam» os seus desmandos.

O discurso ufanista do governo, apoiado (ostensiva ou subtilmente) pelos epígonos, atinge o povo como um pesadelo.

A crise portuguesa pelas suas características peculiares é quase inimaginável, mas bem real.

A indignação popular cresce, mas não é ainda torrencial, permanente.

A grande maioria desaprova e condena a política do governo, mas o sentimento de revolta que começa a gerar desespero não se expressa num combate organizado.

A definição que Marx nos ofereceu da «alienação» ajusta-se bem à atitude de uma ampla faixa da população que não está ainda preparada para transformar o protesto em luta organizada, acompanhando a minoria dos trabalhadores que saem às ruas, mobilizados pela CGTP, e desafiam o governo nos locais de trabalho.

É suficiente acompanhar programas televisivos como, entre outros, o Opinião Pública da SIC para tomar consciência de que o fascismo tenta capitalizar o descontentamento popular encaminhando-o na direção oposta à do combate que o governo teme. Insultos aos sindicatos e à luta de massas, apelos à proibição da greve e a despedimentos coletivos, brados de saudosismo da ditadura, são agora frequentes. Mas isolados, porque o fascismo não encontra em Portugal atmosfera para se impor.

O que fazer então?

As revoluções – tenho repetido essa evidência muitas vezes - não têm data no calendário.

Em Portugal, a falta de condições subjetivas inviabiliza em tempo previsível ruturas desse tipo. Mas não sou pessimista.

Em grandes momentos da História de Portugal, surgiram de repente as condições que permitiram ao nosso povo levantar-se contra a opressão, vencer e abrir as grandes alamedas da esperança, assumindo-se como sujeito da História.

Isso aconteceu em 1383, em 1640, em Outubro de 1910 e em 25 de abril de 1974.

A maré da indignação e do protesto sobem a cada dia.

Os inimigos do povo que exercem o poder serão varridos!

Vila Nova de Gaia, 23 de Dezembro de 2014.

Fonte: O Diario.


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