O isolacionismo apresenta-nos na seguinte encruzilhada: somos língua única no mundo ou dialecto do português? Devo admitir que esta armadilha reducente me seduziu durante anos. Quem nom gosta de ser único e nom simples cópia?
Naturalmente o galego é umha língua. O que engana é a formulaçom da pergunta.
Retorcamos à galega: O galego é umha minoritária língua autonómica, confinada aos limites impostos artificialmente por Espanha, ou é língua internacional falada por mais de 200 milhons de pessoas em cinco continentes e conhecida mundialmente como português?
Defender o caminho da reintegraçom da nossa língua no seu natural ámbito cultural nom implica, nem muito menos, perdermos a nossa originalidade. Bem ao contrário, fai possível o seu reforço.
De umha perspectiva reabilitadora, as falas galegas tenhem umha vacina infalível contra o cancro da deturpaçom castelá: o português.
Candeeiro, berma, passeio, escorrega, caneta, brincos, grade, peúgas, torneira, palheta ou lareira som todo termos considerados lusismos ao serem aplicados a realidades modernas.
Todas som velhas palavras galegas que chafurdárom na lama e navegárom no mar.
No Brasil ou em Portugal do rural transitárom para o urbano de jeito natural.
As mudanças radicais que experimentou a estrutura sócio-económica galega fam que hoje seja léxico moribundo, comesto polo passar do tempo. Nomes exánimes, curiosos fósseis de museu.
Todas elas possuem umha força insuperável: som palavras criadas há séculos polo génio do povo galego e, aliás, usadas hoje na Ásia e África, na América e na Oceánia. Som palavras internacionais; presentes nos cinemas, quiosques, hospitais, grandes metrópoles, canais de televisom, internet ou videojogos; utilizadas no comércio e na indústria; oficiais na UE.
Porque nom as aplicamos à Galiza urbana?
A resposta é singela. Exprimiu-na Saramago na primeira entrevista galega que no ano 1990 lhe figérom Pedro Casteleiro e Antom Malde, dous espertos universitários de Compostela:
É claro que do ponto de vista do poder central espanhol, qualquer aproximação entre a Galiza e Portugal, mesmo no plano linguístico, no plano cultural e tudo isto, eu acho que é vista com maus olhos. Madrid não gostaria que por cima do rio Minho se lancem todas as pontes possíveis e imagináveis, e que a Galiza seja uma espécie de prolongamento natural de Portugal...
O reflectido polo prémio Nobel português é lógico. O chauvinismo espanhol nom suportaria que a Galiza desse as costas a Madrid e decidisse pesquisar nas suas raízes, ou o que é o mesmo, abrir-se ao mundo. Isto suporia o fracasso do seu projecto “nacional”, reaccionário e excludente, golpista e empobrecedor.
E assim nos querem a nós, aparvalhados fronte ao império, a fitarmos para algo de que nunca deixaremos de ser umha burda e ruim cópia.