Manchetes repetitivas de uma rotina de tragédias. Com clara distorção da realidade.
Em Gaza, onde até Obama reconhece ser impossível imaginar qualquer paz mais duradoura sem que seja suspenso o cruel bloqueio de fronteiras, exigência mínima para que o Hamas aceite o armistício, o “O Globo” [jornal brasileiro cm sede no Rio de Janeiro] tenta insinuar, no título e na abertura da matéria, que no seu próprio desenrolar se desmente ser dos palestinos a responsabilidade de uma possível retomada das hostilidades.
Na Argentina, o editorial de ontem, epílogo de uma longa campanha do jornal a favor dos "fundos abutres", é desmentido, hoje,
em artigo de José Paulo Kupfer, mostrando que o caráter atual do "calote" é consequência de políticas criminosas, adotadas durante a ditadura e durante o “neoliberalismo FHC” do governo Menem. E que nada tem a ver com as opções soberanas dos governos Kirchner.
Mas a solidariedade do “O Globo” com seu parceiro platino, “Clarín”, se sobrepõem ao critério da verdade. Kirchner ousou quebrar o megamonopólio televisivo e radiofônico do grupo editorial, e “O Globo” não quer ver o exemplo se reproduzir no Brasil, onde deita e rola, com o apoio, pusilânime, da publicidade do governo e das estatais, na campanha engajada pela volta dos tucanos ao poder.
Ainda no noticiário internacional, aí não mais por conta das distorções editoriais globais, mas da perversidade inerente à hegemonia do Departamento de Estado estadunidense sobre o planeta, duas informações básicas:
1- EUA pretendem corrigir tragédia consequente dos bombardeios na destruição do Iraque laico, progressista na região, a despeito da ditadura de Sadam Hussein, com novos bombardeios. Agora, sobre o que estiver no entorno dos jihadistas que passaram a controlar o país, incontrolável pelos sabujos que lá foram deixados pelos delegados de Bush, Cheney e Rumsfeld (os neocons explícitos que, hoje, vêm todas as suas canalhices sendo reproduzidas de forma dissimulada pelo "liberal" Obama).
2- O Tribunal de Haia, que não toma iniciativa nenhuma contrária aos interesses da Casa Branca, se nega a abrir processo contra o Judiciário norte-americano, a pedido do governo argentino, porque os EUA "não aceitam a sua jurisdição". Ou seja; por não aceitar a jurisdição, não pode ser réu de crimes que atentem contra outros países ou contra a humanidade. Têm mãos - e arsenal militar - livres, para operar onde bem entenderem. Resta saber por que tal direito não foi dado a Milosevic, o sérvio, que nunca aceitou o julgamento a que o submeteram depois de tentar resistir aos bombardeios que a OTAN, com patrocínio inglês e norte-americano, decidiram decompor, aí dando apoio aos separatistas, à Iugoslávia. Julgamento, aliás, a que nunca foram submetidos os líderes croatas - que apoiaram a invasão das tropas nazistas na segunda guerra mundial, e se colocaram ao lado da OTAN na operação contra a Iugoslávia.
A cada dia mais me convenço de que, com a atual prevalência de eixos referenciais do regime capitalista, mais nos aproximamos da entrega da humanidade à rotina da barbárie.
Revisão: Sturt Silva.