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Ramiro Vidal

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A república do verbo

Roubou o comunismo a bandeira dos pobres a quem?

Ramiro Vidal - Publicado: Sexta, 04 Julho 2014 09:52

O comunismo etimologicamente nom fai falta que expliquemos o que é: é a defesa do comum, perante a defesa da propriedade privativa, reestrita ou individual como privilégio.


Ainda que quando escuitamos ou lemos a palavra “comunismo” automaticamente pensamos no comunismo de Marx, certo é que existem outras formas de comunismo, e por exemplo o movimento anarquista defende o “comunismo libertário”. Nom é o comunismo um invento de Marx, nem do movimento operário sequer, ainda que hoje por hoje quando se fala “dos comunistas” ou “das comunistas” fala-se daqueles e daquelas que temos o “Manifesto Comunista” de Marx como guia ideológica.

Quando o Papa Bergoglio di que “o comunismo lhe roubou ao cristianismo a bandeira das pessoas pobres” refere-se ao marxismo. Marx foi o grande crítico do capitalismo industrial, o primeiro em falar de exploraçom, de alienaçom, de maisvalor...o primeiro em lhe pôr nome às manifestaçons da injustiça dentro do sistema, o primeiro em despeçar todo o mecanismo para descrever as peças.

À partir de Marx, surgirom movimentos revolucionários que abalarom e transformarom o mundo. Desde a Primeira Internacional até agora, passando pola revoluçom russa ou a chinesa, a revoluçom cubana, os movimentos guerrilheiros no terceiro mundo, processos de libertaçom nacional...às vezes com movimentos cristaos como aliados, quase sempre com a hierarquia eclessiástica em contra. Isto nom converte a estes movimentos em pró ou ánti-cristaos, e nom seria certo afirmar que por exemplo a luita das milícias populares antifascistas na Guerra da Espanha (guerra na que a guerrilha executou bastantes cregos) fosse umha luita “contra o cristianismo” (ainda que os fascistas gostam muito de dizer isso) como também o Ejército de Liberación Nacional colombiano nom é católico porque o seu fundador seja um crego espanhol.

Mas som o cristianismo e o comunismo antagónicos? O comunismo nom é nem pretende ser antagónico ao cristianismo, ainda que muitos em nome do cristianismo pretenderom combater e repremer o comunismo. Desde logo que o Manifesto Comunista nom é ateu, e pensar que o comunismo por definiçom é umha “ideologia ateia” é manifestamente errado. O cristianismo de facto por genética poderia ter umha identificaçom além dos tempos com o comunismo toda vez que foi entre os escravos que começou a se espalhar. Foi brutalmente reprimido polo Império romano, de facto o seu principal profeta, Jesus Cristo, foi selvagemente torturado e executado na Palestina. Indo às origens, o cristianismo defende com efeito aos pobres e aos escravos e é anti-imperialista.

O dilema do cristianismo consigo próprio é quando passa de ser a fé perseguida polo império a ser a religiom oficial desse mesmo império. Quando o Papa de Roma é o novo emperador romano e os monarcas imperialistas genocidas europeus obtenhem as bençons do Vaticano nas suas campanhas expansionistas a cámbio de extender a fé. É assim como com a espada numha mao e a cruz na outra, a Espanha, Portugal, França...saquearom e exterminarom polos quatro pontos cardinais. É assim como se chegou a amparar e abençoar a genocidas como Mussolini, Franco, Salazar, Stroessner, Videla, Pinochet ou Trujillo. Ditadores que chegarom ao poder como alternativa ao caos, como defensores da fé perante a degradaçom moral e espiritoal, e como a soluçom frente a ameaça do comunismo.

O Vaticano deu as bençons a regimes de terror que exterminarom fisicamente a gente de esquerda e torturarom e assassinarom muitos comunistas. Sob qual bandeira? A bandeira que nunca lhe roubarám ao Vaticano é a do fascismo. Ao cristianismo se lhe roubarom algumha cousa, som as origens, e o responsável por esse roubo nom é outro que as hierarquias das suas igrejas, com destaque para a católica.

A igreja católica segurou-se com muita força aos regimes fascistas para garantir os seus privilégios no mundo católico, e para isso colaborou no assassinato, nom apenas de políticos artistas e inteletuais nom afeitos ao regime de turno; também e sobre tudo gente trabalhadora, pobre, que luitava por condiçons de vida mais dignas para os seus iguais. Quê melhor oportunidade de ganhar o direito de abandeirar aos pobres que pôr-se da sua parte? Nom o fixo...

Este Papa pretensamente revolucionário, mais do que reclamar-lhe a bandeira de nada a ninguém, deveria olhar, se é que realmente a sua chegada ao trono constitui um cámbio, a igreja que herda. Umha igreja que nom é dos pobres, porque nom é pobre nem austera; umha igreja que é cruel com parte dos seus fieis, porque os mantém numha opressom moral irresistível (mulheres, pessoas de da comunidade LGTB) umha igreja que utiliza a violência sexual contra a infáncia como mecanismo de repressom, e, sobre tudo, umha igreja cujas estruturas nom som democráticas, e isso é o que explica que as cousas cambiem no Vaticano tam pouco e tam timidamente. Porque se os fregueses e freguesas da Igreja Católica puidessem escolher aos seus dirigentes estes teriam que escuitar à sua comunidade de crentes, e esta reclamaria-lhes o final da condena para o aborto ou a homossexualidade, o final dos votos de castidade e celibato e também teriam muito que dizer sobre quê fazer com o ingente património da multinacional vaticana. Mais lhe valeria a Bergoglio cuidar de que nom haja deserçons no seu ravanho nos próximos anos.

Nós nom lhe roubamos bandeira nengumha a ninguém, nom temos em exclussiva a bandeira dos pobres...é que nós somos a gente pobre. Aquilo que a direita ideológica, sociológica, económica, mediática, tem por ícones da esquerda atual, mesmo como referentes do comunismo, é muitas vezes anedótico; o verdadeiramente relevante somos os e as militantes no anonimato, na discreçom. No nosso esforço, o nosso compromisso, o nosso sacrifício está a verdadeira força do movimento comunista...por brilhantes pensadores que tivermos e por carismáticos líderes que nos guiarem, se nom houver a conviçom sobre a verdade nas análises do Marx, o comunismo como corrente ideológica ainda temida nom seria possível. Somos a gente pobre. Falamos línguas diferentes, temos culturas diferentes, moramos em áreas geográficas muito diferentes, somos de muitas religions, nom somos de nengumha...somos a classe operária consciente.

Temos camaradas que professam o cristianismo, há na esquerda internacional referentes organizativos com componhente cristao innegável; o Movimento dos Sem Terra, a Frente Sandinista...eles e elas tomarom partido, o que nunca houvo é um Papa que reconhecesse a sua heroicidade e a sua entrega. Ao “revolucionário” Bergoglio todo o que lhe passa pola cabeça é dizer que “ao cristianismo” lhe roubarom umha bandeira, e que aos comunistas há que lhes dizer que erram pensando que som tal, que o que em realidade som é cristaos. Nom era a sobérbia um pecado capital?


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