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António Santos

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O Fantasma de João Mau-Tempo

O futuro da luta armada na Europa

António Santos - Publicado: Sexta, 04 Julho 2014 17:47

O fim da actividade armada da ETA, em 2011, e da FNLC, no passado dia 25 de Junho, não corresponde a nenhuma "evolução" (na acepção alegre do termo) da estratégia revolucionária nem deve ser interpretada como a descoberta, pela esquerda, dos "direitos humanos".


Trata-se de uma cedência inteligente e necessária, mas em todo o caso uma cedência. As leis dialécticas da História não se condoem com os radicalismos dos que, como uma criança na feira popular, fazem birra quando é hora de calar as armas. Quando a bomba e a insurreição são contraproducentes para a revolução também são contra-revolucionárias. Aos comunistas cabe responder com pragmatismo à pergunta "qual é o meio mais eficaz de chegar ao socialismo?".

No entanto, a mesma dialéctica histórica deve obrigar-nos a acautelar o futuro e não apenas o presente. Só porque a luta armada não é hoje apropriada, nada nos garante que não venha a ser no futuro. Só porque não há, no presente, condições militares para a desenvolver, nada nos impede de as construir amanhã. Só porque hoje em dia a nossa estratégia seja pacífica, isso não compromete as classes dominantes com igual pacifismo na hora de, democraticamente, ceder o seu poder. A condenação abstracta da violência é um privilégio de quem não precisa dela para se defender. Tenhamos então cuidado: esse privilégio tem data de validade.

Quando se cita a frase de Clausewitz que diz que a guerra é a continuação da política por outros meios, nunca se presta atenção à palavra "continuação", mas é uma necessidade histórica que a continuação da luta de classes obrigue, num futuro longínquo ou próximo, à adopção de outros meios. Negar este facto é mais que anti-dialéctico, é hipócrita. Só há um tipo de político capaz de nos jurar que nunca pegará numa arma, por mais violento, injusto e assassino que seja o seu inimigo: o colaboracionista.

A irrupção do fascismo na Ucrânia veio demonstrar a validade e necessidade da luta armada. Lembremo-nos que nada nos garante que a Ucrânia de hoje não seja a Espanha, a França ou a Grécia de amanhã. Os trabalhadores não entram por vontade própria num combate sangrento e desigual com o capital. Como dizia Argala, "Ninguém gosta da luta armada, a luta armada é desagradável, é dura, por causa dela vai-se para a prisão, para o exílio, é-se torturado, por causa dela pode-se morrer. Vemo-nos obrigados a matar, endurece-nos, causa-nos dor, mas a luta armada é imprescindível para avançar".

Por isso não podemos, a qualquer preço, permitir uma falsificação da História que condene a experiência armada por princípio "humanista" ou "pacifista". Não podemos reproduzir a semântica dos nossos inimigos, criminalizando não só o nosso passado como o nosso futuro. Nem devemos prometer que nunca mais pegaremos em armas. Não é da nossa natureza não cumprir as nossas promessas.


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