Relacionado de umha maneira diretíssima com isto, está o debate sobre se nos devemos somar a essa corrente parece que crescente que reclama a III República Espanhola. Isto criou um cisma no nacionalismo galego e nom é umha questom para tomar a troça. Na maior cisom do BNG, tenhem agora um sério rebúmbio a conta desse tema; o facto é que Anova re-edita a sua aliança com Izquierda Unida e concorre sob as siglas de AGE às eleiçons europeias.
Eu queria clarificar umhas quantas cousas acerca do posicionamento da Esquerda Independentista sobre todo este barulho que cria tanta confusom e tanto dilema entre algumha da nossa gente. Algumhas ideias, colocadas em forma de pregunta, com a sua correspondente resposta.
Somos republican@s?
Se nos remetermos aos Estatutos de NÓS-Unidade Popular, a nossa organizaçom luita por “a consecuçom de umha República galega plenamente soberana, resultado de exercer o inalienável direito de autodeterminaçom, conquistando um Estado galego e construindo umha sociedade sem classes, sem opressons, sem exploraçons, sem injustiças, sem machismo nem patriarcado, monolíngüe e solidária, no caminho do Socialismo.” Com isto deveria ficar respondida a pergunta. Preferimos umha república a umha monarquia? Se o ideal republicano é a liberdade, a igualdade e a solidariedade entre os membros de umha comunidade política, com certeza que é sempre preferível a qualquer forma de estado cuja chefia descanse numha figura unipessoal nom eleita, colocada no seu posto em base a pretensos direitos de sangue. Naturalmente, isso nom significa que todo estado que se auto-proclame república mereça a nossa simpatia.
De facto o ideal republicano nom o criamos @s comunistas; em princípio o “republicanismo” moderno é umha das cisons do liberalismo; a forma de república, por seu turno, é inclusive mais antiga... a escravista e racista Atenas era também republicana e mesmo assemblear, claro que a política era cousa que atingia apenas aos cidadaos, os habitantes da polis de pleno direito. Além de que os que participavam na assembleia eram os pais de família, e nom a pluralidade da sociedade. Imigrantes e pessoal escravo, estavam excluíd@s da participaçom nessa vida política.
Umha república a dia de hoje pode ser a forma que adopte um estado para nada alicerçado nos princípios do socialismo, e de facto Alemanha, o sócio mais rico da UE, toda umha potência imperialista, é umha república... tamém o é a Suíça, Áustria, Itália, Grécia, Irlanda, Portugal... e nada tenhem a ver com a organizaçom sociopolítica que desejamos para o nosso país. Isto por nom falarmos nas repúblicas islámicas, reacionárias em todos os aspetos, com um forte peso do clero, com a religiom interferindo no ordenamento jurídico, na política, na vida social e cultural, etc.
Mas, em qualquer caso, somos republican@s na medida em que sim luitamos por um estado galego independente que adoptaria a forma de república.
É melhor III República espanhola do que estado bourbónico?
Umha monarquia nunca seria de preferência para nós, mas a III República espanhola, nem sabemos que caraterísticas teria. Nom existe nengum tipo de projecto de Constituçom dessa III República para afirmarmos que garantiria umha ordem social e económica mais justa. República é substituír a chefia do estado do Rei pola da Presidência da República. À partir daí... seguiria o ordenamento jurídico espanhol a blindar a economia de livre mercado como forma de organizaçom da economia? Continuariam a ser os direitos “informadores” dos poderes públicos papel molhado cujo cumprimento nom vincularia a nada nem a ninguém? Continuaria sendo o “castelhano” a língua para a que se reservasse preferência nas relaçons entre administraçom e administrad@s, prevaleceriam os direitos d@s falantes desta língua sobre os das pessoas falantes das demais línguas? Continuaria a ser a aconfissionalidade do estado um princípio em permanente contradiçom com essa cláusula que di que aquele deve ter relaçons com a igreja católica por ser esta religiom maioritária? E, sobre tudo, a nossa relaçom com essa III República qual seria?
Eu nom sobre-entenderia nada, dado que o movimento republicano espanhol é tam poliédrico, que nom creio que haja sobre isto o mais mínimo consenso. Quando um escuita membros da elite política e do establishment mediático espanhois a se pronunciarem pola república de umha maneira cada vez mais descarada, dá-se conta de que evidentemente há um interesse crecente em esferas bastante longíquas à nossa classe e ao nosso movimento em que a situaçom vire na Espanha.
Pensar que forças políticas como UPyD ou PSOE vam assinar por um estado que reconheça o direito de autodeterminaçom, é pensar em política-ficçom. Também é improvável que fossem apoiar umha viragem ao socialismo. Em qualquer caso pensarám na República como umha saída para salvar o projeto nacional espanhol, como se sabe em horas baixas. Aquele slogan carimbado por Maura (“fazer a revoluçom desde acima, para que nom no-la fagam desde embaixo”) essa é a questom... se Filipe de Bourbon nom funciona, viva a república.
Poucas esperanças pola minha parte em que essa III República venha da mao de um movimento revolucionário, a julgar polo panorama que apresenta a esquerda espanhola. Fragmentada e debilitada, desacreditada, perdeu a capacidade de liderar umha rebeliom popular. O mesmo poderiamos dizer do sindicalismo de classe, com pouca capacidade de mobilizaçom o que está disposto a mobilizar, e com as duas grandes centrais mais preocupadas de pactuar com governo e patronato (para nom perder o seu hoje ameaçado estátus no regime) que em trabalhar para que a classe trabalhadora se revolte contra as agressons que está a sofrer. E, polo que toca ao 15-M e similares, é evidente que nom som quem de plantejar alternativas coerentes.
Portanto, fiar a nossa sorte ao advenimento de umha III República espanhola é um exercício de fé arriscado de mais.
Porquê nom seguir os passos do galeguismo de 36, que foi leal à II República espanhola?
O galeguismo de 36 toma a decissom de ser leal à II República num contexto de auge dos fascismos, que som a resposta das oligarquias europeias à ascensom do movimento operário. Toma um posicionamento antifascista. A II República é umha democracia burguesa; foi proclamada trás as eleiçons autárquicas que se celebram no estado espanhol em 31, com umha clara vitória das forças de esquerda, o que dá lugar à saída cara o exílio do rei Alfonso XIII. Os episódios de aguçamento da luita de classes som os que fam a entrada em cena do fascismo espanhol, além do processo de descentralizaçom do estado espanhol, que é claramente umha conquista dos nacionalismos galego, basco e catalám...que de facto estavam também no alvo dos fascistas.
Nom é um cenário comparável com o atual. Agora nom se trata de defender um estado legítimo perante forças involucionistas: trata-se de optar por umha via revolucionária ou por fazer seguidismo da esquerda espanhola oficial, e cumpriria assinalar que essa mesma esquerda que agora tira do faiado as bandeiras republicanas, outrora condenou-nas à penumbra a cámbio de serem “legais” no regime bourbónico. Porque por muito que haja organizaçons verdadeiramente revolucionárias ou, quando menos, nom ligadas ao aparelho do estado espanhol, que avoguem pola República espanhola (com toda a legitimidade, naturalmente) a realidade é que é essa esquerda oficial de Izquierda Unida mais setores “radicalizados” de outras forças (burguesas e pró-regime atual) as que lideram a corrente republicana. Do que aconteza com a reforma do capitalismo espanhol e com a sucessom de Juan Carlos I, depende que haja a meio prazo III República ou nom, mas em nengum lado está escrito que vaia ser “federal” ou “socialista”.
Pola República Socialista Galega
O nosso horizonte, portanto, nom deve desviar-se do marcado nos estatutos; com efeito é um estado independente, entende-se que sob a forma de República, o que devemos luitar por conseguir, e em tal marco devemos avançar cara a construçom do socialismo e a destruçom do patriarcado...por este ordem e sem renunciar a nada.
Certa é a afirmaçom de que um Estado independente nom sempre é bem soberano e pom-se com freqüência o exemplo da República de Irlanda: Estado independente desde o ano 1922, ainda que com umha dependência económica muito forte a respeito do Reino Unido, dependência que condiciona altamente a sua independência política. Mas nom somos capazes de imaginar de quê outra maneira poderia materializar-se a nossa soberania política... termos instituçons políticas próprias, macanismos de participaçom próprios e poderes públicos próprios, só o imaginamos (no contexto planetário atual) tendo estado próprio; a participaçom noutras estruturas só poderia ser legítima do ponto de partida da independência.