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Ramiro Vidal

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A república do verbo

Azeta ou o saque descarado ao dinheiro público

Ramiro Vidal - Publicado: Sexta, 31 Outubro 2014 17:37

Sou desempregado e discapacitado. Ou seja, durante muito tempo fum um habitual dos cursos de formaçom. Mais ou menos desde o ano 2002 ao ano 2007, estivem concatenando cursos de formaçom, e de facto a alguns fum chamado para assistir de forma obrigatória, sob pena de perder os meus direitos como demandante de emprego.


O dos cursos de formaçom nom é bicoca nengumha, é um tinglado no que che obrigam a participar, sob o pretexto de melhorar as tuas expectativas laborais, ainda que a experiência acumulada ao respeito permite afirmar que tal alegado objetivo nom é alcançado (já nom digamos o de achar um emprego graças a tais cursos) mas com umha finalidade bastante mais perversa: fazer-te colaborador de umha batota que permitirá maquilhar as cifras do desemprego. Durante o tempo que receberes a formaçom, a tua demanda de emprego ficará suspensa; nom figurarás estatisticamente como desempregado.

Muitas vezes tivem que escuitar desqualificaçons injustas e ferintes devido à minha condiçom de receptor de cursos de formaçom. Segundo a literatura reacionária (assomida asombrosamente por companheiros de militança ou pessoas que abraçam plantejamentos de esquerda) os cursos de formaçom fixerom emerger a figura do “cursista profissional”; é dizer, que há pessoas que concatenam cursos para cobrar as dietas de deslocamento de tais cursos, se as houver. A verdade é que na maioria dos casos eram maiores as despesas que me gerava assistir aos cursos, quanto a deslocamento e, nalgum caso, comidas, cafés e demais que o pretenso ganho que me podia supôr cobrar a, segundo alguns, estratosférica e desproporcionada quantia de... seis euros ao dia!!!

A perseveráncia e sucesso deste curioso discurso, provocou umha situaçom nom menos curiosa: a de ter que escuitar a empresários, sindicalistas...e mesmo pessoas desempregadas!!! afirmar que com a formaçom para desempregados havia que acabar, que isso nom servia mais do que para “fomentar a preguiça”...vaia, que havia pessoas que, graças à formaçom para desempregados, viviam melhor como desempregadas que cobrando um salário por um trabalho remunerado no que cotiças à segurança social e tens uns direitos laborais reconhecidos, etcétera. Digo que é curioso, porque o ton ameaçante com o que esgrimiam esse argumentário tornávasse absurdo toda vez que eu sabia de boa tinta que a maioria das pessoas imersas nessa situaçom peculiar nengum interesse tinham em participar nos cursos nem em que estes continuaram e continuaram portanto chamando-os para fazer parte deles como utentes.

A maioria do pessoal, umha maioria na que me incluo, que habitualmente está no desemprego, quer trabalhar, nom depender da família; dispôr de dinheiro próprio para manter-se e sentir que fai cousas produtivas, nom colaborar num engano vil, no que participam as administraçons, as empresas, os sindicatos e a sociedade toda.

A quadratura deste círculo maldito, vai-se fechando a medida que aparecem tramas de captaçom de dinheiro procedente da formaçom a desempregados, como a destapada pola Operaçom Azeta. Vinte milhons de euros defraudou às administraçons umha trama que tem como cabeça ao empresário Gerardo Crespo. A alma mater de Azeta.net, de AED ou de Fundefo, tinha toda umha rede de captaçom de subsídios para cursos que depois nom se celebravam. Esse dinheiro público tinha umha trajetória de ida e volta; ia parar às maos cobiçosas do Senhor Crespo e a altos cargos do PP, que re-investiam os cartos em financiar atividades partidárias dessa organizaçom, de passo claro que alimentavam as suas contas bancárias particulares.

Eu fum partícipe forçoso desse desastre, ainda que nunca fum utente de um curso partilhado pessoalmente por Gerardo Crespo, nem celebrado em nengumha das suas empresas ou entidades “sem ánimo de lucro”. E sento-me utilizado e vexado. Que fique claro, e valha este méio para o dizer publicamente que eu jamais (e remarco esse jamais) fum partidário desse sistema de “políticas ativas de fomento do emprego”. Isso tudo foi umha arma política para disfarçar as cifras do desemprego, como todo o mundo sabe, e um teto de captaçom de fundos públicos utilizando a coletivos excluídos como parapeto para o financiamento legal ou ilegal de organizaçons patronais e sindicatos, além de para enriquecimento pessoal dos mesmos que depois nos acusam de querer viver do conto.

Se querem destinar dinheiro público ao emprego, que criem emprego público, ou que estimulem o emprego no ámbito local, que os vinte milhons de euros que lhe caloteou Gerardo Crespo à Junta e ao estado espanhol (no nosso nome, para mais inri) dam para muito...e olho às interconexions do caso Azeta, que já sonou por aí um nome vinculado ao caso “Pallerols” (assim, em global, de quantos cartos estamos a falar neste fraude geral?)

E aquí continuo, sem perspetivas de trabalhar, enquanto o senhor Crespo continuará passeando na sua mota elétrica polas proximidades da rua Padeiras da Corunha, suponho que um bocado agoviado polo contratempo que lhe supom estar nos papeis polo facto de estar sendo investigado polas suas sacanices, mas evocando o arrecendo das notas de quinhentos, que disfrutará enquanto acabar esta tempestade.


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