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Ramiro Vidal

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A república do verbo

Temos que querer

Ramiro Vidal - Publicado: Segunda, 06 Outubro 2014 08:45

Isto das touradas começa a ser como aquele medicamento com sabor ruín, ao respeito do qual sendo crianças manifestávamos o nosso desgosto com um sonoro "nom quero!" e que finalmente nos metiam na boca com um autoritário "tens que querer".


Temos que querer touradas, ou isso pensam na Cámara Municipal da Corunha. O governo local nom cessa na sua teima de celebrar essa feira taurina que implantou nos anos noventa Paco Vázquez, e que provavelmente ninguém imaginava naqueles anos que chegaria para ficar, e que se convertiria numha atividade consolidada e especialmente protegida, inclusso apesar da sua nula sustentabilidade económica.

Quando escrevo isto, estamos a horas de que se celebre por quarto ano consecutivo a manifestaçom que, coincidindo com a feira taurina, costumam convocar a Fundaçom Franz Weber e a associaçom animalista Libera. Nom tenho dúvidas de que será umha manifestaçom multitudinária. Se já o era quando se celebrava em Agosto, agora que as circunstáncias levam a que a manifestaçom tenha lugar em Outubro, terá com certeza muito mais seguimento. Anteriormente tinham-se dado iniciativas anti-taurinas nesta cidade, mas sem o sucesso que conhecerom estas manifestaçons.

Provavelmente outro galo nos teria cantado se num princípio tomássemos a sério a necessidade de nos rebelar contra a imposiçom das touradas. Quando nos primeiros anos eu ia protestar às portas do Coliseo, muita outra gente que partilhava teoricamente posicionamentos anti-taurinos comigo falava de que os atos de protesto eram umha perda de tempo e de que a celebraçom de touradas na nossa cidade nom tinha futuro nengum, que era mais umha ocorrência peregrina das habituais em Paco Vázquez e que o fracasso nom tardaria em chegar. Os que assim pensavam tinha razom a meias, porque com certeza era o capricho de Paco Vázquez o único sentido dessa feira taurina, e porque as cifras da feira taurina eram delatoras da praticamente nula demanda destes espetáculos na Corunha e do interesse também nulo que subscitavam. Isso, e as fotos de butacas vazias no Coliseo, além das constantes renúncias das empresas que assomiam a organizaçom da feira. Mas nom contavam nos seus juízos com que Paco Vázquez nem estava sozinho nem agia por livre iniciativa.

Que nos últimos anos resurgirom na Galiza os eventos taurinos, com a pretensa finalidade de atrair turismo, ainda que com a intencionalidade real de cultivar referentes identitários que no nosso país nom funcionam, é umha realidade que se pode comprovar facilmente: as festas de Sárria ou de Teixeiro som claros exemplos. A oligarquia galega tem-no claro, há que fazer da Galiza um território homologável em questons de ócio e cultura ao resto do território do estado espanhol. Sobram as peculiariedades e as diferenças. Galiza pode ser um destino turístico muito rendível, jogando um papel subalterno de outros destinos turísticos, ou seja, sendo um sucedáneo da Espanha mediterránica que procuram os turistas. Podemos oferecer-lhes praias, turismo monumental, mas olho, também há que oferecer paella, sangria, sevilhanas e naturalmente touradas. Nom lhes queçamos a cabeça aos turistas com isso de que culturalmente somos diferentes, que temos umha história própria e umha língua própria, essas som impertinências. Tenhem que poder achar aquí todos os tópicos que procuram da Espanha.

A isto há que somar que o lobbie taurino espanhol necessita resarcir-se da ferida de morte que lhes supom a prohibiçom das touradas na Catalunha e já anteriormente nas Ilhas Canárias, unido isto ao fechamento de praças em todo o território peninsular, porque com efeito essa festa tam ligada (ou isso dim) à identidade espanhola perde fol, perde adeptos e perde portanto viabilidade económica. O ultranacionalismo espanhol radicado na Galiza, anseia igualar Galiza com Espanha, confundí-la na homogeneidade espanhola e fazê-la menos galega, e aí é onde se encontram para fazer frente comum os interesses políticos de uns e os interesses económicos de outros.

Se no seu dia tivesse havido umha resposta contundente a aquela incipiente feira taurina da Corunha, agora a situaçom seria muito diferente...se à falta de resposta do público tivessem que somar no balanço a rejeiçom massiva (e ativa) do povo corunhês, ao melhor nom se continuava perseverando na teima de implantar as touradas na Corunha e na Galiza. Como os anti-taurinos estávamos divididos entre os que ano trás ano púnhamos o nosso empenho a nos manifestar ao pé do Coliseo encarando-nos com os “afeiçoados” e os que optavam por simplesmente ignorar o tema até que morresse sozinho, a cousa foi botando raíz.

Agora temos manifestaçons massivas e inquéritos que demostram o sentir maioritariamente contrário do povo corunhês ante a celebraçom de touradas na cidade herculina, mas temos umha pequena tradiçom criada (sustentada a duras penas, mas tradiçom) e uns governantes sem escrúpulos aos que a vontade popular nom lhes obriga, porque eles entendem que nom tenhem nem porquê escuitá-la.

Nós, temos que querer. E é o mesmo que sejamos maioria ou nom, que tenhamos argumentos daquela ou desta índole. O PP, a burguesia corunhesa, o lobbie taurino, todos os grupos de pressom reacionários da cidade já decidrom por nós. Temos que querer, e ainda que nom quixermos, nom vamos ser escuitados.

Numha cidade cheia de desemprego, mendicidade e gente sem teito, com bichas quilométricas nos comedores sociais, onde o associacionismo cultural e desportivo continua a sofrer os cortes orçamentares, onde os artistas locais procuram umha oportunidade a sério para mostrar o seu trabalho...temos que querer touradas, que é justo o que necessitamos (ou isso parece)

Há que manifestar-se sem excusas contra as touradas na Corunha, nom há que cessar na pressom, porque a vitória pode ser e será nossa. O que fica claro é que resulta inadmissível que este governo local continue a ter como prioridade política a celebraçom da feira taurina havendo tantas carências na cidade. Porque além disso, se a feira taurina nom se puido celebrar em Agosto e finalmente se vai celebrar em Outubro, é porque o governo autárquico corunhês ofereceu maiores facilidades à empresa oganizadora, assomindo maior parte dos gastos e maior parte dos compromissos organizativos. Com o que, à parte de estarmos a falar de imposiçom política, poderiamos também estar falando de corrupçom, ou como chamar se nom a essas injeçons arbitrárias de dinheiro a empresas de amigos a cámbio de assomir com risco mínimo a organizaçom de espectáculos economicamente ruinosos?

Ou assomimos que “temos que querer” ou deixamos claro que nom queremos.


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