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Diego Bernal

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Logo se aprende

Língua de futuro, língua universal

Diego Bernal - Publicado: Domingo, 25 Mai 2014 12:00

 

“Pega na cona e vai botando os polvos!” -berrou um marinheiro no porto de Ferrol.

 


 

- E tu que figeche? -perguntei.

- Caralho! Eu aguardei para ver o que acontecia!

Esta anedota contou-ma um militar aposentado na romaria que emigrantes galegos organizam anualmente em Alcalá de Henares. Naturalmente, desconhecia que pegar era sinónimo de colher ou apanhar bem antes de o cantor brasileiro Michel Teló popularizar a música “Ai se eu te pego”, cona e buceta eram embarcaçons tradicionais galegas antes de se tornarem vulgares metáforas dos órgaos genitais femininos e polvo, apesar da teima de algum político, é um vocábulo felizmente vivo nas falas do Morraço.  

Um professor de latim da Universidade da Corunha, natural de Goiám, confessa-me que na sua casa pavo sempre foi peru, polo frango, chícharos ervilhas e oxalá tomara.

Num vídeo feito pola associaçom cultural Gentalha do Pichel umha idosa da comarca de Compostela ainda lembra os dias da semana por feiras. Perguntada por que o povo trocou quinta-feira por jueves responde “porque era mais fino”.

Eduardo Maragoto, realizador de dous magníficos documentários sobre a cultura e as falas galego-portuguesas, Entre Línguas e Em companhia da morte, revela-me ao balcom de um bar que acaba de registar o termo chá na Galiza referido a ervas para fazer infusons.

Em Rairiz de Veiga, eu próprio descobrim a galeguidade de lingüiça e maluco, ambas com o mesmo uso e significado que tenhem no Rio de Janeiro ou São Paulo.  

Um axioma é umha afirmaçom evidente. Poderíamos aplicar um monte de axiomas ao nosso povo. Todo galego tem um parente que emigrou, poderia ser um. Todo galego tem umha história familiar sobre umha palavra rara, poderia ser outro. Às vezes a língua galega se parece com um quebra-cabeças. E se uníssemos todas essas palavras esquisitas ouvidas nas nossas aldeias, aos nossos avôs, como fichas de um quebra-cabeças?

Durante séculos acreditamos que o galego era umha língua rústica e inútil. Muitos dos nossos familiares, por praticidade,  trocárom-na pola castelhana, língua universal. Porém, o galego nom era umha língua local. É umha língua mundial, falada por mais de 250 milhons de pessoas, oficial em 8 estados, com presença nos 5 continentes e hoje estudada como língua estrangeira por milhares de pessoas em todo o planeta. É a língua da Copa do Mundo 2014 e das Olimpíadas de 2016.

Até agora o galego era visto como atraso e o castelhano como invasor. Por que nom olhar em positivo? Somos o único país do mundo onde som faladas as duas línguas romances mais universais. Onde o universo hispânico fica de mãos dadas à galáxia lusófona.

A ILP Paz Andrade, aprovada por unanimidade no parlamento, é umha magnífica iniciativa para tirar proveito da nossa condiçom de galegos. Talvez, de aqui a uns anos, as novas geraçons consigam juntar todas essas palavras raras que diziam os nossos avôs e repararám que o desenho do quebra-cabeças nom é umha bucólica palhoça dos Ancares senom um moderno globo do mundo.


 

Dedicado às doze pessoas que estám a ser perseguidas por defenderem a língua da Galiza dos ataques supremacistas de Galicia Bilingüe, grupelho que fomenta o ódio entre os galegos e galegas e defende a desapariçom dos direitos língüísticos da comunidade lusófona da Galiza e o empobrecimento cultural através da imposiçom do castelhano. Muita força camaradas! #8f45anos

Este texto foi apresentado ao concurso de artigos normalizadores da Cámara Municipal de Carvalho que finalmente ganhou José Casás.

 


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