O crescimento industrial e urbanístico da contorna da Ria do Burgo fixo desta pequena língua de mar um verquedoiro de todo tipo de resíduos, e assim é que aí forom parar durante décadas móbeis usados, eletrodomésticos, restos de alimentos, envases, águas fecais, verquidos industriais, fugas (acidentais ou nom) de combustível...em definitivo, a outrora biologicamente rica Ria do Burgo, converteu-se numha cloaca, num cemitério onde vam parar os restos materiais da nossa sociedade humana. A qualquer habitante da Galiza que more na costa vai-lhe sonar este conto, porque o conto das rias é sempre o mesmo conto.
À volta da Ria do Burgo, forom crescendo núcleos de populaçom tam densos como Fonteculher, Perilho, O Burgo ou O Temple. Chantarom-se indústrias tam altamente contaminantes como Henkel-Ibérica, Bunge ou a Cros. Evidentemente este “esplendor” nom foi de balde no que ao aspeto ambiental se refere. Puido-se “ignorar” o tema enquanto geraçons de habitantes da zona se beneficiarom daquele crescimento desordenado, trabalhando nessas indústrias, ou no setor do tijolo, ou no florescente setor serviços que também se foi desenvolvendo com força à volta daquele núcleo de prosperidade capitalista. Pagava a pena sacrificar a qualidade ambiental da ria e a saúde pública em troca disso.
Como sempre, o capitalismo nom pensa no futuro. As máquinas daquelas indústrias forom calando para sempre. O desemprego disparou-se. E a ria? A ria, está inutilizada na sua maior parte para o marisqueio. Os lodos tóxicos avançam comendo-lhe cada vez mais espaço às zonas aptas para tal atividade. Como é de supôr, essas águas nom som também aptas para o banho, apesar de que a vizinhança desses bairros costuma utilizar as zonas verdes à volta da ria como lugar para tomar o sol. O cheirume nos cámbios de maré som insuportáveis.
Numerosas entidades vizinhais, culturais, ambientalistas, além de partidos políticos e sindicatos levam cerca de umha década denunciando a situaçom da Ria do Burgo e reclamando soluçons. A descontaminaçom da Ria do Burgo é umha necessidade imperiosa cuja urgência nom é acompanhada polos ritmos político-institucionais. Levamos já muitos anos assistindo à exclussom da Ria do Burgo dos orçamentos tanto do estado como da Xunta. Nem em Compostela nem em Madrid contemplam incluir umha verba orçamentar para nengum tipo de atuaçom na Ria do Burgo. Esta situaçom leva-se repetindo desde que se constituiu a Plataforma em Defesa da Ria do Burgo, e já assistimos a vários cámbios de executivo tanto na instáncia autonómica como na estatal. Nem os cámbios de rosto nas pastas governamentais nem os cámbios de sigla nos executivos supuxerom umha mudança nas maneiras de agir. Nengum governo foi mais receitivo do que os outros; todos enganarom e eludirom pôr-lhe soluçom ao problema.
A situaçom da Ria do Burgo bem pode ser umha síntese da decadência do sistema...os restos do clamor, da apoteose capitalista descansam na ria, a festa acabou, e agora quê? Pois agora deveria tocar investir em futuro. Quem nos brinda umha oportunidade de futuro se nom é o nosso méio natural? A recuperaçom sócio-económica da nossa comarca tem umha oportunidade na nossa ria. Umha ria que ganharia em potencialidades se fosse finalmente descontaminada. Umha ria que puidesse ser utilizada na sua totalidade para o marisqueio, a pesca, para o banho, para todo tipo de atividades recreativas e desportivas teria efeitos multiplicadores na economia da zona, quem o pode ignorar? A rendabilidade social e ambiental de tal investimento, quem a pode pôr em causa? Desde logo que está muito mais garantida do que a utilidade de obras faraónicas como as do Parrote na Corunha, sem irmos mais longe.
Por certo, como desde as instituçons podem encher o peito a conta do nomeamento das Marinhas como Reserva da Biósfera e depois negar-lhe prioridade de atuaçom à Ria do Burgo? Pontos de atuaçom inexcusável deveriam ser a Ria do Burgo, a Fraga de Cecebre e as marismas da Ria de Betanços!!!
Seguiremos a clamar por umha soluçom para a nossa ria, queremos umha Ria do Burgo viva e limpa, e umha sociedade dinámica desenvolvendo-se à sua volta e graças a ela, nom contra ela.